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São Paulo – Por muitos anos, era o professor Antonio Carbonari Netto quem aplicava as provas a seus alunos, nos cursos de Cálculo e Álgebra que ministrava em uma escola de Engenharia. Mas, há seis meses, é Carbonari quem se prepara para passar em um vestibular decisivo: ser membro do conselho do maior grupo educacional do mundo.

Fruto da fusão entre a Anhanguera, que fundou após 20 anos de carreira no magistério, e da Kroton, o novo grupo foi anunciado em abril e está em análise pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A autarquia, no entanto, considerou a união complexa e determinou a realização de análises adicionais sobre a operação.

Juntas, as duas companhias são avaliadas em 5,9 bilhões de dólares, algo como 12 bilhões de reais e poderão somar um milhão de alunos em mais de 2.000 cursos de graduação, mestrado e doutorado.

Autodidata em gerir grandes negócios, o professor Carbonari iniciou sua carreira lecionando matemática em cursinhos preparatórios para vestibular. Posteriormente, fez parte do corpo docente de uma escola de Engenharia, onde aprendeu a administrar um curso de graduação.

O seu sonho de criar uma universidade virou realidade e, atualmente, o Grupo Anhanguera Educacional possui cerca de 459.000 alunos em todo o país, com faturamento de 1,6 bilhões de reais.

Enquanto aguarda o resultado da prova final do Cade, a EXAME.com conversou, por e-mail, com o professor e perguntou sobre o futuro do grupo educacional e sua experiência como homem de negócios. Veja, a seguir:

EXAME.comO que é mais fácil: encarar 100 alunos em uma sala de aula, como no início de sua carreira, ou estar à frente de um dos maiores grupos de educação do país?
Carbonari: São dois desafios diferentes e de muita responsabilidade. Em sala de aula é necessário empenho pessoal com muita motivação e gosto para promover a aprendizagem de todo o grupo e não apenas alguns alunos, aqueles mais interessados.

Hoje em dia sou membro do Conselho de Administração, mas quando estava à frente do grupo, sempre acreditei que é algo que demanda preparo profissional. Ninguém pode chegar aonde o grupo chegou sem o auxílio de grandes colaboradores, de profissionais específicos e de competência, e, de forma importante, do grande apoio dos amigos, dos sócios e da família.

EXAME.comComo e quando surgiu o interesse em sair da sala de aula para ser o fundador de diversas delas?
Carbonari: Depois de 20 anos de trabalho como gestor educacional, numa universidade que começou com 3.000 alunos e tinha 18.000 quando a deixei, comecei a sonhar a criar uma nova organização, com novos projetos pedagógicos, inovadores, modernos e que tivesse a visão das necessidades do mercado empregador – e não apensas de cursos teóricos.

Então surgiu a ideia de criar mais cursos superiores enxutos, inovadores e que auxiliassem mais aos alunos no desenvolvimento dos seus projetos de vida, com modelos pedagógicos atualizados e voltados à formação profissional e empreendedora.

EXAME.comO senhor imaginou que a Anhanguera pudesse se tornar um grande grupo educacional?
Carbonari: Sim, um grande grupo, com missão bem definida e visão de futuro, com projetos pedagógicos inovadores e com vistas ao mercado empregador brasileiro. Desta maneira, outros grupos nacionais seguiram nosso exemplo e até alguns grupos internacionais viram a oportunidade de expandir a educação superior no Brasil.

EXAME.com: Qual foi sua maior lição de casa para se tornar um gestor de empresa? 
Carbonari: Estudar muito sobre estruturas organizacionais, educação comparada, gestão eficiente, contabilidade e finanças e, por fim, a grande lição: inovar com um bom propósito, a de inclusão social da grande maioria dos jovens trabalhadores brasileiros, que nas estruturas anteriores, não permitiam o grande acesso dos estudantes.

EXAME.com: Qual momento foi o mais importante para o senhor, dentro dos negócios de educação? 
Carbonari: Foi quando fiz um “road show” pela Europa e América do Norte mostrando que era possível que investidores acreditassem num projeto inovador de educação superior para um país emergente, que teria um grande futuro com uma grande inclusão social, via aquisição de ações na BM&F.

O sucesso foi tão grande que as compras das ações tiveram 13 candidatos por lote oferecido. Se compararmos, isso é como um vestibular que tenha 13 candidatos por vaga. O dia desse lançamento foi um dia muito feliz.

EXAME.com: Para quais pontos da Anhanguera o senhor daria nota 10? E quais pontos de seu grupo deixaria em recuperação? 
Carbonari: Nota 10 para o seu modelo acadêmico-pedagógico. Não seria uma questão de recuperação, mas consideramos ser importante mantermos o treinamento e a capacitação constantes dos novos professores para o uso das tecnologias em atividades na sala de aula.

EXAME.comQual foi a aquisição/fusão mais importante na história do grupo Anhanguera?
Carbonari: A UNIDERP, a Universidade Anhanguera de Campo Grande/MS, pois foi daí que veio todo o processo e plataforma da EAD – educação a distância, hoje um grande exemplo de qualidade e sucesso.

EXAME.comQuais as expectativas em relação à fusão da Anhanguera com a Kroton? 
Carbonari: A fusão está condicionada à avaliação pelo Cade e caso seja aprovada, as expectativas são muito boas. Depois de alguns anos de conversas, o negócio está prestes a firmar. As boas estruturas das duas, a soma das sinergias, a unificação de processos de aprendizagem, a governança corporativa integrada, levarão a nova organização à posição de maior do mundo em número de alunos incluídos socialmente.

EXAME.comQuais conselhos o senhor daria a um empreendedor iniciante?
Carbonari: Bom preparo, concisão das suas ideias/foco, coragem e visão de mercado. Um bom produto bem sonhado, não terá futuro algum se o mercado não comprar.

EXAME.comO senhor tem planos de entrar em outro ramo?
Carbonari: Sempre desenvolvi atividades nas áreas da construção civil, empreendimentos imobiliários e criação de cavalos. Espero poder continuar por aí, além das atividade de pensador eterno das inovações educacionais.