Comemorando 80 anos de existência em 2014, a USP (Universidade de São Paulo) faz esforço para superar a maior crise de sua história.
A instituição correu contra o tempo para viabilizar a retomada das atividades acadêmicas no segundo semestre. As aulas ficaram paralisadas mais de 116 dias em decorrência de uma greve de funcionários.
No primeiro semestre, 105% do orçamento mensal da instituição foi comprometido com a folha de pagamento. De janeiro a junho deste ano, a USP gastou R$ 2,27 bilhões com salários, benefícios e provisão de 13º e férias a seus servidores.
Os recursos repassados pelo Estado à universidade no mesmo período atingiram apenas R$ 2,15 bilhões.
Como a conta não fecha, ações para diminuir os gastos estão sendo anunciadas. Entre elas a transferência do HU (Hospital Universitário) e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, o Centrinho, de Bauru, para a Secretaria Estadual de Saúde, o que o governador Geraldo Alckmin disse não aceitar.
O Conselho Universitário da USP — órgão máximo da instituição — aprovou a criação de um PDV (Plano de Demissão Voluntária), que prevê a aposentadoria antecipada de cerca de 1.800 funcionários. Mesmo assim, o reajuste de 5,2% para professores e funcionários eleva a previsão da reitoria para o gasto de R$1,15 bilhão, além do que ela receberá de verbas até dezembro deste ano.
Outro problema sério é o gasto com benefícios, que aumentou 305% nos últimos cinco anos, segundo informações divulgadas pela Folha de S.Paulo. Em 2009, o auxílio–alimentação oferecido aos 23 mil servidores da universidade equivalia a R$ 400 mensais, entretanto, cinco anos depois, o valor chegou a R$ 690. O vale-alimentação, que era de R$ 15 ao dia, hoje equivale a R$ 29 ao dia, um aumento de 93%.
Outra medida para superar a crise financeira é a venda imóveis. O reitor disse que pretende arrecadar R$ 50 milhões com a venda de terrenos e salas comerciais, adquiridas na gestão anterior.
Rankings
Os sérios problemas de gestão não desbancaram a instituição do posto de melhor do Brasil e da América Latina, de acordo com o ranking da publicação britânica QS (Quacquarelli Symonds), divulgado no último dia 15, queelege as melhores universidades do mundo.
Na sua última edição do QS, a USP ficou entre as 150 melhores universidades do mundo, assumindo a 132ª posição — a universidade chegou a ocupar o 127º lugar em 2013. A USP caiu, mas é a única universidade brasileira no ranking das melhores instituições de ensino superior do mundo.
A liderança da instituição se mantém em outras listas. A USP é a única universidade brasileira no top 100 da THE (Times Higher Education), com cinco estrelas em 96 de seus 119 cursos avaliados pelo Guia do Estudante, e está em primeiro lugar no RUF (Ranking Universitário Folha), elaborado e divulgado pelo jornal Folha de São Paulo, no início do mês de setembro.
O que explica?
O R7 procurou especialistas para explicar quais as considerações para a elaboração dos rankings e os motivos pelos quais a USP continua entre as melhores instituições.
Segundo o professor de didática da Faculdade Ciências e Letras da Unesp – Universidade Estadual Paulista, Edson do Carmo Inforsato, os rankings universitários internacionais e nacionais fazem considerações diferentes.
— Nos rankings internacionais, as instituições de ensino superior são basicamente classificadas em termos da produção de pesquisas científicas e do seu nível de internacionalização, pensando no número de alunos que fazem intercâmbio, explica.
As listas estrangeiras também levam em conta o número de pesquisas de impacto realizadas pelas universidades e publicadas em revistas científicas. Além disso, o número de citações dos nomes dos pesquisadores da instituição em outros estudos também é relevante.
— As listas brasileiras envolvem parâmetros relacionados ao número de cursos da universidade, ao número de pessoas que ela forma todos os anos e a relação desse número com os ingressos no mercado de trabalho.
Segundo Inforsato, por ser a primeira e maior universidade criada no Brasil e a primeira instituição a oferecer cursos de pós-graduação no país, a USP “sempre foi a campeã em captar recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] e do ICMS (Imposto sobre Operações de Circulação de Mercadorias, Prestações de Serviços de Transporte de Comunicação)”.
Ao todo, a USP registra 26,7 mil pesquisas e 1,4 mil prêmios nacionais e internacionais, ganhos por professores.
— O Brasil hoje produz cerca de 15% das publicações científicas mundiais. Os estudos da USP abrangem mais da metade desse índice.
— Vale destacar que a Universidade de São Paulo arrecada cerca de 5% do total de quase 10% do ICMS repassados apenas para três estaduais paulistas – USP, Unesp e Unicamp.
Análise: USP precisa praticar e não apenas ensinar conceitos de gestão para sair da crise
Proporção e excelência
Dados de 2012 (os últimos divulgados pela reitoria) mostram que a universidade conta com 92 mil alunos matriculados em cursos de graduação, mestrado e doutorado, 16.800 mil funcionários técnico-administrativos e quase 6.000 mil docentes. A média é de um funcionário técnico para cada cinco alunos — proporção mantida em universidade de países desenvolvidos, segundo especialistas.
Para Carmem Lúcia Bragança, sócia da Diálogo Consultoria em Educação, o tamanho da universidade e a proporção de seu corpo docente com relação ao número de alunos são fatores fundamentais para a qualidade do ensino medida pelos rankings.
— Acho que a USP já esteve melhor com relação a isso. Hoje, existe na universidade salas com 100 alunos. É óbvio que essa proporção interfere no processo de ensino de aprendizagem.
Carmem analisa ainda que “apesar de todas as interferências políticas”, a USP consegue manter uma histórica tradição de pesquisa que é uma referência para o Brasil.
Ela ressalta como produção científica de ponta da universidade as áreas de biomedicina e ciências naturais.
— A USP se destaca em estudos sobre o genoma, por exemplo. Além disso, observo uma postura da universidade em prol da ampliação de recursos de comunicação digital, o que ajuda a manter boas iniciativas.
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