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O sotaque ainda está lá, mas o português das irmãs Smilanda, 7, e Néhemie Baptiste, 10, já é melhor que o dos pais, a ponto de “corrigi-los” de quando em quando.

Entre mais de 8.500 estrangeiros, as duas fazem parte do grupo em que proporcionalmente as matrículas mais cresceram em 2014 nas escolas paulistas: o dos haitianos.

Em 2013, eram apenas nove. No ano passado, chegaram a 68. E a expectativa é que esse número aumente ainda mais em 2015, reflexo do fluxo migratório dessa população para São Paulo nos últimos dois anos.

O Estado não tem estimativa de quantas crianças haitianas ainda estão fora da rede, mas acredita que os matriculados não representem a totalidade, diz João Freitas Silva, da Secretaria de Educação.

No começo de 2014, o fluxo desses estrangeiros para São Paulo se intensificou. Enviados pelo governo do Acre, a cidade chegou a receber mais de 2.000 em um mês, quase o mesmo que havia recebido entre 2011 e 2013. A situação causou desconforto entre os governos estaduais.

Os haitianos continuam a chegar a São Paulo, onde a primeira barreira é o idioma. Esse problema Smilanda e Néhemie devem conseguir evitar.

Quem as vê na escola não diz que estão matriculadas há apenas um ano. “Adoro”, responde Néhemie, a quem lhe pergunta sobre as aulas. “Não preciso mais que me expliquem o que estão dizendo.”

Bolivianos à frente, seguidos por japoneses, peruanos, paraguaios e argentinos, alunos de 95 países estudam em escolas paulistas. Em relação a 2013, esse grupo cresceu 12%.

Para matricular as crianças estrangeiras, os pais precisam apresentar o passaporte ou o Registro Nacional de Estrangeiros. “É um estímulo a se regularizarem”, diz Silva.

Quando chegam, a necessidade de adaptação rápida ao idioma é tão importante que não só as crianças frequentam as aulas. Em 83 escolas estaduais –24 delas na capital–, 7.062 pais e familiares de alunos também aprendem português aos finais de semana.

Pai de Smilanda e Néhemie, o marceneiro Esdras Baptiste sabe o que é não conseguir se comunicar em um país que ainda lhe é estranho. “Foi bem difícil, sem falar nada de português, não arrumava serviço nenhum.”

No Brasil desde 2012, foi o primeiro da família a chegar a São Paulo, “expulso” de seu país pelo caos após terremoto de 2010. Aqui, foi para a zona leste, onde pretende criar as filhas, que em alguns anos podem trocar o sotaque creole pelo bom “paulistanês”.