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Na mente dos interessados em fazer um intercâmbio para se aprimorar em uma língua ou ter experiência em uma universidade estrangeira, em geral, sempre aparecem como preferência países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Itália e Portugal. Até pouco tempo renegados, os países asiáticos começam a despontar como destino procurado por estudantes e profissionais. Em Pernambuco, uma parceria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com instituições do Japão e da China, por exemplo, deve aumentar ainda mais a procura pelos países localizados no outro lado do mundo.

O estudante Petrônio Barros Mesquita, 22 anos, chegou há três meses de Tóquio, capital japonesa. Através do programa Ciência Sem Fronteiras, ele decidiu sair do Recife para se aperfeiçoar e aprender mais sobre o seu curso, engenharia mecânica. Inicialmente, as preferências foram pelos países europeus. No entanto, após conversa com professores, surgiu a oportunidade de seguir para o Oriente, e o estudante não desperdiçou. “Foi perfeito. Posso dizer que não existe nenhuma cidade da Europa com tamanho nível de infraestrutura do Japão. Apesar da língua difícil, eu fui com a intenção de aprender mais sobre engenharia, e não o idioma em si. Recomendo o país para qualquer pessoa”, contou.

Durante os cinco meses que passou em Tóquio, Petrônio participou de pesquisas na área de materiais e fez estágio na Mitsubishi, uma das maiores do ramo automobilístico mundial. Apesar de não ganhar dinheiro – o visto dado pelo Consulado japonês não oferecia essa possibilidade -, o estudante de engenharia contou que a experiência foi muito válida, pois aprendeu na prática coisas que as universidades brasileiras não costumam abordar.

Esse aumento de troca de experiências entre o Brasil e países asiáticos muito se deve ao estreitamento de relações comerciais e culturais entre as nações. Em 2012, por exemplo, quatro estudantes de engenharia da UFPE foram até o Japão para um intercâmbio – neste ano, outros três já estão em processo de seleção para estudarem em escolas japonesas.

No último dia 6 de setembro, uma missão acadêmica da UFPE firmou acordos de cooperação internacional com instituições do Japão e da China. Durante a viagem da comitiva, o reitor Anísio Brasileiro visitou o Institute of Geographical Sciences and Natural Ressources Research (IGSNRR – Instituto de Ciências Geográficas e Pesquisa de Recursos Naturais), na China, onde firmou, para março do próximo ano, a realização de seminário sobre políticas nacionais na China e do Brasil e desenvolvimento regional. Na Universidade Nacional de Pequim, Brasileiro também conversou com o reitor chinês, para a criação de outros convênios.

Já na Universidade de Tóquio, no Japão, foi firmado um acordo de cooperação internacional com a UFPE. A instituição pernambucana ainda assinou acordo com a Universidade de Yokohama e visitou a Universidade de Osaka. Toda a programação teve a intenção de aproximar a UFPE da Ásia, para  aumentar a procura por intercâmbio e a possibilidade de programas de capacitação.

Outro país que costuma ser procurado pelos estudantes brasileiros é a Coreia de Sul. Isabel Amaral estuda Sistemas de Informação na UFPE e chegou a Seul, capital coreana, há menos de um mês para passar um ano na Korea University.  Apaixonada pela cultura asiática, a estudante sempre nutriu o desejo de morar em um país do continente e não deixou a oportunidade do Ciência Sem Fronteiras passar.  “Queria ver de perto como funciona a educação da Coreia e queria tirar proveito para aprender com os coreanos e levar  para o Brasil. Em termos de estudo, o meu interesse é na questão de a Coreia ser um país que está desenvolvendo coisas maravilhosas na minha área e a possibilidade de conseguir estagiar em grandes empresas”, comentou.

Isabel, durante o pouco tempo que está em Seul, já conseguiu aprender algumas palavras em coreano, que não considera tão difícil. Outra coisa que chamam a atenção são os costumes, como o respeito pelos mais velhos (mesmo que seja um mês de diferença) e a timidez. “Em termos de adaptação, em Seul é tudo muito bom. Praticamente tudo, em locais como metrô, restaurantes, lojas, placas de sinalização de trânsito, é escrito em coreano e inglês. Contudo, não é muito fácil fazer os coreanos falarem com estrangeiros. São bastante tímidos para falar em inglês”, apontou a estudante.

Na rota dos intercambistas
Além dos acordos com as universidades, a procura pelos países asiáticos também apresenta crescimento nas empresas que prestam serviços de intercâmbio. De acordo com Marina Motta, gerente de intercâmbio da Student Travel Bureau (STB) Recife e que acumula 11 intercâmbios no currículo, atualmente há a procura por cursos de idiomas, além de programas de estágio e de voluntariado. O perfil das pessoas que desejam morar por um período na Ásia é de um público mais jovem, que vem descobrindo a força dos países orientais. “Para se aventurar em um idioma mais difícil, como o chinês e o japonês, geralmente é um pessoal mais novo. Pessoas mais velhas em geral buscam idiomas mais próximos, como espanhol, italiano. Temos casos de intercambista que voltou dos Estados Unidos e já estudava japonês e procurou se aperfeiçoar. Outro que veio do Canadá e decidiu ir pra China. Todos com menos de 25 anos”, comentou.

Dentre as dificuldades que os intercambistas podem encontrar nos países asiáticos estão o choque cultural, o alfabeto com símbolos e a própria dificuldade de aprender uma língua totalmente distinta do português. “O idioma é muito difícil, eles têm sons muito anasalados, com fonética completamente distinta. Culturalmente, também é muito diferente, por isso nunca vendemos a hospedagem em casas de família, sempre é residência com outros estudantes”, destacou Marina. Apesar das notáveis diferenças, em cidades maiores, como Xangai, na China, e Tóquio, no Japão, costumes como a forma de se vestir e de se divertir se assemelham aos de outras grandes cidades do mundo, como Nova York, nos Estados Unidos, ou Londres, na Inglaterra, por exemplo.

Idioma
No Recife, também é recente o aumento da procura pelos cursos de línguas asiáticas, como o mandarim. No Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), por exemplo, empresários e jovens estudantes se encontram em sala de aula para aprender um pouco do idioma falado na China. “Há a procura de comerciantes que têm contato direto com os chineses, indústrias que também estão firmando parceria e de outras pessoas apenas interessadas em aprender”, comentou Mauriceia Oliveira, gerente da unidade de idiomas do Senac Recife.

Atualmente, o curso não está sendo realizado pela falta de profissionais especializados, já que a antiga professora se mudou para a China. No momento, novos profissionais estão sendo treinados para reiniciarem o curso em fevereiro de 2014. A lista de pessoas que demonstraram interesse e reservaram vagas já tem 15 nomes. “Para ensinar o mandarim, é preciso mais do que saber o idioma. A gente vai atrás de quem realmente sabe ensinar. As aulas precisam ser diferenciadas, porque você precisa entender a cultura para se relacionar com o chinês. Eles têm rituais, cerimônias, que precisam ser aprendidos”, finalizou Mauriceia.