fbpx

Milhões de brasileiros devem participar, este ano, de mais uma edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A depender da carreira e instituição para a qual o participante queira utilizar a nota da prova nacional, a disputa pelas vagas pode ser bem próxima de alguns dos mais concorridos concursos públicos no país.
 
Muitas vezes, para um bom desempenho, só estudar muito não basta. Como se preparar pode ser tão decisivo quanto o tempo dedicado à assimilação dos conteúdos do programa. E as descobertas recentes sobre o funcionamento do cérebro trazem boas dicas para quem pretende se sair bem no Enem, em vestibulares ou mesmo em concursos públicos. Por exemplo, ao contrário do que, provavelmente, muitos jovens pensam, o número de horas de estudo não assegura se uma preparação é bem feita ou não. Segundo o psicólogo João Oliveira, estudar por horas seguidas não é eficiente. “Se o estudante fizer uma pausa de quinze minutos depois de, no máximo, duas horas de estudo contínuo e conseguir dormir um pouco, ele terá um rendimento muito maior. Isto já está provado!”, salientou o especialista, que também é mestre em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e autor, entre outros, do livro Ativando o cérebro para provas e concursos (editora WAK).
Nesta entrevista, João Oliveira apresenta desde práticas simples para melhorar o rendimento nos estudos, como fazer exercícios físicos, preparar um bom ambiente de estudo e, até mesmo, beber água, até técnicas pouco conhecidas dos vestibulandos, como a auto-hipnose. Ele recomenda cuidado com uma técnica muito usada por jovens “A memorização deve ser o último recurso, pois ela não é, exatamente, o melhor perfil para aquisição de conhecimento. Basicamente as técnicas mnemônicas são consideradas macetes (truques) que podemos fazer com a mente. Os resultados são impressionantes, no entanto, a validade, em termos de aprendizado, duvidosa.”


FOLHA DIRIGIDA 
— O senhor lançou o livro “Ativando o Cérebro para Provas e Concursos – 100 técnicas para melhorar seu desempenho”. Como funciona esta ativação do cérebro? Há, por exemplo, alguma região que, ao ser estimulada, permite assimilar de forma mais eficiente os conhecimentos?


João Oliveira — A memória de longa duração possui um trânsito já conhecido, mas sua localização, após processo de aquisição e distribuição, pode ter configurações no cérebro bem diferentes, tanto por conta do perfil do conteúdo, quanto pelo estado de espírito e a emoção residente no momento em que esta informação foi coletada pelos sentidos. Então não há uma área específica para ser estimulada – claro que o hipocampo é essencial neste processo – quando se trata de melhorar a capacitação. Trabalhar o cérebro como um todo e ofertar possibilidades para ampliação das capacidades cognitivas é o objetivo principal de nosso livro e treinamentos.

Há diferenças significativas de perfil entre candidatos a vestibulares e a concursos públicos. As técnicas, no entanto, valem para quem pretende fazer o vestibular? Por que?

As técnicas servem para tudo no que diz respeito à boa saúde mental. Algumas são direcionadas para conteúdos de textos ou fórmulas (Técnicas Mnemônicas), outras são focadas nas atitudes (Técnicas Comportamentais), algumas trabalham a potencialização da mente (Técnicas de Auto-hipnose) mas, o maior destaque é para a Neuróbica, exercícios para ampliar a capacidade mental, pois estes servem para qualquer atividade onde atenção e memória estejam envolvidas. Inclusive tem excelentes resultados para pessoas que, ao envelhecer, começam a apresentar problemas nestas áreas. Os exercícios de neuróbica são simples e podem ser incorporados ao dia a dia sem nenhum contratempo às funções normais.

Por que a questão emocional é tão decisiva para quem participa de um concurso ou de um vestibular, a ponto de derrubar mesmo aqueles que estudaram muito ao longo de um ano ou mais?

Para este ponto, específico, trabalhamos no livro e nos treinamentos tanto presenciais como EAD, as Técnicas Comportamentais. Ocorre que quando o sujeito estuda ele está em uma estrutura emocional, mas, quando está diante do exame/prova/concurso o sistema nervoso se altera e muda o delineamento do mapa mental. São outras substâncias químicas percorrendo o sistema e inibindo o acesso ao conteúdo estudado. Por isto, uma parte importante é saber como fazer a mesma configuração emocional durante o estudo e na hora da prova. Usamos para isto muitas técnicas neuroassociativas, fazendo ancoragens e condicionamentos, usando estímulos externos e a estrutura emocional.

As técnicas certas podem ajudar na conquista da vaga em um concurso ou vestibular, mesmo para aqueles que têm pouco tempo para a preparação (por exemplo, quem trabalha o dia inteiro e estuda à noite)? Por que?

 
O grande problema não é a quantidade de horas que pode se dedicar ao estudo e sim a qualidade deste tempo. Montamos dois perfis de agenda de estudos, um para quem tem todo o tempo disponível e outro para as pessoas que trabalham durante o dia. Para quem trabalha o ideal é reservar 3 horas por noite, de segunda a sexta, separadas em dois blocos de 90 minutos com quinze de descanso. Sábados divididos em quatro blocos de duas horas (dois de manhã e dois à tarde), mesmo intervalo e, no domingo, apenas duas horas: total por semana 25 horas de estudo! Já quem não trabalha, pelo nosso esquema de distribuição de tempo, pode chegar a 36 horas. O grande segredo é nunca ultrapassar duas horas seguidas de estudo.

O senhor recomenda que, caso não seja possível aplicar todas as orientações e dicas, que sejam colocadas em prática as que mais se aproximam do padrão preferencial de Sistema Sensorial Principal. Como identificar se uma estratégia para otimizar os estudos está adequada a este sistema sensorial principal?

Para isso temos um pequeno exercício no livro (e nos cursos) para facilitar a identificação do sistema sensorial preferencial. Não se trata de nenhum teste científico ou infalível, mas abre a possibilidade
de raciocino sobre o tema e, nada melhor que uma análise do próprio sujeito – dotado das informações de como se diferenciam os sistemas – para poder se enquadrar. Ciente das próprias aptidões (às vezes são múltiplas) ele pode passar a escolher as dinâmicas e estratégias onde obterá uma melhor performance. Desde o início do livro propomos que as pessoas façam as dicas, uma a uma, e testem os resultados. Só após isso devem passar para a próxima atividade. Desta forma é possível ir identificando as melhores dinâmicas para o seu perfil.

Uma das vertentes das técnicas que o senhor apresenta é dada pelas dicas comportamentais. Quais as principais orientações nesta linha?

São atitudes comportamentais tão simples que parece, a principio, que não farão diferença se incorporadas ao dia a dia. Como por exemplo: uma boa caminhada antes de começar a estudar – eleva níveis hormonais e melhora o fluxo sanguíneo no cérebro; Alimentação sem exageros e sempre estudar com uma garrafinha com água do lado para beber de 10 em 10 minutos, mesmo sem ter sede  estudos já comprovam que este método elimina boa parte do estresse e ajuda a reter conteúdo estudado; Sempre se sentar, para estudar, com as costas encostadas em alguma parede – o sistema de vigilância do corpo, contra ameaças físicas externas, relaxa e disponibiliza mais recursos internos que serão destinados ao foco de atenção ao estudo.

O senhor também fala em técnicas de memorização. Poderia nos apresentar algumas e os resultados possíveis de alcançar a partir delas?

Na verdade a memorização deve ser o último recurso, pois ela não é, exatamente, o melhor perfil para aquisição de conhecimento. Basicamente as técnicas mnemônicas são consideradas macetes (truques) que podemos fazer com a mente. Os resultados são impressionantes, no entanto, a validade, em termos de aprendizado, duvidosa. Existem várias mnemotécnicas – técnicas de memorização. Uma delas, a que liga um item estudado a uma imagem escolhida, é uma das melhores. Para isso basta usar uma camisa que tenha vários símbolos, ou pulseiras, brincos, enfim, acessórios que possam ser usados no dia da prova e que estejam com a pessoa no período de estudo. Ao estudar deve-se criar um link entre trechos do conteúdo e os itens.

O senhor também fala em dicas de Neuróbica. O que é isto e que importância ela tem na preparação para provas e concursos?

Neuróbica é para tudo! Provas e concursos consistem em apenas uma parte da vida, a neuróbica é algo que deve ser colocado em nossas vidas para sempre, afinal, ela deixa a mente afiada e pronta para ser usada em todos os aspectos do dia a dia. A única coisa que temos para interagir com o mundo é a nossa mente, e é dentro dela que a realidade acontece. Estarmos sempre atentos, com velocidade de processamento e memória ampliada mesmo com o avançar da idade, nos deixa mais preparados para qualquer obstáculo. No período de provas e concursos o candidato consegue ver a diferença em suas próprias capacidades e isto o torna mais confiante e com elevada autoestima.

O senhor também apresenta dicas de auto-hipnose. O que é auto-hipnose e de que forma pode ajudar na preparação?

 
O próprio candidato pode trabalhar estas técnicas ou é preciso o acompanhamento de um psicólogo? Auto-hipnose não necessita de acompanhamento, neste caso seria outro modelo de abordagem, a hipnose clínica terapêutica, esta é a que utilizamos em consultório todos os dias com nossos pacientes. Já a auto- hipnose possibilita elencar recursos internos e criar condicionamentos, ancoragens neuroassociativas realmente fortes, além de prover ao sujeito a possibilidade de montar seu cenário emocional. Lembramos que a maior derrota do candidato está em seu aspecto emocional na hora do exame/prova. Com a auto-hipnose ele pode se conduzir ao melhor perfil e administrar suas emoções para não dispersar o foco cognitivo na hora de solicitar o uso da memória de longa duração.

Outra dica dada pelo senhor é praticar alguma atividade física antes de estudar. Que tipo de atividade praticar? Por que?

Alguns pesquisadores na Itália descobriram que a prática de atividades físicas melhora o fluxo sanguíneo do cérebro. Segundo os estudos, pessoas com mais de 65 anos e que caminham 9 quilômetros por semana possuem menor chance de desenvolver demências. Estudantes que possuem uma rotina de exercícios também desenvolvem o cérebro com mais facilidade, pois, já está comprovado que a partir dos 25 anos de idade o hipocampo começa a perder volume: cerca de 1% ao ano, resultando assim no envelhecimento cerebral. No entanto, quando o indivíduo se exercita, consegue reverter a decadência física do seu cérebro, contando com mais agilidade para pensar e, com isso, melhora a performance das suas habilidades cognitivas.

Muitos estudantes ficam por quatro, cinco horas seguidas estudando, sem qualquer interrupção. O senhor defende que este não é um procedimento adequado. Por que? 

 
Onde estes candidatos erram e de que forma poderiam otimizar o tempo dedicado aos estudos? O hipocampo, onde e memória é processada, necessita de um período de tempo para a melhor distribuição do material. Na verdade o papel do hipocampo não está totalmente esclarecido, mas se o estudante fizer uma pausa de quinze minutos depois de, no máximo, duas horas de estudo contínuo e conseguir dormir um pouco, ele terá um rendimento muito maior. Isto já está provado! Aquele que “vira a noite” estudando e tomando café para se manter desperto está perdendo tempo de vida útil. Pouco se retém de uma maratona. Como já falamos anteriormente, não é a quantidade de tempo do estudo que dá resultados e sim a qualidade deste período. A regra é a cada uma hora e meia ou no máximo duas horas o estudante deve parar e fazer o possível para dormir por quinze minutos.

Nem todos passam na primeira tentativa, seja em um vestibular ou em um concurso público. Como lidar com o fracasso? Por exemplo, quem não passou no último Enem: como deve se estruturar para ter sucesso na próxima tentativa?
Não há fracasso! O que se estuda e aprende de fato está consolidado na memória, então, desta forma, ele estará mais preparado para o próximo desafio. Óbvio que dizer isto a um estudante que terá de esperar mais um ano para alcançar seus objetivos é quase uma agressão. No entanto, quem estuda para concursos, sabe que a bibliografia para as provas é sempre muito parecida (guardando as especificidades de cada profissão), então, quem já fez muitas provas e tem estudado nos últimos anos está cada vez mais preparado. Nossa proposta é dar recursos extras para um melhor aproveitamento das capacidades já existentes na pessoa e técnicas para fazer surgir as que ela acredita não dispor no momento. Nossa mente é capaz de façanhas incríveis. É uma pena que este computador fabuloso não veio com um manual de instruções.