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O Ministério da Educação pretende criar, até o ano que vem, uma rede universitária que contemple os conhecimentos produzidos pelos índios brasileiros. Assim como no projeto de educação a distância nas universidades federais, o Universidade Aberta do Brasil (UAB), os cursos de graduação e pós criados dentro da rede não pertencerão a uma instituição só. Eles farão parte de uma rede, que terá capacidade de atender mais interessados em todo o país.

“A proposta não é levar índio para a universidade simplesmente. É levar conhecimento indígena para as instituições que trabalham com a formação deles também”, afirma Rita Gomes do Nascimento, coordenadora geral de Educação EscolarIndígena, órgão ligado à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do MEC.

Segundo ela, as experiências isoladas de cursos voltados à valorização da vivência indígena já existentes serão ampliadas. Hoje, há 20 instituições públicas que oferecem cursos de licenciatura interculturais aos índios. São graduações que formam professores indígenas, considerando as especificidades do ensino e da vida na aldeia importantes no curso.

“Vamos pesquisar com mais profundidade as experiências internacionais também. Sabemos que países como a Bolívia e o México possuem universidades indígenas. Na Bolívia, há 22 cursos específicos em cinco universidades. No México, oito universidades oferecem 49 cursos. Há experiências também no Canadá e nos Estados Unidos. Queremos buscar experiências, mas encontrar o melhor formato para o nosso país”, afirma a coordenadora.

Rita ressalta que as necessidades e os conhecimentos produzidos pelos povos indígenas precisam estar mais presentes no ensino superior. “Há inúmeros cuidados que eles têm de preservação da natureza e construção de casas, por exemplo, que podem nos ensinar muita coisa. Temos tido uma relação desigual na construção desses saberes. Apenas uma vertente sobre o que é saber científico tem prevalecido”, critica.

Unir os conhecimentos das tribos e da academia será o objetivo dessa rede universitária. Os universitários vão aprender a gerenciar os territórios (seus problemas e suas vantagens) indígenas de acordo com as especificidades locais. Os cursos, no entanto, não serão exclusivos para alunos indígenas. “O objetivo é promover intercâmbio cultural”, comenta. Segundo Rita, as instituições que já recebem alunos indígenas se tornaram espaços mais democráticos.

Distantes

Pouco mais de 10 mil indígenas estão hoje matriculados no ensino superior, que possui mais de 7 milhões de estudantes. Na educação básica, há 258.882 matrículas de alunos indígenas que, espera-se, desejem chegar um dia à universidade. “O MEC passou a coordenar a política educacional desses povos na década de 1990. O investimento na educação básica foi grande, mas a situação ainda precária. Vamos fortalecer os programas”, conta.

No ano passado, o ministério lançou o Programa Nacional de Territórios Etnoeducacionais Indígenas para aperfeiçoar as políticas de educação para esses povos. Representantes das diferentes etnias, das instituições que já possuem cursos voltados para esse público e pesquisadores vão participar das reuniões do grupo criado para desenhar o modelo dessa rede universitária. A primeira reunião será na primeira quinzena de março.