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Candidatos que guardam o sábado eram 90 mil em 2013 e 69 mil em 2014.
Número total de inscritos cresceu 21% no mesmo período.

O constante ritmo de crescimento no número de inscritos que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem registrado todos os anos contrasta com uma mudança entre a edição de 2013 e a de 2014. Enquanto nesse período a quantidade total de inscritos subiu 21%, o número de candidatos sabatistas (que farão as provas do sábado após o por-do-sol, por motivos religiosos) caiu 24%.

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Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 69.396 candidatos estão inscritos no Enem deste ano, que será nos dias 8 e 9 de novembro, como sabatistas.

Em 2013, este número era de 90.925 sabatistas. Em 2012, onúmero havia sido de 85.662, segundo dados divulgados antes das provas daquele ano (veja no gráfico ao lado).

Procurado pelo G1, o Inep afirmou que não tem uma análise sobre a alteração brusca no número de candidatos sabatistas inscritos no Enem, e que as regras para esses candidatos continuam iguais às da edição passada.

Neste ano, o Enem os candidatos sabatistas precisam chegar ao local de provas antes das 13h (horário de Brasília), como todos os demais estudantes inscritos. A diferença é que eles passam a tarde em uma sala sem acesso a materiais de leitura, por motivos de segurança, e só começam a fazer a prova após o pôr do sol.

Segundo o edital do Enem 2014, nos estados de Roraima, Rondônia, Amazonas e Acre, a prova do primeiro dia para os sabatistas começaram às 19h do horário local. Nos demais estados, ela tem início às 19h do horário de Brasília.

Isso acontece porque os chamados “guardadores de sábado” seguem à risca os ensinamentos da Bíblia no livro do Êxodo. O texto diz que, entre o por-do-sol da sexta-feira e o por-do-sol do sábado, as únicas atividades que devem ser feitas são as ligadas diretamente à adoração de Deus. Trabalho e outras tarefas para benefício próprio, portanto, não são realizadas por adventistas, judeus e seguidores de outras religiões que guardam o sábado.

O recorde de sabatistas no Enem do ano passado chegou a inspirar a criação de um abaixo-assinado pela internet, pedindo que as datas das provas do MEC fossem mudadas para domingo e segunda-feira, garantindo assim que guardadores de sábado não precisassem ficar confinados durante horas antes de poder fazer as primeiras provas. Mais de 38 mil pessoas tinham assinado a petição on-line até esta quinta-feira (16).

Trecho do edital do Enem que define as regras do horário de provas para sabatistas no dia 8 de novembro (Foto: Reprodução/Inep)

Prova de fé
Mas nem todos os sabatistas são favoráveis à mudança das datas. Para a adventista do sétimo dia Ísola Anjos Saggioro de Almeida, de 26 anos, fazer o sacrifício de guardar o sábado antes do Enem é uma prova de fé. “Depende muito da pessoa, algumas podem se sentir um pouco cansadas. Mas justamente por ter que aguardar, para nós é uma grande vitória, porque podemos dessa forma demonstrar a nossa fé e a comunhão com Deus”, disse ela, que é formada em direito com uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), mas pretende agora fazer faculdade de veterinária.

Ela é contrária à proposta de mudar a aplicação do Enem para o domingo e a segunda-feira seguinte por causa do efeito que isso vai ter nos demais candidatos. “Isso acabaria prejudicando todo o Brasil, porque tem pessoas que trabalham segunda-feira e não poderiam fazer a prova.”

Ísola explica como é o confinamento no Enem: “A partir das 13h nós ficamos na sala de aula. O que podemos fazer é levantar para ir ao banheiro com autorização. Não pode ler nada, ter celular, conversar. É como se já estivéssemos fazendo a prova. O mais cansativo mesmo é não poder ter contato um com o outro.”

A partir das 13h nós ficamos na sala de aula. O que podemos fazer é levantar para ir ao banheiro com autorização. Não pode ler nada, ter celular, conversar. É como se já estivéssemos fazendo a prova. O mais cansativo mesmo é não poder ter contato um com o outro”
Ísola de Almeida,
candidata do Enem 2014

No ano passado, a jovem de Barueri, na Grande São Paulo, fez a prova em uma sala com outros 40 sabatistas. Veterana no Enem, ela diz ter feito quase todas as provas nas últimas oito edições, com poucas exceções. Ísola conseguiu três vezes nota suficiente para garantir uma vaga no curso de veterinária em universidades federais pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), mas ainda não conseguiu deixar o emprego em um escritório de advocacia e mudar de estado para fazer o curso. Em São Paulo, segundo ela, não há vagas em cursos de veterinária pelo Sisu.

Neste ano, ela se inscreveu de novo, e espera ter um resultado parecido para conseguir seguir o sonho de ser veterinária.

A estudante de pedagogia Viviane Santos, de 28 anos, fez o Enem em 2013 e também faria as provas novamente, mas acabou perdendo o prazo de inscrição. Ela está no último ano da faculdade, mas agora deseja complementar sua formação com um curso de graduação em assistência social, ou uma pós-graduação.

Atualmente, Viviane é auxiliar de sala de aula em uma escola adventista em Registro (SP), e tem o sonho de um dia vir a ser professora. “Também quero trabalhar em horas vagas como assistente social, porque envolve crianças”, explicou a jovem, que também é adventista e precisou suportar o confinamento no primeiro dia de provas do Enem. “É muito cansativo para a gente”, disse.

A jovem defende que o Enem mude suas datas e aplique provas apenas no domingo. “Na verdade não estou favorecendo os adventistas, mas tem pessoas que trabalham no sábado e não conseguem fazer a prova no sábado, eles também têm que ter o direito de fazer”, explicou ela.

Atendimento específico e especial
Apesar da queda atípica, os sabatistas continuam sendo maioria nas solicitações de atendimento específico ao Inep. O número de candidatos surdos, por exemplo, subiu de 2.460 para 3.330. Já a quantidade de mulheres grávidas que estão inscritas nas provas do Ministério da Educação aumentou 34%, de 6.893 para 9.256.

Candidatos com deficiência (como os surdos ou cegos) ou em situações de necessidades especiais (como as grávidas e os idosos) têm o direito de fazer o Enem em condições diferenciadas. O Inep garante entre outros itens, acesso especial, carteiras com tamanhos diferentes, provas em braile, com fonte aumentada ou ajuda de um ledor ou intérprete da Língua Brasileira de Sinais e salas para mães lactantes poderem amamentar seus filhos.

Neste ano, o governo também garante, pela primeira vez, que candidatos e candidatas transexuais sejam tratados apenas pelo nome social, e não o nome civil ou de registro. Neste ano, 95 candidatos fizeram essa solicitação e deve, ter seu nome social impresso nos cadernos de prova e folhas de respostas, além de ser esse o nome usado pelos fiscais ao se dirigirem aos candidatos, segundo o Inep.

Outra categoria de candidatos do Enem que cresceu entre as edições de 2013 e de 2014 foi a de estudantes estrangeiros. No ano passado, 5.061 estudantes nascidos foram do Brasil participaram do exame, número que subiu para 6.155 na edição que será realizada no mês que vem.