Primeiro Encontro de Indígenas Jornalistas do Brasil reuniu profissionais de diversos biomas para fortalecer a representatividade e construir caminhos coletivos para o jornalismo indígena
A diretora da Flacso Brasil, Dra. Rita Potyguara, participou do Poranga Marandúa – Primeiro Encontro de Indígenas Jornalistas do Brasil, realizado em Brasília (DF) entre os dias 27 de abril e 1º de maio. O evento reuniu cerca de 30 indígenas jornalistas de diferentes biomas e estágios de formação, em um esforço coletivo para fortalecer a atuação da comunicação indígena no país.
Durante sua participação, Rita destacou a importância histórica da presença indígena nas universidades e celebrou os avanços na formação acadêmica dos povos originários. “É uma alegria imensa ver vocês aqui. Nós, que estamos na luta desde os primórdios, sempre batalhamos para que os povos indígenas tivessem acesso à educação superior”, afirmou. Emocionada, ela reforçou que a presença indígena no ensino superior representa não apenas uma conquista, mas também uma estratégia de fortalecimento comunitário.
A diretora da Flacso também ressaltou o papel fundamental das políticas públicas afirmativas, fruto da mobilização histórica do movimento indígena. “Essa luta foi construída tanto pela atuação política quanto pela inserção direta no setor educacional. O objetivo sempre foi garantir acesso, mas também ocupar esses espaços com consciência e compromisso”, explicou.
Rita abordou ainda os desafios enfrentados por indígenas nas universidades e em espaços de decisão, onde o preconceito e a desvalorização ainda persistem. “Dizem que estamos aqui por benefícios, sem reconhecer a nossa trajetória. Mas as ações afirmativas beneficiam toda a sociedade, pois ampliam a pluralidade de saberes e permitem o reconhecimento de outras formas de existir e preservar a vida”, defendeu.
Atualmente à frente da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) no Brasil, um organismo internacional que atua com 18 países da América Latina, além da China e Espanha como observadores, Rita compartilhou experiências de enfrentamento ao racismo institucional e à desconfiança sobre o conhecimento indígena. “Mesmo com dados reconhecidos mundialmente, como a contribuição dos povos indígenas na preservação ambiental, ainda há quem questione nossas vozes”, relatou.
Ao encerrar sua fala, Rita fez um apelo direto aos indígenas jornalistas presentes: “A comunicação é estratégica. É por meio dela que educamos a sociedade, combatemos o preconceito e mostramos que o Brasil é feito de muitos povos, muitas línguas e muitas histórias. Vocês, indígenas jornalistas, são fundamentais nesse processo.”
O Poranga Marandúa encerrou-se com debates, oficinas e a construção coletiva de documentos estratégicos, como o Manual de Redação do Jornalismo Indígena. As atividades foram conduzidas com escuta e diálogo permanente, respeitando a diversidade de povos, territórios e formas de comunicar. O encontro também marcou o fortalecimento da Abrinjor (Articulação Brasileira de Indígenas Jornalistas), que vem se consolidando na articulação nacional da comunicação indígena.
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