Quase metade das vagas de medicina oferecidas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) no primeiro semestre deste ano – que estão entre as mais cobiçadas do processo seletivo – foi ocupada por estudantes que não moravam no mesmo estado da instituição em que vão estudar. Levantamento feito pelo Ministério da Educação a pedido do G1mostra que, das 1.731 matrículas em cursos de medicina oferecidas pelo Sisu, 46,85% foram preenchidas por calouros de outros estados. Veja a tabela da mobilidade de medicina pelo Sisu
A migração provocada pelas vagas em medicina é mais que o triplo da mobilidade média registrada pelo governo federal na edição do primeiro semestre de 2013 do Sisu. Segundo os números do MEC, 13% dos matriculados em todas as 118.996 vagas já preenchidas no país são “forasteiros” nos estados em que vão fazer faculdade.
O Sisu usa as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar candidatos. As inscrições para a edição do 1º semestre de 2014 terminam às 23h59 desta segunda-feira (27).
Para os cursos de medicina em 2013 foram oferecidas vagas em universidades públicas de 19 estados, menos no Distrito Federal, Amapá, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe.
ESTADOS COM MAIS ‘FORASTEIROS’ APROVADOS EM MEDICINA PELO SISU EM 2013 | |
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UF | Calouros de fora |
Acre | 95% |
Amazonas | 95% |
Roraima | 83% |
Mato Grosso | 80% |
Paraná | 71% |
Pernambuco | 69% |
Mato Grosso do Sul | 62% |
Paraíba | 60% |
Rio Grande do Sul | 58% |
Bahia | 54% |
Tocantins | 50% |
Fonte: MEC |
Acre, Amazonas, Roraima, Mato Grosso e Paraná foram os que mais receberam calouros de medicina de outros estados, com mais de 70% de estudantes “forasteiros”. No total, em 11 estados os alunos locais são minoria entre as matrículas do curso (Veja na tabela ao lado).
Para especialistas, a alta mobilidade das vagas de medicina, em comparação com a média geral, é um fenômeno não muito diferente do que já acontecia antes nos vestibulares para carreiras muito disputadas, onde os estudantes com acesso aos melhores métodos de ensino costumavam ocupar a maioria das vagas.
Eles afirmam que, além de investimentos na melhoria das redes públicas de ensino, as políticas de ações afirmativas podem auxiliar no processo de democratização das vagas mais procuradas.
Paulistas ocupam mais vagas de fora
Assim como na média de todas as vagas, os paulistas também são os que mais conseguiram aprovações em vagas oferecidas longe de casa. Dos 811 universitários que mudaram de estado para fazer medicina, 211 (ou 26%) são de São Paulo. Um dos motivos para o “êxodo” de paulistas, segundo especialistas, é a baixa oferta de vagas.
PREENCHIMENTO DAS VAGAS DE MEDICINA NO SISU DO 1º SEMESTRE |
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Quem mais ofereceu vagas: |
Quem mais ocupou vagas: |
Fonte: MEC |
Entre as quatro instituições federais do estado que participam do Sisu, só a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) oferece vagas de medicina. Neste ano, 53 matrículas foram feitas. Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o curso é um dos sete que ainda não trocaram o vestibular pelo Sisu. A instituição já descartou a mudança para as vagas de medicina em 2014.
São Paulo é o segundo em número absoluto de aprovados na carreira pelo Sisu 2013, mas está apenas na 11ª colocação na lista de estados com o maior número de vagas oferecidas no sistema.
A três dias do fim das inscrições, segundo os balanços divulgados pelo MEC, os três estados que mais inscreveram candidatos no Enem 2013 são São Paulo, Minas Gerais e Ceará. Eles também são os três que mais aprovaram calouros em medicina. Juntos, eles respondem por 45% das vagas na carreira ocupadas neste semestre. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, atribui a predominância dos candidatos de alguns estados na concorrência pelas vagas de medicina ao resultado da meritocracia na qual o Sisu está baseado.
De acordo com o professor Tufi Machado Soares, que dá aulas de estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cursos como medicina e odontologia já eram ocupados em todo o país por uma minoria da elite, porque a concorrência tem sido historicamente alta. “Isso já acontecia normalmente, e a tendência com o Sisu é aumentar. São cursos que demandam muito do estudante, mas têm um grande retorno”, explica.
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