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Com a implementação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) nas universidades federais de todo o país, a migração de alunos para diferentes estados cresceu. Este, inclusive, era um efeito esperado e desejado pelo Ministério da Educação. Segundo levantamento feito pelo órgão sobre as matrículas feitas para este ano, mais de 15 mil alunos se matricularam em faculdades em unidades da federação diferentes das suas. A tendência é que para 2014 esse número aumente, já que todas as universidade federais aderiram ao programa. 
Com toda essa migração, é importante que as universidades estejam preparadas para receberem esses alunos. Daí a importância dos investimentos em assistência estudantil nas instituições federais. Segundo o coordenador-geral do Diretório Central do Estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Douglas Nobre, essa mudança no perfil dos alunos é clara. 
“Após a implantação do Sisu, a configuração dos estudantes dentro das universidades públicas mudou. Hoje é muito maior o número daqueles que migram para outro estado com o objetivo de se graduar em uma universidade pública federal. Na Rural não é diferente. Há um grande número de alunos de outros estados e de todas as regiões do país.” Segundo o coordenador, o Sisu, assim como outras medidas, democratizam o acesso ao ensino público. “Um outro número importante para a universidade Rural é que os estudantes oriundos de escolas públicas é maior do que os oriundos das escolas particulares. Esse dado evidencia uma democratização no acesso à universidade pública, porém faz com que a área da assistência estudantil tenha uma demanda muito maior”, diz.
Mas apesar de todo esse acesso, há casos em que este crescimento no número de estudantes pobres ou oriundo de outros estados não vem acompanhado, da forma necessária, de políticas de assistência estudantil. Segundo Douglas Nobre, quando um estudante de outro estado e de baixa renda chega na Rural, ele se depara com um sistema de assistência estudantil que pode ser falho. 
“Muitas vezes, ocorre de não conseguir vaga no alojamento, seja por falta de vaga, como ocorre no alojamento feminino, seja por ter perdido o prazo de inscrição, ou seja porque a universidade exige de todos os estudantes a comprovação de renda familiar, o que inclui o demonstrativo de pagamento dos pais. Porém muitos estudantes com idade um pouco mais avançada já não são mais dependentes de sua família, o que impossibilita a prestação da informação e consequentemente esse aluno perde o direito à vaga no alojamento ou à inscrição em outros programas de assistência estudantil”, destaca Douglas Nobre.
Dificuldades podem levaraluno a desistir do cursoSituações como estas, afirma o coordenador do DCE da Rural, podem ser obstáculos aos que vêm de longe para estudar na instituição. Ele afirma, inclusive, conhecer jovens que, após não conseguirem inscrição nos programas de assistência estudantil, por diversas razões, ficaram impossibilitados de continuar a graduação e foram obrigados a desistir.
Para um dos coordenadores do DCE da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Julio Anselmo, a política de assistência da instituição também apresenta falhas e precisa ser melhorada. “A UFRJ tem uma política deficitária, e por outro lado, o custo de vida e preço de aluguel no Rio de Janeiro são estratosféricos. Portanto, os estudantes de fora do Rio de Janeiro já encontram logo de cara o problema de moradia, é uma grande complicação.”
Segundo o estudante, na UFRJ, até são pagas bolsas de estudos, porém, o valor é insuficiente. “Existe uma bolsa, mas é muito básica. O valor de R$400 não é suficiente. Com o valor da bolsa não é possível garantir sua graduação. Portanto, a assistência é realmente muito deficitária”, comentou Julio Anselmo. 
Segundo o coordenador do DCE da UFRJ, o valor da bolsa deveria ser maior, pois não permite que o estudante possa dedicar-se somente às atividades acadêmicas de seu curso, o que seria o ideal para sua formação “O aluno tem que fazer pesquisa, estudar, trabalhar, e com isso o desempenho fica complicado. A universidade deveria dar melhores condições para os alunos terminarem suas graduações. A falta de incentivo a pesquisa é um problema grave”, ressaltou Julio Anselmo, que citou, inclusive, o resultado de uma pesquisa recente onde foi constatado que nenhuma instituição brasileira estava entre as 200 melhores do mundo, segundo ranking recentemente divulgado. Para ele, o quadro poderia ser diferente caso os estudantes tivessem mais incentivos para dedicarem-se à atividade científica. “No Brasil falta pesquisa, há pouco incentivo. Uma bolsa de mestrado hoje é de R$1.000, e na graduação de R$400. Não é possível se sustentar com esse dinheiro, é melhor procurar um emprego”, comenta. 
A alimentação é uma das principais dificuldades para quem estudar na UFRJ, segundo Julio Anselmo. “Temos uma bolsa pequena e os alunos que estudam fora do Campus do Fundão ainda precisam pagar por um alto valor na alimentação. Só existe bandejão dentro da cidade universitária da Ilha do Fundão. E uma das nossas brigas é para que isso seja expandido. O aluno que estuda em outros campi tem que ser virar com a bolsa pequena e ainda gasta quase R$300 só com comida.”