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José Ricardo de Almeida, 39, já perdeu oportunidades de melhorar o salário. Eunice de Souza, 37, precisa da ajuda dos filhos para tomar o ônibus certo na rua. Em comum, os dois moradores de Serra Azul (302 km de São Paulo) têm o mesmo obstáculo: a baixa escolaridade.

Almeida cursou até a antiga 6ª série, quando abandonou a escola para ajudar a família na roça. Eunice não sabe ler. Como estudou apenas até a antiga 1ª série (do primário), só assina o nome.

Em uma das regiões mais ricas do Estado, 40 de 82 municípios da região de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) têm menos da metade dos adultos com o ensino fundamental completo, ou seja, que terminaram a antiga 8ª série (hoje 9º ano).

  Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress  

Os dados constam no Atlas de Desenvolvimento Humano, divulgado pela ONU.

Se considerado o Estado, onde 62,91% dos adultos completaram o ensino fundamental, o quadro se agrava: só Ribeirão, Franca, São Carlos e Araraquara estão acima da média de São Paulo.

E os jovens que ingressam no mercado de trabalho não possuem melhor formação do que os seus pais. Em 43 cidades, menos da metade dos que têm entre 18 e 20 anos concluiu o ensino médio.

As cidades com a escolaridade mais baixa são, em geral, menores e rurais, com população que atua nas lavouras de cana, laranja e café.

Em São José da Bela Vista (393 km de São Paulo), de 8.075 habitantes, seis em cada dez adultos não possuem a antiga 8ª série.

Se não estão no campo, os moradores viajam diariamente para trabalhar nas fábricas de calçados de Franca. A prefeita Célia Ferracioli (PTB) diz tentar em sua gestão atrair empresas e criar cursos.

  Edson Silva/Folhapress  
O pedreiro alagoano Márcio José da Silva, 33, em obra em Serra Azul (SP)
O pedreiro alagoano Márcio José da Silva, 33, em obra em Serra Azul (SP)

Em Serra Azul, as turmas para adultos que querem terminar os estudos começam, em média, com 30 ou 40 alunos, mas dez se formam.

A safra interfere na decisão de deixar a escola. “Eles trabalham o dia todo, estão cansados e desistem”, diz a diretora do departamento de educação Maria Cristina Ramos.

FAMÍLIA SEM INSTRUÇÃO

Os turnos da usina afastam da escola o operador de máquinas José Ricardo de Almeida, 35. No ano passado, chegou a se matricular em uma turma. “Mas tem dia que trabalho à noite. Em outros, de dia. Desisti.” Sua casa é o retrato da pouca instrução. Nenhum dos três irmãos chegou à 8ª série. A mãe e o padrasto, sequer à 4ª série.

  Edson Silva/Folhapress  
José Ricardo de Almeida, 39 (o segundo, em pé), com os irmãos e o padrasto na casa da família em Serra Azul (SP)
José Ricardo de Almeida, 39 (o segundo, em pé), com os irmãos e o padrasto na casa da família em Serra Azul (SP)

Na mesma cidade, o pedreiro Márcio José da Silva, 33, abandonou a escola na 4ª série. “Tentei voltar a estudar no ano passado, mas parei. Hoje a construção civil está de bom tamanho para mim.”