Críticos avaliam que cursos são dominados por teorias de livre mercado que ignoram as crises financeiras.
Um grupo importante de economistas acadêmicos britânicos apoiaram protestos estudantis contra o ensino da economia neo-clássica. A adesão de professores aumentou a pressão sobre as melhores universidades do país pela reforma de cursos que, segundo críticos, são dominados por teorias de livre mercado que ignoram o impacto das crises financeiras.
Os acadêmicos de algumas das melhores instituições do Reino Unido, incluindo as universidades de Cambridge e de Leeds, disseram ao jornal britânico The Guardian, que os estudantes estão sendo enganados pelos cursos que frequentam, e acusaram organismos de financiamento do ensino superior de srem uma barreira para as reformas.
Em um ataque surpreendente às agências que oferecem ensino e bolsas de estudo, os acadêmicos disseram que uma “monocultura intelectual” é reforçada por um sistema de financiamento do estado com base em rankings de revistas “fortemente tendenciosos em favor da ortodoxia e contra a diversidade intelectual”.
Em uma carta enviada ao diário britânico, os acadêmicos informaram que “um compromisso intelectual dogmático” de ensinar teorias baseadas em consumidores racionais e trabalhadores com desejos ilimitados “contrasta fortemente com a abertura do ensino em outras ciências sociais, que rotineiramente apresentam paradigmas concorrentes”.
No documento, afirmam que “estudantes agora podem completar uma graduação em economia sem terem sido apresentados a teorias de [John Maynard] Keyes, [Karl] Marx e [Hyman Philip] Minsky, e sem terem aprendido sobre a Grande Depressão”.
Os ataques seguem protestos na universidade de Manchester. Lá, estudantes formaram a Sociedade Pós-Crise Econômica e disseram que os cursos apresentaram pouco material para explicar por que os economistas não conseguiram avisar sobre a crise financeira global e focaram fortemente em treinar estudantes para trabalharem no mercado financeiro.
Reforma
No início deste mês, um grupo internacional de economistas, apoiado pelo Institute for New Economic Thinking, com base em Nova York, nos Estados Unidos, se comprometeu a reformar o currículo de economia e oferece a universidades um curso alternativo.
Em uma conferência organizada pelo Tesouro Britânico em um de seus escritórios em Londres, eles estabeleceram o compromisso de ter um curso de primeiro ano pronto para aplicar no ano letivo 2014-2015, que vai incluir história econômica e uma gama ampla de teorias contraditórias.
O debate sobre o futuro do ensino econômico segue uma sequência de anos de discussões sobre o papel dos acadêmicos, especialmente nos Estados Unidos, em fornecer base intelectual para negociações antes da crise de 2008.
Os níveis de endividamento privado atingiram níveis recordes em muitos países e operações com derivativos “exóticos”, muitas vezes financiadas com instrumentos de dívida, subiram a um ponto em que alguns executivos entenderam que seriam expostos no caso de uma crise de crédito.
Os acadêmicos, liderados pelo professor Engelbert Stockhammer, da universidade de Kingston, disseram entender a frustração dos estudantes com os modo com que a economia é ensinada na maioria das instituições no Reino Unido.
“Existe uma comunidade vibrante de pluralidade econômica no Reino Unido e em outros lugares, mas esses acadêmicos estão sendo marginalizados pela profissão. As deficiências na forma como a economia é ensinada estão diretamente ligadas a uma monocultura intelectual, reforçada por um sistema de financiamento das universidades públicas (o Research Excellence Framework e, anteriormente, o Research Assessment Exercise), com base em rankings de revistas que são fortemente inclinados a favor da ortodoxia e contra a diversidade intelectual”, afirmaram os acadêmicos.
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