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Para socióloga, os jovens nas ruas não estão contra os partidos, só estão dizendo ‘que o que está aí não serve’

A rejeição à prática política mais conhecida, especialmente aquela ligada aos partidos, é tão forte entre alguns grupos de jovens, que eles renegam que estão fazendo política mesmo quando engajados em atividades claramente políticas. Essa foi uma das constatações dos pesquisadores que atuaram no projeto Juventude e a Experiência da Política no Contemporâneo, financiado pelo CNPq.

Para a socióloga Miriam Abramovay, da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais, a crescente rejeição aos partidos não equivale necessariamente à rejeição da atividade política. “Ao negar os partidos eles não estão dizendo que não precisam de representação ou do Congresso”, afirma a pesquisadora. “Estão dizendo que o que está aí não serve. Quando vão para a rua, estão aprendendo a fazer política. Mesmo quando negam isso.”

Miriam coordenou o estudo Quebrando Mitos: Juventude, Participação e Políticas, realizado em 2008. Por meio de entrevistas com 1.853 participantes da Conferência da Juventude, realizada em Brasília naquele ano, ela e um grupo de pesquisadores verificaram que as três organizações nas quais os jovens menos confiam, são, pela ordem: partidos políticos, Congresso Nacional e polícia.

Uma das informações mais surpreendentes do estudo é que 50% dos entrevistados declararam que são filiados a partidos. Isso significa que, mesmo quando engajados em organizações partidárias, os jovens estão descontentes com a estrutura hierarquizada e verticalizada que as caracteriza.

Coletivo. A verticalização é rejeitada pelas organizações de periferia analisadas na pesquisa Comunicação e Juventudes em Movimento, do Ibase. Segundo sua coordenadora, Marina Ribeiro, grupos de jovens como os de hip hop tendem a privilegiar a horizontalidade, do processo de tomada de decisões à ação.

Um dos focos de interesse do estudo do Ibase foi o uso de novas tecnologias pelos grupos de periferia, especialmente as redes sociais. “Encontramos jovens que, organizados em torno de questões sociais e políticas, usam as novas tecnologias para promover articulações, divulgar suas demandas e denúncias e, ao mesmo tempo, dar publicidade ao que fazem, criando eco na sociedade”, explica a socióloga.

Na avaliação dela, o resultado contraria o senso comum: “Acredita-se que jovens da periferia usam as lan houses apenas para sessões de bate-papo. Mas não foi isso que vimos. Entre jovens moradores de favelas, as redes têm ajudado na construção da identidade dos grupos e das comunidades.”/ R.A.