Morador de Paraisópolis, a maior favela de São Paulo, o aluno da USP Douglas Ribeiro, 20 anos, teve um artigo aprovado em um evento na Alemanha. As malas só não estão prontas porque o estudante ainda não tem o dinheiro suficiente para a viagem.
Douglas é estudante do 5º período do curso de lazer e turismo e vai falar sobre o projeto “A compreensão de moradores de Heliópolis e Paraisópolis, em São Paulo – Brasil, sobre o que se denomina ‘turismo na favela'”. O artigo será apresentado em maio na “Destination Slum! 2.0”, na Universidade de Potsdam, em Brandemburgo.
Como a USP cortou os recursos para viagens (parte de um pacote de redução de gastos), o jeito foi tentar arrecadar o dinheiro através de uma “vaquinha” virtual. Até agora, o aluno ganhou as passagens, mas ainda precisa de R$ 2.640 para hospedagem, alimentação e locomoção dentro do país. Ele ficará 15 dias na Alemanha.
“Ainda não parei para pensar na possibilidade de não conseguir o dinheiro. Acredito que é possível. E, se não der, vou com a cara e a coragem mesmo”, diz Douglas, que é o primeiro da sua família a fazer um curso universitário.
O projeto foi desenvolvido com as professoras Juliana Pedreschi Rodrigues e Cynthia Harumy Watanabe Corrêa.
Além da pesquisa sobre a visão dos moradores sobre o turismo na favela, ele participa de um projeto da universidade sobre lazer e envelhecimento no Hospital das Clínicas e tem uma pesquisa sobre a relação entre empreendedorismo e negócios sociais para melhorar a qualidade de ensino em Paraisópolis.
Dedicação
Douglas fez o ensino fundamental em escolas públicas e foi bolsista integral no ensino médio na escola Pueri Domus. “Fiz uma seleção quando estava na 8ª série e consegui a bolsa. Foram anos bem diferentes, estudava em período integral e tinha professores muito presentes”, diz. “A gente tinha uma cobrança por nota, que não podia ser abaixo da média, ou perderíamos a vaga”.
Prestou o vestibular para lazer e turismo na USP Leste e começou a se envolver mais com projetos de empreendedorismo social e gestão de políticas públicas de lazer. “Eu escolhi esse curso porque existe uma grande segregação: quem tem dinheiro tem lazer, que não tem dinheiro não tem. E eu queria mudar isso”.
Inspirado pelos projetos de iniciação científica, Douglas já tem planos para quando terminar a faculdade: pretende fazer um concurso público e começar um mestrado na área de mudanças sociais e participação política.
Procurada pela reportagem, a USP não comentou o corte de orçamento.
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