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Confira entrevista de Miriam Abramovay, coordenadora da Área de Estudos e Políticas sobre a Juventude da Flacso, à RBS TV​. A socióloga falou sobre resultados da pesquisa “O Papel da Educação para Jovens Afetados pela Violência e Outros Riscos”, desenvolvida pela Flacso Brasil​ em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento​ (BID). 
Entrevista de Miriam Abramovay à RBS TV

A pesquisa realizada em 25 escolas de ensino médio da rede estadual, em áreas dominadas pelo tráfico, fez um raio-x dos principais problemas enfrentados por alunos e professores em Porto Alegre. O cenário de violência e brigas preocupa a comunidade escolar: segundo os dados da pesquisa, 40% dos alunos já foram agredidos no ambiente escolar. O levantamento foi realizado pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais, a partir das informações apontadas pelos próprios estudantes.

Estudos como este procuram mostrar os caminhos possíveis para mudar a realidade escolar. Na escola Rafaela Remião, por exemplo, a diretora Celia Regina Apolônio explica que, até o ano passado, a vida escolar era muito diferente no local. “Antes de começar o projeto, nós já deveríamos ter tido, nessa época do ano, mais ou menos, se eu não me engano, umas 12 brigas, brigas feias que eles traziam de fora para dentro da escola”, diz Celia.

O resultado já pode ser verificado nos corredores da escola. “Esse ano nós tivemos somente duas brigas que não foi preciso nem fazer nada, foi tudo contornado”, conta a diretora.

Segundo os pesquisadores, o que foi determinante para adotar medidas para melhorar o ambiente escolar foi ouvir o que os estudantes tinham a dizer, e entender o que eles queriam que melhorasse.

As sugestões dos próprios alunos foram incorporadas no dia a dia da escola. O ambiente ficou mais humanizado, e os talentos dos estudantes foram estimulados. Um deles fez um grafite para decorar a entrada da escola. Outro pintou um quadro nos corredores. A direção também contribuiu, para que as salas de aula ficassem mais bonitas e decoradas.

Da experiência, a diretora da escola Baltazar de Oliveira Garcia, Donis Grendene, que também participou do projeto, concluiu que o diálogo é fundamental para resolver as desavenças e tornar o ambiente mais seguro. “Neste projeto, os alunos tiveram vez e voz, eles pensaram, criavam, elaboraram, discutiam, me pediam mais espaços, pediam tempo, pediam material, então eles perceberam que eles também tem vez, tendo um objetivo bem definido e claro”, descreve a professora.

A violência nos locais onde as escolas estão inseridas também foi precebida pelos pesquisadores. Eles relatam que enfrentaram problemas durante a coleta de dados e nas visitas aos colégios. “Em áreas muito violentas, nós tivemos que ir embora várias vezes, quando estávamos fazendo entrevistas, porque tinha briga do tráfico com a polícia, e não foi só uma vez que isso aconteceu”, diz a coordenadora do programa Miriam Abramoway.

A pesquisa ainda demonstrou outro dado alarmante. Entre os estudantes, 79% afirmaram que se sentiram discriminados no ambiente escolar. “Eles se sentem discriminados pela classe social, seja porque são pobres, na forma de ser, de se vestir, de falar, tudo isso são fatores de discriminação. Se sentem discirminados quando são negros, gays ou lésbicas”, diz Miriam.

A Secretaria da Educação quer estender estender esse modelo em outras instituições de ensino da capital. “Nós temos 73 escolas de ensino médio em Porto Alegre. [O projeto] foi em 25 delas, mas nós sabemos que temos que ampliar isso”, diz a secretária-adjunta de Educação, Iara Wortman.