A partir deste mês, os estudantes recebem um reajuste de 10% nos valores das bolsas, o que é considerado insuficiente pela maioria
Com valores mensais entre R$ 1 mil e R$ 4 mil, as bolsas de pós-graduação são, quase sempre, a única fonte de renda de muitos estudantes no País. Eles se dedicam exclusivamente às dissertações, teses, à publicação de artigos e a leituras. É com a bolsa também que pagam despesas como o aluguel e a alimentação. O valor, segundo bolsistas, é insuficiente para algumas localidades, ou dá apenas para pagar as contas. Para aqueles que deixam a família e se mudam para estudar, a bolsa é o que garante a fixação na localidade. A partir deste mês, os estudantes recebem um reajuste de 10% nos valores.
O reajuste das bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado ofertadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi anunciado em março. Os novos valores começam a ser pagos agora: a bolsa de mestrado passa de R$ 1.350 para R$ 1,5 mil, a de doutorado, de R$ 2 mil para R$ 2,2 mil e a de pós-doutorado de R$ 3,7 mil para R$ 4,1 mil.
“A bolsa é interessante porque legitima a nossa função como estudantes, nos dá um aval de pesquisadores”, diz o doutorando em literatura da Universidade de Brasília (UnB) Douglas Sousa. “Mas o valor é ainda mais interessante para aqueles que não são de Brasília (onde o custo de vida é alto), que moram em residência própria. Eles podem usar a bolsa apenas para manutenção do curso, gastam com lanches, livros e viagens para congressos. Para nós que somos de outros Estados, temos que pagar aluguel, alimentação, além de bancar nossa paticipação em eventos científicos, que é quase uma obrigatoriedade para pós-graduandos”.
Douglas veio de Socorro do Piauí, a 457 quilômetros da capital piauiense, Teresina. No Estado de origem fez graduação e mestrado. Para o doutorado, escolheu Brasília pelo intercâmbio cultural que teria: “Não precisa sair de Brasília para ter um pedacinho do mundo aqui”. Mas o preço é alto, apenas o aluguel consome 40% do que ganha.
“Eu posso dizer que não vivi Brasília culturalmente. Pesquiso dramaturgia e não tenho dinheiro suficiente para ir a várias apresentações”, diz o mestrando em literatuda da UnB Francisco Alves. Ele veio de Boa Vista, Roraima. Francisco conta que sempre viveu intensamente as universidades por onde passou, sendo monitor e participando de projetos de pesquisa. “Em Roraima, na graduação, minha mãe alugou um quarto para mim perto da universidade. Disse que pagava o aluguel e o resto, eu me virasse”.
Ambos estudam uma média de seis a oito horas por dia. A bolsa é uma ajuda para que se dediquem exclusivamente à pós. Na UnB, de um total de 7,6 mil alunos de pós-graduação, 4,5 mil, quase 60%, são brasileiros que não residiam no Distrito Federal.
“Temos muitos alunos que vêm de outros estados, alunos de classe média baixa que têm muita dificuldade em se fixar. A família sustenta na graduação, mas quando chega na pós, o estudante já é adulto e às vezes fica mais difícil para a família. Além disso, eles estão em uma fasa da vida em que começam a se casar, ou já são casados, têm família para sustentar e isso dificulta enormemente a vida acadêmica”, constata o decano de pesquisa e pós-graduação da universidade, Jaime Martins.
“O valor da bolsa melhorou um pouco, mas ainda não é suficiente para que os estudantes possam viver em boas condições e para se dediquem exclusivamente à pesquisa. Não se trata de uma visão romântica, é algo prático, para que o estudante possa ter mais tempo dedicado ao trabalho e fazer aquilo da melhor forma possível. Com dedicação, melhor será o trabalho, melhor a publicação e mais mérito acadêmico para o aluno e para a universidade”, diz o decano.
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