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Um dos sociólogos mais respeitados do Brasil, Emir Sader lançou, no dia 13/05, uma cuidadosa avaliação da década do governo do PT no executivo federal. Para ele, um governo que deu certo e que foi tratado de forma totalmente equivocada pela grande imprensa. Ele insiste na tese de que o modelo de privatizações defendido e consolidado pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso foi o maior escândalo de corrupção do País.

Em entrevista exclusiva ao Brasil 247, Sader diz que este é um “bom momento” para se fazer um balanço da gestão Lula e dos dois primeiros anos da presidente Dilma Rousseff. Ele avalia que os governos petistas deram certo por conta basicamente dos investimentos em políticas sociais. “É um processo que transformou tanto o Brasil e provavelmente vai continuar transformando”. Para o sociólogo, o julgamento do chamado “mensalão” não passou “de um espetáculo midiático”.

O lançamento do livro “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil”  aconteceu no Centro Cultural São Paulo e contou com a presença de Lula, de Emir Sader, da filósofa Marilena Chauí e do economista Marcio Pochmann. Os dois últimos têm textos publicados na coletânea de análises sobre o período, que traz também uma entrevista inédita com o ex-presidente. Na ocasião ocorreu um debate com Emir Sader, a socióloga Marilena Chauí e Márcio Pochman.

Leia abaixo, os principais trechos da conversa com Emir Sader:

Como foi feita a seleção de textos que estão no livro?
Emir Sader: Esse é um bom momento para se fazer um balanço do governo Lula, sobre governos que deram certo. É um processo que transformou tanto o Brasil e provavelmente vai continuar transformando, por isso necessita de reflexões sobre as transformações que foram feitas, por que foram feitas, por que não foram feitas. Os autores dos textos são pessoas que estão identificadas com esse processo, alguns com pontos de vista mais reflexivos, outros mais críticos mesmo.

Em que sentido essa entrevista inédita com o ex-presidente Lula se mostra mais reveladora? O que é mais surpreendente?
Ele está articulando agora uma visão mais global em relação ao governo. Não tem em particular nada que seja revelador, embora tenha aspectos muito importantes. Em geral ele está articulando sobre a transformação do que foi feito.

Qual sua avaliação sobre esses dez últimos anos de governo?
É um governo que deu certo, que tem se colocado como tema principal, priorizado políticas sociais, sempre passando por adaptações. O Brasil sempre foi conhecido como o país mais igual do continente mais desigual.

Em um trecho da entrevista, Lula diz que o melhor a se fazer, num certo momento do governo, era parar de ler jornal e assistir televisão. Você considera que foi uma decisão radical do ex-presidente?
Não, no momento foi importante. Tem gente que acaba sendo pautado pela mídia, acaba governando baseado na mídia. Se eles fossem representantes da maioria, ainda vá lá, mas eles são representantes da minoria. É um lobby privado.

Qual sua opinião sobre o tratamento que a imprensa deu ao governo Lula? E agora, ao governo Dilma?
É um tratamento equivocado. No começo, equivocaram as políticas que o Lula tinha implementado. Depois, acabaram tendo que se render a elas.

A presidente Dilma é uma sucessora à altura de Lula?
Como liderança popular é difícil, porque o Lula só tem páreo com Getúlio [Vargas]. Agora como estadista, governante, sim.

Como você vê a denúncia do chamado ‘mensalão’ e o julgamento no STF?
O que quer que tenham sido fatos concretos, eles foram superdimensionados. O maior caso de corrupção no Brasil não foi este, foram as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Claramente é uma manipulação. Se não fosse isso, não haveria esse show midiático que o Supremo Tribunal Federal promoveu. E que acabou enfraquecendo. O STF escolheu um calendário eleitoral, uma coisa absurda, que acabou tirando sua credibilidade.

O que significaria, a seu ver, a inclusão do ex-presidente na acusação?
Tudo manipulação midiática. Eu faço uma denúncia qualquer sem fundamento, chega à mídia e ganha eco. Qual é a credibilidade que o [empresário] Marcos Valério tem pra falar de denúncias que ele próprio está sendo condenado?

Qual a expectativa para 2014?
Acho que a Dilma tem possibilidades ótimas de ser reeleita. Enfrentar problemas estruturais que até agora não foram resolvidos. Tem que fortalecer a auto-suficiência alimentar, a pequena e média empresa no campo, democratizar os meios de comunicação e, como um quarto ponto eu destacaria a democratização do processo eleitoral. A via vai ter que ser essa mesma que o PT apoia, com um referendo final com a população, não só com os que foram eleitos.

Com informações do Portal Brasil 247

10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil

Título: 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil
Subtítulo: Lula e Dilma
Autor(a): Emir Sader (org.)
Prefácio: /Orelha: Maria Inês Nassif
Páginas: 384
Ano de publicação: 2013
ISBN: 978-85-7559-328-8
Preço: R$ 30,00

Como avaliar as enormes transformações pelas quais o Brasil passou ao longo da última década? O país foi palco de profundas mudanças desde que elegeu o Partido dos Trabalhadores. Compreender e refletir o seu legado tornou-se uma tarefa incontornável para pensar os rumos do País. Coeditado pela Boitempo e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais sede Brasil (Flacso Brasil), o e-book do livro estará disponível para download gratuito a partir da segunda quinzena de maio. 

10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil, coletânea organizada pelo sociólogo Emir Sader, contribui para essa difícil empreitada, com reflexões de alguns dos mais destacados pensadores brasileiros, como Marilena Chauí, Marco Aurélio Garcia, Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, José Luis Fiori, Luis Pinguelli Rosa e Paulo Vannuchi. 

Sader não hesita em expor as tensões em meio às quais se desenvolveu a política econômica do governo, da primeira à segunda – e atual – fase. O resultado é um panorama de 21 ensaios de intelectuais engajados e ativamente envolvidos na política da última década, que discorrem sobre como foram implementadas as políticas sociais – o cerne dos governos Lula e Dilma –, seus enfoques setoriais obrigatoriamente desiguais, seus sucessos e obstáculos até hoje ainda não superados. Além desse amplo espectro de reflexões, o livro conta com uma entrevista inédita com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada em fevereiro de 2013 especialmente para esta coletânea, na qual ele avalia a experiência de governo e faz um balanço das suas realizações e do que não foi possível fazer durante seus dois mandatos. “A intuição e o pragmatismo de Lula serviram de bússola nesse caminho, com situações às vezes surpreendentes e inesperadas, mas que fizeram com que se concluísse esse período com um balanço claramente positivo”, afirma o sociólogo. 

O livro é considerado porSader um instrumento de atualização da prática política e de reflexão necessária para a superação definitiva do neoliberalismo no Brasil. A rubrica “pós-neoliberal” visa dar conta da totalidade das políticas antineoliberais que emergiram no marco das grandes recessões que abalaram a América Latina no final do século XX. A perspectiva essencial é de que o esgotamento do modelo neoliberal não foi sucedido por um modelo alternativo que pudesse substituí-lo em escala global. “Vivemos e seguiremos vivendo ainda por um tempo prolongado um período turbulento, nos planos geopolítico e econômico-financeiro, de disputa hegemônica, em que um mundo velho insiste em sobreviver e um mundo novo encontra dificuldades para se afirmar”, avalia Sader no ensaio “A constituição da hegemonia pós-neoliberal”. 

A década que teve fim em 2002 combinou várias formas de retrocesso. Entre elas, a prioridade do ajuste fiscal, as correspondentes quebras da economia e as cartas de intenção do FMI, que desembocaram na profunda e prolongada recessão que o governo Lula herdou. Os caminhos pelos quais os governos Lula e Dilma trilharam e ainda trilham para enfrentar essa herança foram mais complexos e conflituosos do que se poderia esperar. No entanto, Maria Inês Nassif afirma no texto de orelha que, na última década, o Brasil percorreu tão rapidamente caminhos desconhecidos em sua história que ainda não se deu conta de que uma nova geração já perdeu a referência do passado. “O debate é fundamental para o futuro”, assinala. Para Nassif e Sader, o livro é uma proposta para o aprofundamento das discussões sobre os governos Lula e Dilma pela óptica progressista e pela perspectiva da continuidade. “São 10 anos que servem de pano de fundo para se pensar sobre a herança recebida, as transformações logradas e aquelas não realizadas, com suas razões e consequências, e as projeções do futuro brasileiro”, conclui Sader.

Trecho do livro

“Fragmentada, perpassada pelo individualismo competitivo, desprovida de um referencial social e econômico sólido e claro, a classe média tende a alimentar o imaginário da ordem e da segurança porque, em decorrência de sua fragmentação e de sua instabilidade, seu imaginário é povoado por um sonho e por um pesadelo: seu sonho é tornar-se parte da classe dominante; seu pesadelo é tornar-se proletária. Para que o sonho se realize e o pesadelo não se concretize, é preciso ordem e segurança. Isso torna a classe média ideologicamente conservadora e reacionária, e seu papel social e político é o de assegurar a hegemonia ideológica da classe dominante, fazendo com que essa ideologia, por intermédio da escola, da religião, dos meios de comunicação, se naturalize e se espalhe pelo todo da sociedade. É sob essa perspectiva que se pode dizer que a classe média é a formadora da opinião social e política conservadora e reacionária.”

– Marilena Chaui em “Uma nova classe trabalhadora”

Sumário

ENTREVISTA COM LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

O necessário, o possível e o impossível

Emir Sader e Pablo gentili

GEOPOLÍTICA

O Brasil e seu “entorno estratégico” na primeira década do século XXI

José Luís Fiori

POLÍTICA EXTERNA

Dez anos de política externa

Marco Aurélio Garcia

ECONOMIA

Dez anos de política econômica

Nelson Barbosa

POLÍTICA INDUSTRIAL

Os anos do povo

Luiz Gonzaga Belluzzo

DESENVOLVIMENTISMO

Dez anos depois…

Jorge Mattoso

CIDADANIA E CLASSES SOCIAL

Uma nova classe trabalhadora

Marilena Chaui

PÓS-NEOLIBERALISMO

A construção da hegemonia pós-neoliberal

Emir Sader

POLÍTICAS SOCIAIS

Políticas públicas e situação social na primeira década do século XXI

Marcio Pochmann

DESENVOLVIMENTISMO REGIONAL

Desenvolvimento regional brasileiro e políticas públicas federais no governo Lula

Tania Bacelar de Araujo

ENERGIA

Energia e o setor elétrico nos governos Lula e Dilma

Luiz Pinguelli Rosa

REFORMA AGRÁRIA

A reforma agrária que o governo Lula fez e a que pode ser feita

Bernardo Mançano Fernandes

COMUNICAÇÃO

Por que não se avança nas comunicações?

Venício A. de Lima

MEIO AMBIENTE

A política ambiental na década 2002-2012

Liszt Vieira e Renato Cader

SAÚDE

Saúde é desenvolvimento

Ana Maria Costa

EDUCAÇÃO

A procura da igualdade: dez anos de política educacional no Brasil

Pablo Gentili e Dalila Andrade Oliveira

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Uma década de avanço em ciência, tecnologia e inovação no Brasil

Sérgio Rezende

CULTURA

Cultura: políticas públicas e novas visibilidades

Glauber Piva

TRABALHO

Um olhar dos trabalhadores: um balanço positivo, uma disputa cotidiana e muitos desafios pela frente

Artur Henrique

POLÍTICA PARA AS MULHERES

10 anos de política para as mulheres: avanços e desafios

Eleonora Menicucci de Oliveira

DIREITOS HUMANOS

Direitos humanos e o fim do esquecimento

Paulo Vannuchi

Sobre os autores

Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente da República de 2003 a 2010. Ex-sindicalista, com papel de liderança nos protestos contra a ditadura militar, é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, do qual é presidente honorário.

José Luís Fiori é professor titular de economia política internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É autor de Poder global e a nova geopolítica as nações (2007) e Ontem, hoje e amanhã: tendências do sistema mundial (no prelo), ambos pela Boitempo.

Marco Aurélio Garcia é assessor especial de Política Externa da presidenta Dilma Rousseff, função que desempenhou nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva. É professor aposentado de História, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Nelson Barbosa é professor do Instituto de Economia da UFRJ e secretário executivo do Ministério da Fazenda.

Luiz Gonzaga Belluzzo é professor de Economia da Unicamp. Atuou como consultor pessoal de economia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Escreveu com Júlio Sérgio Gomes de Almeida, Depois da queda: a economia brasileira da dívida aos impasses do real (Civilização Brasileira, 2002).

Jorge Mattoso é economista e consultor. Foi presidente da Caixa Econômica Federal (2003-2006) e atua como secretário de finanças da Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo desde 2009.

Marilena Chaui é professora de Filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e autora, entre outros livros, de Iniciação à filosofia (Ática, 2012) e Cidadania cultural (Perseu Abramo, 2006).

Emir Sader foi secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). Organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana: enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (Boitempo, 2006).

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia da Unicamp. Pela Boitempo, publicou O emprego na globalização (2001), O emprego no desenvolvimento da nação (2008) e Nova classe média? (2012).

Tania Bacelar de Araujo é professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em desenvolvimento regional. É autora de Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências (Revan, 2000).

Luiz Pinguelli Rosa é diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (UFRJ). Membro da Academia Brasileira de Ciências, foi presidente da Eletrobras de 2003 a 2004.

Bernardo Mançano Fernandes é professor de Geografia na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente e coordenador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos da Reforma Agrária na mesma universidade.

Venício A. de Lima é professor de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), fundador e primeiro coordenador do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da mesma universidade.

Liszt Vieira é doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e professor da Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC- Rio).

Renato Cader é doutor em Ambiente e Sociedade pela Unicamp e docente da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Ana Maria Costa é médica sanitarista, doutora em Ciências da Saúde e presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).

Pablo Gentili é secretário executivo do Clacso, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil).

Dalila Andrade Oliveira é presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Sergio Machado Rezende é professor de Física da UFPE. Foi ministro da Ciência e Tecnologia no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. É autor de Materiais e dispositivos eletrônicos (Livraria da Física, 2004).

Glauber Piva é sociólogo e foi diretor da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Foi professor de Políticas Culturais, Corpo e Diversidade na Faculdade de Artes de Paraná.

Artur Henrique é sociólogo e ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). É conselheiro do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e diretor financeiro da Fundação Perseu Abramo na gestão 2012-2016.

Eleonora Menicucci de Oliveira é socióloga e ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres. É professora em Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Paulo Vannuchi é jornalista. Foi ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos de 2005 a 2010. Trabalhou na elaboração de Brasil nunca mais, coordenado por dom Paulo Evaristo Arns.

Renato Ferreira é advogado e professor de Direitos Humanos. Mestre em Políticas Públicas pela Uerj. Foi assessor da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República.