Especialistas em Educação divergem sobre a aplicação de medidas afirmativas no ensino superior.
SIM
“Em um país tão desigual como o Brasil, as cotas dão oportunidades a pessoas que não teriam acesso à vantagem social que representa completar o ensino superior (com impactos imediatos e futuros), sem que sua implementação signifique – contrariamente ao que previam alguns – um atentado fatal ao nível médio de conhecimento dos alunos. O hiato de desempenho entre não cotistas e cotistas tem se revelado sistematicamente inferior a 10%, às vezes muito próximo de zero, como mostra a pesquisa da Unifesp. Quanto à discussão de critérios e de porcentual de vagas, não tenho resposta pronta. Precisamos de mais estudos e debates para fazer a sintonia fina, mesmo porque não há forma puramente ‘científica’ de se determinar isto. É uma decisão democrática que a sociedade deverá tomar em cada momento do tempo. Se o ‘preço a pagar’ por mais inclusão social e por um futuro de mais igualdade de oportunidades é que não cotistas se formem com 6,26 e cotistas com 5,84, como no caso da Medicina da Unifesp, esse não me parece ser um preço alto.”
* FABIO WALTENBERG, PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)
NÃO
“O desempenho dos cotistas depende muito do curso. Em graduações como História e Filosofia, não existe diferença muito grande entre os alunos. O problema está nas áreas mais competitivas, como Medicina, nas quais o País tem de formar pessoal em alto nível. Veja a reação contra a ideia do governo federal de importar médicos de Cuba. No centro da discussão está a qualidade dos profissionais. Para mim, é possível olhar os números da Unifesp do seguinte ponto de vista: os cursos da Baixada Santista são mais fracos, então o cotista consegue acompanhar com mais facilidade, enquanto em São Paulo a situação se inverte. As graduações oferecidas na capital são mais exigentes. O governo precisa é fazer um esforço considerável para melhorar o ensino médio público, para dar mais condições de os alunos competirem por uma vaga em qualquer curso universitário. Conceder bônus no vestibular a estudantes da rede pública também me parece uma boa medida, ainda mais se vier acompanhada da criação de cursinhos preparatórios para os processos seletivos.”
* JOSÉ GOLDEMBERG, FÍSICO E EX-REITOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)
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