Na noite de segunda-feira (31), data em que foram lembrados os 50 anos do golpe militar de 1964, um professor da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) decidiu defender a ação dos militares e ressaltar seu apoio à “revolução de 64” na sua aula. Em protesto, um grupo de estudantes ocupou a sala e interrompeu a fala do docente Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, que ensina direito administrativo.
Ao som da música “Opinião”, interpretada originalmente por Nara Leão, os alunos da universidade entraram no local cantando os versos “podem me prender, podem me bater que eu não mudo de opinião, que eu não mudo de opinião.”
De acordo com a estudante do segundo ano de direito Isabella Ferreira, 21, o objetivo do ato era impedir que o professor utilizasse a sala de aula para comemorar a “revolução”.
A aluna, que representa o coletivo Canto Geral, grupo de esquerda da faculdade que organizou o protesto, acrescenta que Gualazzi já havia avisado aos alunos sobre a aula comemorativa no dia 31 de março. “Ao saber disso, os alunos quiseram se organizar por achar um absurdo um professor deixar de dar aula para comemorar o golpe”, afirmou.
Sempre foi defensor
A estudante Junia Coelho Lemos, 23, é aluna da disciplina e afirmou que a posição do professor em relação ao golpe de 64 nunca foi segredo. “Ele sempre teve uma opinião forte. Uma semana antes ele havia dito que iria dar um depoimento sobre a ditadura. Ontem, ele começou a aula dizendo que iria falar sua opinião e que quem não quisesse ouvir poderia sair da sala. Ele ficou uns 15 minutos falando isso até que começou a ler um documento que havia escrito”, explicou a jovem que não tinha ideia do que iria presenciar.
Para não esquecer
Erica Meireles de Oliveira, 23, estudante do terceiro ano que participou da ocupação acredita que a intervenção foi importante para estimular a reflexão sobre o tema.”Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça. É bem isso. Os estudantes têm que tomar posicionamento sobre nossa história. Fico feliz de ter participado desse espaço e espero que fique na memória. É importante que as pessoas não esqueçam esse passado”, declarou.
Coincidentemente, a universidade inaugurou na mesma noite uma placa com os dizeres “Ditadura nunca mais: estado de direito sempre!”
“Fiquei muito emocionada com a atuação dos estudantes. Foi muito lindo ver os alunos defendendo a verdade, os direitos individuais e tudo que a ditadura representou ao contrário”, relatou a estudante Junia.
O UOL entrou em contato com a Faculdade de direito da USP, mas até o fechamento desse texto não obteve retorno.
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