Em lançamento de livro sobre 10 anos do PT no poder, ex-presidente diz não poder contar tudo o que aconteceu em seu governo
O ex-presidente Lula lê livro intitulado “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma”. Foto: Michel Filho / O Globo
THIAGO HERDY
SÃO PAULO – O ex-presidente Lula disse nesta segunda-feira à noite que se considera um “divulgador” de seu governo, e não um lobista, por ser contratado e receber para dar palestras para representantes de empresas com interesse em negócios com o governo federal.
— Eu não sou lobista, não sou conferencista, não sou consultor. A única coisa que eu sou é um divulgador das coisas que eu fiz neste governo. E o pessoal talvez fique preocupado porque eu cobro caro e não digo quanto cobro — disse Lula, durante debate de lançamento do livro “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma”, em São Paulo.
— Se as pessoas pagam para ouvir um governante fracassado, têm que pagar mais para ouvir um bem-sucedido. Se quiserem saber quanto que eu cobro, me contratem. Na hora da assinatura, fica sabendo — completou o ex-presidente.
Lula chegou a anunciar que não falaria no debate com intelectuais mediado por Emir Sader, organizador do livro, mas mudou de ideia e falou por quase 40 minutos. Seu discurso foi marcado por críticas a parte da imprensa e sem menções à condenação de alguns de seus auxiliares pelo STF no julgamento do mensalão.
O petista disse ter decidido não escrever um livro sobre o seu governo, por entender que não poderia “contar tudo”.
— Nenhum presidente pode escrever um livro de verdade, porque não pode contar tudo o que aconteceu nas relações dele no mandato presidencial, as conversas com os chefes de Estado, as reuniões ministeriais. (…) Então, seria uma biografia meia-boca, daquelas (do estilo) “eu me amo”, só com virtude e sem defeito — afirmou.
O ex-presidente defendeu a ideia de apoiar um livro de balanço entrevistando diversos setores da sociedade, inclusive a oposição, e ironizou seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que depois de deixar o governo lançou “A arte da política: a história que vivi”.
— É melhor do que aquela biografia que ninguém vê, ninguém lê…eu acho que ninguém lê, sabe? Então, eu preferi fazer isso — alfinetou.
Cabo eleitoral 24 horas por dia
Para Lula, a maior parte dos problemas que viveu enquanto presidente foram resultado de uma suposta rejeição por parte da “elite política” e da “elite da imprensa brasileira” por causa do seu“sucesso”.
— Se eu fracassasse, eles falariam bem de mim: “coitadinho do operário, chegou lá mas não tem culpa, não tava preparado, não veio da nossa escola”. Quando começamos a ter sucesso, começaram a fugir da crítica política e ideológica para (fomentar) um ódio de classe, coisa que nunca alimentei. Eu tinha a consciência de que tinha sido eleito para governar para todo mundo — disse o ex-presidente, para quem o Palácio presidencial continuou sendo um lugar para “reis e rainhas, banqueiros e grandes empresários” com sua chegada ao poder, mas também de “índios, sem-tetos, favelados e moradores de rua”.
Para Lula, o grande legado de seu governo teria sido mostrar que “é possível governar sem odiar aqueles que o odiavam”. O petista disse ainda que participará ativamente das eleições de 2014:
— Pode ficar certo que eu vou estar participando das eleições, sou cabo eleitoral, estarei nas ruas 24 horas por dia — afirmou.
O ex-presidente terminou sua fala convidando os jovens a participarem da política e não deixarem de lutar por aquilo em que acreditam:
— O político ideal que você deseja, aquele cara sabido, probo, irretocável do ponto de vista do comportamento ético e moral, aquele político que a imprensa vende que existe, mas que não existe, quem sabe esteja dentro de vocês. Então, nos momentos mais difíceis, ao invés de vocês desistirem, assumam a política para vocês e mudem o que vocês quiserem — discursou.
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