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Tonico Benites é um dos principais nomes à frente da luta dos índios Guarani-Kaiowá, atuando como porta-voz dos povos indígenas. Desde criança, ouvia os mais velhos falando sobre um tal “antropólogo”, um não-índio capaz de valorizar e respeitar suas práticas culturais, sobretudo a crença, o modo de ser e viver dos índios. A curiosidade e a mobilização levaram o jovem a enveredar pela área e, no final de fevereiro, Tonico galgou mais um passo na sua caminhada acadêmica, iniciada em 2001. Ele conquistou o título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Formado em Pedagogia pela Universidade Federal da Grande Gramados, Tonico conta que o contato direto com profissionais da área e textos sobre Antropologia foram decisivos para sua escolha.

– Esses debates recorrentes sobre a valorização de diversidades culturais indígenas e dos não-indígenas do Brasil me incentivaram definitivamente a enveredar para o campo da Antropologia. Na condição de porta-voz, representante e tradutor da assembleia geral (Aty Guasu) dos povos Guarani e Kaiowá, considero que, a princípio, o resultado de minha investigação vai ajudar na compreensão da história das expulsões e a dispersão forçada de várias comunidades indígenas Guarani e Kaiowá de suas terras tradicionais ao longo do século XX – afirma.

A tese analisa, sob a ótica indígena, o processo de reocupação de terras tradicionais pelos indígenas Ava Guarani e Ava Kaiowá, no estado do Mato Grosso do Sul, ao longo das três últimas décadas, assim como os conflitos fundiários envolvendo indígenas e não-indígenas.

– A tese explicita que, ao longo das últimas três décadas, há evolução dos diferentes atores envolvidos neste processo da demarcação das terras indígenas. Busquei classificar os diferentes atores envolvidos, indicando a evolução das posições e ações dos fazendeiros, do governo e poder judiciário. Concluí que o processo da demarcação de terra indígena pode durar mais de três décadas. Essa demora da demarcação das terras indígenas gerou e gera ainda diversas violências contra os indígenas, promovidos pelos fazendeiros, colocando em risco iminente as vidas do povo Guarani e Kaiowá.

Em abril de 2012, durante pesquisa na região das aldeias Pirajuí-Paranhos, no Mato Grosso do Sul, Tonico e sua família foram ameaçados de morte por pistoleiros. Desde 2011, ele está incluído no programa de proteção aos promotores de Direitos Humanos, da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

A aprovação na banca deu incentivo para a publicação da tese. Além do livro, Tonico pretende seguir nas pesquisas e ingressar no Pós-Doutorado. Com o título, ele espera garantir mais espaços para debater a remarcação das terras indígenas e denunciar a situação em que vivem atualmente milhares de índios no Brasil.

De acordo com o levantamento feito por Tonico, o povo Guarani e Kaiowá tem hoje uma população de 46 mil pessoas, espalhadas por alguns estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e principalmente na região Centro-Oeste, no Mato Grosso do Sul.