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Português, História, Biologia. Essas, dentre outras, são disciplinas comuns no dia a dia dos estudantes. Mas, partindo da máxima de que escola é lugar para aprender, algumas instituições de ensino resolveram ir além do conteúdo tradicional, desenvolvendo atividades que estimulem, não apenas a parte acadêmica, mas, sobretudo, a formação cidadã.
Um projeto piloto de educação financeira foi implantado ao longo de dois anos em um grupo de instituições públicas de todo o país. Após o sucesso, avaliado pelo Banco Mundial (Bird), a iniciativa pode deixar de ser projeto para se tornar um programa adotado na rede pública como disciplina transversal.
A avaliação dos alunos apontou que 63% dos jovens que participaram do projeto pouparam, pelo menos, uma parte de sua renda, em comparação com 59% dos alunos que integram o grupo que não recebeu as aulas de educação financeira. Uma parcela maior de integrantes do grupo, 53%, também apresentaram maior intenção em poupar. Além disso, 16% passaram a fazer uma lista de despesa mensal.
Como decorrência da experiência, houve a instalação de um grupo de apoio pedagógico que, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), discute a elaboração de material pedagógico de educação financeira para os nove anos do ensino fundamental e também para o ensino médio. Com isso, o projeto poderá ser ampliado atendendo de 15 mil a 90 mil alunos, dependendo dos recursos para impressão dos livros.
A capacitação de professores qualificados a repassar conteúdos de educação financeira aos alunos é mais um tópico que precisa ser desenvolvido. O projeto envolve a participação de secretarias estaduais de educação responsáveis por designar coordenadores que supervisionem e acompanhem o projeto nas escolas. A tendência é que a Associação Brasileira de Educação Financeira (Abef) participe da capacitação dos envolvidos, através de atividades presenciais e a distância com foco no monitoramento e acompanhamento da implementação da Enef.
A pesquisa que testou a eficácia do projeto comprovou que o programa de educação financeira nas escolas aumentou o conhecimento, melhorou as atitudes e provocou mudanças no comportamento financeiro dos alunos. Os jovens, após as aulas, ficaram mais propensos a poupar e administrar suas despesas.
Com o propósito de ampliar o nível de educação financeira da população, o tema foi introduzido de forma transversal no currículo escolar dos jovens, incorporando 72 situações didáticas nas aulas de Matemática, Português, Ciências, Geografia, História, entre outras. Do projeto piloto participaram 891 escolas, sendo que 452 não receberem o material didático e não implementaram as aulas.
O projeto de lei tramita, desde 2009 no Congresso Nacional para incluir oficialmente a educação financeira no currículo escolar nos ensino fundamental e médio. Enquanto aguarda para entrar em pauta, o programa vem ganhando espaço na rede privada de educação.

Na infância, orientações para lidar com o dinheiro

Estimular o consumo consciente desde os primeiros anos de vida. Ensinar a poupar e a consumir somente o necessário. Essas são as principais propostas das atividades de Educação Financeira que fazem parte do projeto pedagógico do Colégio Pontinho, unidade do Colégio e Curso Pensi que oferece ensino fundamental I. Através de ações pedagógicas, os alunos aprendem a tomar decisões de consumo e investimento e a começar a planejar o futuro.
Segundo a diretora da unidade Recreio do Colégio Pontinho, Márcia Gioffi, foram o desperdício e desvalorização do dinheiro, muito acentuados ao longo do ano passado, o ponto de partida da proposta em incentivar o consumo consciente. “Temos como objetivo fazer com que nossos alunos desde pequenos saibam fazer escolhas sobre o que e quanto consumir; levá-los à análise do que é necessário ou supérfluo. Vemos alunos bem pequenos com celulares e equipamentos eletrônicos muito caros, sem que ainda não tenham noção de quanto custam”, diz.
A escola trabalha a noção de educação financeira com todas as turmas do ensino fundamental I. Não existe uma idade limite para aprender a controlar os gastos, desde que a maturidade das crianças seja respeitada através de atividades apropriadas a cada faixa etária, como esclarece a diretora. “Nosso trabalho não tem objetivo quantitativo, mas sim qualitativo. As atividades que fazemos são, na maioria práticas. Vão desde a leitura e análise de textos e reportagens, confecção de cartazes, debates, reciclagem, vídeos, até visitas guiadas a supermercados. As atividades teóricas se dão durante as aulas de Matemática, porém buscamos relacionar conteúdos tradicionais à Matemática Financeira”, explica.
As atividades acabam despertando o interesse dos alunos, que comparam preços, questionam valores dos produtos e aprendem a administrar melhor suas compras. De acordo com Márcia Gioffi, a melhor forma de envolver os pequenos é trabalhando a partir da vivência e cotidiano de cada um deles. “Criamos um projeto de consumismo que, por tantas vertentes, acabou se expandindo bastante e nos levando a permear por várias temáticas ligadas a este tema central. Não dá para abordar o consumismo sem passar pelo desperdício, economia, finanças, reaproveitamento, discriminação social e comparação entre ser e ter. O consumo está muito presente na vida dos jovens”.
O impacto que a inserção da educação financeira tem sobre as crianças e adolescentes refletirá, diretamente, em seu futuro. A disciplina, hoje ministrada em sala de aula, poderá arraigar um comportamento mais responsável e menos consumista nesses alunos.
Márcia Gioffi, que já aderiu às aulas de Educação Financeira no Pontinho Recreio, ressalta como a disciplina reflete positivamente em seus alunos. “Sabemos que o dinheiro é uma necessidade. Aquele  controlar suas finanças e impulsos, resistindo aos ‘apelos’, principalmente da mídia, saberá administrar melhor suas finanças na vida adulta. A educação será fundamental para a forma como estes jovens conduzirão seus recursos daqui pra frente. A escola não pode se omitir nesse aspecto.”


A maior das lições: ser feliz só com o necessário

Desde o início do ano, os professores do Pontinho Recreio estão trabalhando em projetos focados no consumo saudável, com o objetivo de mostrar às crianças que não é preciso comprar para ser feliz. Na
unidade, os trabalhos sobre consumismo ficam expostos em todo ambiente escolar.
Envolvendo todas as matérias, inclusive informática, o projeto de educação financeira é interdisciplinar. Até mesmo as avaliações regulares abordam o tema. Para a diretora Márcia Gioffi, é urgente fazer os pequenos repensarem o “gastar”. “Em uma sociedade onde o consumo é tão valorizado pelos meios de comunicação, passando a sensação que ser feliz é ser um gastador compulsivo, é preciso ensinar nossas crianças que não se deve comprar além do necessário”, ressalta.
Através de textos, desenhos, pesquisas e filosofia, os alunos do 3° ano do ensino fundamental desenvolveram trabalhos sobre seus desejos e necessidades salientando tudo que o dinheiro pode ou não comprar. Os projetos estão expostos nos murais da escola relembrando aos pequenos que ter não equivale a ser. A partir da pergunta “o que não tem preço para você?” as crianças escreveram e desenharam o que, para elas, um cartão de crédito não é capaz de comprar.
Ana Beatriz Freitas, de 7 anos, citou os momentos de alegria que vive quando brinca com sua prima. “Eu e minha prima brincando de Barbie, isso o dinheiro não compra”. Com 8 anos, Gabriela Caique representou o amor por seu mascote. Segundo ela, “um abraço no cachorro” não tem preço. O relacionamento familiar também foi lembrando, de forma lúdica, por Carolina de Paiva, de 8 anos. “Eu e minha mãe brincando de pique pega com meu pai”, disse a estudante, ao responder à pergunta do projeto.
Daniel de Assis, de 7 anos, não esqueceu da paixão de todo menino na hora de dizer o que o dinheiro não compra. “Uma partida de futebol com meu irmão”, citou o aluno. Gabriel Machado registrou em seu trabalho algo fundamental para ele: “a amizade é importante e não se compra”. Com 8 anos, João Pedro Abreu foi direto no mais sublime dos sentimentos. “O amor”, resumiu em sua resposta.