fbpx

Com o desenvolvimento de novas tecnologias, em especial na área da Comunicação, novas possibilidades surgem na busca por melhores condições para a aprendizagem. Por isso, o uso de diferentes recursos para incrementar o trabalho pedagógico tende a ser mais frequente, o que implica na necessidade de preparar, cada vez mais, os professores e profissionais de educação para atuarem frente a estes novos paradigmas.

E o avanço da educação a distância no país gera um cenário com possibilidades ainda maiores de diversificação das metodologias de ensino. Ao longo da última década, o ensino a distância saltou de cerca de 30 mil matrículas, no início dos anos 2000, para quase 1 milhão, em 2011. Este crescimento vertiginoso, porém, deu-se basicamente na educação superior. Ou seja, na educação básica, ainda há muito espaço para aplicação da metodologia não-presencial.

Mas, de que forma a educação a distância pode impactar no processo de ensino? Esta metodologia já vem promovendo mudanças na forma de os alunos aprenderem? Para a educadora Mary Rangel, que é doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), isto já vem acontecendo e a tendência é que este processo seja intensificado no curto e no médio prazos. 

Para ela, a principal transformação decorrente da utilização dos métodos a distância é o maior desenvolvimento, no aluno, de características como  autonomia, iniciativa e interesse em aprender. A educadora, que também possui pós-doutorado na área de Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), também acredita que o uso mais frequente dos métodos não presenciais mudará a atitude do professor no processo de ensino. 

“A mentalidade e a postura do professor mudarão no sentido de entender e valorizar possibilidades de ensinar à distância, assim como o maior reconhecimento da necessidade de que seu discurso, assim como a forma como abordam o conteúdo, possam favorecer a aprendizagem”, destaca Mary Rangel, que também é professora titular de Didática da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Nesta entrevista, a especialista fala sobre temas como erros cometidos pelas instituições que atuam no segmento não presencial, expansão da EAD, impacto das tecnologias no aprendizado de jovens e crianças, formação de professores e sobre o impacto social que a educação a distância pode ter. “A EAD, com bom equipamento audiovisual e tecnológico, favorecerá também o alcance de populações de regiões distantes dos centros urbanos, o que é especialmente relevante em países da dimensão geográfica do Brasil”, destacou Mary Rangel, que também é professora titular da área de Ensino-Aprendizagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e lançou, em parceria com Wendel Freire, os livros “Educação com Tecnologia” e “Ensino-Aprendizagem e Comunicação”, ambos pela editora Wak.  

FOLHA DIRIGIDA — A Educação a Distância cada vez mais cresce no país. O que ela tem mudado e, principalmente, o que pode mudar, no curto e médio prazos, na forma de os alunos aprenderem?
Mary Rangel — Sem dúvida, a educação a distância tem crescido nas atenções e nas práticas, assim como crescem os cursos que a adotam, especialmente no ensino superior, tanto na graduação, como na pós-graduação. O que tem mudado e o que pode mudar na forma como os alunos aprendem é a sua maior autonomia, iniciativa e interesse em aprender, sem estar, necessariamente, conduzidos, de forma presencial, pelos professores.

E a mentalidade e postura dos professores ao ensinar: o que mudará com a expansão que a EAD vem registrando nos últimos anos?
A mentalidade e a postura do professor mudarão no sentido de entender e valorizar possibilidades de ensinar à distância, assim como o maior reconhecimento da necessidade de que seu discurso, assim como a forma como abordam o conteúdo, possam favorecer a aprendizagem. Com esse interesse, a linguagem será acessível e os exemplos, esquemas e imagens serão recursos utilizados com mais frequência.

A seu ver, quais os erros mais comuns cometidos pelas instituições de ensino que atuam na área de educação a distância?
Apontar erros é algo também suscetível a enganos e generalizações equivocadas. O que se pode fazer em relação a instituições que utilizam a EAD é sugerir atenções especiais à consistência dos conteúdos e formas de ensinar e animar a aprendizagem, mantendo a qualidade pedagógica, social e formativa de seus cursos.

Nos últimos 10 anos, o número de alunos na educação a distância saltou de aproximadamente 30 mil para quase 1 milhão de estudantes. Esse crescimento tem ocorrido com a qualidade necessária?
A qualidade é pré-requisito de todos os cursos, sejam presenciais ou a distância. Avaliar a qualidade é direito e compromisso das instâncias responsáveis pelo sistema educacional, assim como das instituições que oferecem os cursos e devem, necessariamente, acompanhar e avaliar os seus efeitos na formação dos alunos e no seu acesso competente ao mercado de trabalho.

Qual a dimensão do impacto que a educação a distância pode trazer, do ponto de vista da inclusão social e educacional?
O impacto da EAD do ponto de vista de inclusão social e educacional é o do maior acesso aos cursos pela população que, por motivos diversos, encontra dificuldades em participar de cursos presenciais. A EAD, com bom equipamento audiovisual e tecnológico, favorecerá também o alcance de populações de regiões distantes dos centros urbanos, o que é especialmente relevante em países da dimensão geográfica do Brasil.

Nos últimos anos, o MEC tem intensificado a fiscalização e o monitoramento em torno das instituições de ensino superior que oferecem EAD. O Ministério age corretamente, ou deveria dar maior liberdade ao mercado? Por quê?
Como disse anteriormente, a fiscalização e o monitoramento das instâncias responsáveis pela qualidade dos cursos são procedimentos de sua competência e compromisso. Acredito que a avaliação da eficiência e eficácia dos cursos pelo MEC seja também um interesse das instituições, até mesmo com o propósito de obter sugestões ao seu aperfeiçoamento.

No segmento de EAD, um dos cursos que tiveram maior ampliação da oferta de vagas é o d
e formação de professores. Como a senhora vê esse crescimento? Investir na educação a distância para ampliar a oferta de vagas na formação de professores é mesmo o caminho adequado? Por quê?

A formação de professores, seja a inicial, ou a continuada, tem sido objeto de crescente consideração, tanto no ensino básico, como no ensino superior. Assim, investir na formação e utilizar a EAD como uma de suas alternativas são decisões que se adotam no interesse, não só de ampliar vagas, como de ampliar o acesso aos cursos. A adequação, ou não, depende da qualidade do processo e dos seus resultados, que merecem constante acompanhamento.

Na sua opinião, o uso da tecnologia vai mudar, de forma significativa, a maneira com que os estudantes podem aprender?
O uso da tecnologia já mudou, de forma significativa, a maneira como os estudantes (aqueles que têm acesso aos recursos tecnológicos) estão aprendendo e, cada vez mais, recorrendo a esses recursos. A internet, as redes sociais, assim como as bibliotecas, revistas e livros digitais, têm sido, crescentemente, utilizados na obtenção e atualização de informações, embora mereçam atenção quanto à sua qualidade e valores de formação.

Nos Estados Unidos, muitos já defenderam o fim do uso da escrita cursiva, em favor da digitação, por causa do uso do computador em larga escala. Como vê uma medida como esta? É uma adequação a um tempo que está prestes a chegar (há quem fale, inclusive, no fim do uso do papel) ou trata-se de um exagero?
Mais que um exagero, a proposta de eliminação do uso da escrita cursiva não leva em consideração problemas mais amplos, de solução complexa, a exemplo da significativa parcela da população que ainda não tem acesso a computadores e que não tem domínio de códigos específicos da linguagem e do manejo digital. Além desses problemas, não se pode desconsiderar o direito subjetivo à opção pela escrita cursiva.

O que é fundamental, na sua opinião, para que os recursos tecnológicos sejam, efetivamente, instrumentos de aprendizagem, em vez de formas “mais modernas” de praticar o mesmo fazer pedagógico?
Para que os recursos tecnológicos sejam, efetivamente, instrumentos de aprendizagem, o que se requer é a forma educativa de utilizá-los, ou seja, que seu uso sirva à leitura crítica dos conteúdos e a valores de formação. Os recursos tecnológicos não têm um fim em si mesmos; eles servem a propósitos pedagógicos, de formação humana para o convívio social, o trabalho, a ética, a vida cidadã.

Que mudanças deveriam ocorrer, na formação dos professores, para que eles saíssem mais preparados para lidar com ambientes de formação online? 
As mudanças na formação docente consideram, entre outros fatores, as mudanças na sociedade, especialmente as que decorrem dos processos e implicações da informatização e da globalização, com significativas repercussões nas práticas pedagógicas. Esses processos, implicações e práticas se constituem, então, como objetos de estudos e atualização de conhecimentos necessários aos professores em suas ações no ensino e na pesquisa, incluindo o domínio de Língua Estrangeira. Por isso propõe-se também, hoje, a formação do professor pesquisador, que não só pratique a pesquisa, como motive os alunos a pesquisar.

Um dos maiores desafios da educação nos dias de hoje é tornar o ensino mais interessante para os estudantes. O que é fundamental para as escolas, de maneira geral, alcançarem este objetivo?
A motivação dos estudantes sempre foi fator significativo de seu envolvimento com os conteúdos e atividades de ensino. Embora os recursos tecnológicos possam animar a dinamização das aulas, é no processo de aprendizagem que os alunos compreendem o valor do conhecimento e se sentem motivados a cada etapa da conquista do saber. Essa conquista tem uma influência expressiva na mobilização do interesse dos alunos e na motivação que as práticas de ensino podem lhes proporcionar.