A realidade das escolas públicas do DF preocupa. Algumas chegam a passar a impressão de que necessitam ser demolidas e totalmente refeitas. E os problemas não são novos. Em 2011, relatório do Tribunal de Contas do DF reprovou 87% das escolas mantidas pelo GDF. O documento chamou a atenção para a falta de qualidade das instalações físicas dos centros educacionais. Dois anos depois, a reportagem do Jornal de Brasília percorreu alguns dos colégios apontados na época como os que mais necessitavam de reparos e manutenção, e o cenário encontrado foi desolador. Ontem, o JBr mostrou que a precariedade de algumas unidades contribui para a evasão escolar, que chegou a 31,2% no DF.
Em Planaltina, no CEF Juscelino Kubitscheck, avaliado como uma das escolas com piores instalações pelo TCDF, quem faz a manutenção da escola é a própria comunidade. “Posso afirmar que hoje a educação não tem o apoio do GDF para oferecer ensino de qualidade. Se algo foi feito aqui é porque nós nos mobilizamos”, destacou o diretor Nilson Carlos.
As salas de aula ainda são de madeira revestida com amianto, composição já retirada da maioria das escolas antigas. O material esquenta as classes e causa desconforto. Não há previsão de mudança. “O órgão não nos passa prazos. Estamos esperando que aconteça. Mas, até agora nada”, desabafou o diretor.
Em um terreno cedido à escola, docentes decidiram criar uma sala de reforço. Somente com a ajuda da comunidade e dinheiro dos próprios professores, a construção começou a ser feita. E é em um espaço de poucos metros quadrados que alunos estudam. A escada foi levantada pelo pai de um aluno. “Aqui é comum que os pais façam trabalhos de pedreiro e marceneiro”, disse o diretor do colégio.
A questão da acessibilidade é outro problema. Fundada há 22 anos, em um terreno curvo, a escola é repleta de escadas por toda parte, e as rampas são poucas. A quadra poliesportiva também pede socorro.
Em outra ponta do DF está a Escola Classe 7, em Ceilândia. Construída em 1974, a unidade é rodeada por pontos de tráfico. Segundo o supervisor Théo Oliveira, a área é delicada e nunca teve nenhum tipo de investimento do GDF, fora o metrô. “Este lado Oeste parece desprezado pelo Estado”, avaliou.
Dentro da escola, o cenário também é triste. Por medidas de segurança, grades enferrujadas cercam os alunos.São carteiras, paredes, banheiros e portas estragadas e pichadas. A quadra não possui cobertura, o que impede a utilização em dias de calor e seca.
A quadra de basquete não possui cestas. A pista de atletismo virou um amontoado de terra. A previsão de que a realidade mude é em setembro. “Haverá investimento de R$ 6 milhões para reforma da escola”, informou o supervisor.
Problemas de alunos e professores
Ainda em Ceilândia, outro centro de ensino, de número 25, não mostrou grandes mudanças nos últimos anos. A reportagem conseguiu ter acesso ao local, com autorização da direção. Porém, depois de alguns minutos de conversa e questionada sobre as paredes, tetos e portas quebradas, a coordenação impediu que a apuração seguisse adiante. O colégio não tem, inclusive, quadra esportiva. A justificativa é de que houve atraso na obra, que deveria ter sido iniciada em janeiro último.
Já no Centro de Ensino Fundamental 11 de Taguatinga, a situação é precária. O local, que nunca passou por uma reforma, conta com ambientes em estado de degradação. De acordo com o vice-diretor Ricardo Paes Pacheco, a verba disponibilizada pela Secretaria de Educação é destinada somente para pequenos ajustes. “A estrutura é a mesma desde 1966. Alguns ajustes vêm sendo feitos, mas não são suficientes”, declarou.
Segundo Paes, os problemas refletem diretamente no processo de aprendizagem. “A acústica, a iluminação e ventilação são péssimas”, destacou. Ele conta que o estado da escola ocasiona problemas aos professores. “Uma professora já sofreu um acidente vascular cerebral em sala de aula”, relatou. Outro problema relatado é a burocracia para usar as verbas do governo.
Dificuldade na Asa Norte
Para a vice-diretora da Escola Classe da 115 Norte, Lúcia Helena Carvalho, a falta de segurança da escola é uma das grandes preocupações. “Temos apenas uma grade, que é muita baixa e facilmente pode ser pulada. Temos muito medo disso”, afirmou. A falta de espaço também é uma dificuldade. “Não temos área de lazer. Por isso, durante o intervalo dividimos as turmas em três partes. Em função disso, alguns têm que ficar do lado de fora da escola. É claro que estão sempre acompanhados dos professores, mas o ideal é que tivessem um espaço aqui dentro”, declarou.
Outro ponto apontado é o estado da caixa d´água: “Sempre que fazem manutenção nos alertam que ela está balançando. Isso é perigoso. Já procuramos a secretaria, mas fomos informados que a verba não pode ser usada para este fim, por se tratar de um problema estrutural”.
Segundo ela, a escola tem uma preocupação especial com a marquise da entrada da escola. “ Achamos que ela está meio torta”, apontou a educadora.
Ministério Público
A promotora de Educação Márcia Pereira Rocha afirmou que os reparos simples, como pinturas das paredes, não resolvem o problema das escolas. “O DF ainda não conseguiu dar prioridade à educação”, disse.
Na tentativa de recuperar as escolas, foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com algumas regionais.
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