Em entrevista ao jornal O Globo, a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora do Programa Estudos e Políticas sobre a Juventude da Flacso Brasil, defende a necessidade de haver maior protagonismo dos estudantes. Na avaliação dela, as escolas são prejudicadas diante do hábito da sociedade de só consultar os adultos.
Por Paula Ferreira, O Globo
Qual é a sua opinião sobre haver mudanças no ensino médio?
Evidentemente tinha que ter uma reforma do ensino médio. Isso tinha que vir de todas as maneiras, porque o nosso ensino médio sempre foi antigo, com uma evasão muito forte, uma rejeição por parte dos alunos. Acho que a partir daí qualquer tipo de reforma é positiva, porque está adotando novas formas de lidar com a juventude.Qual é a sua opinião sobre haver mudanças no ensino médio?
Os jovens são levados em consideração na hora de pensar a etapa?
Nunca foram. Não só no ensino médio, mas para nada. Quando há algum problema na escola, as pessoas entrevistam os pais, os professores, sempre os adultos. Eles nunca são escutados. Nossa sociedade é centrada no que pensam os adultos. Esse é um dos grandes problemas da escola.
Na sua pesquisa, a senhora afirma que os jovens conseguem fazer críticas ao ensino médio, mas não conseguem idealizar um modelo. A que se deve isso?
Os estudantes não são estimulados a participar de nenhum processo na escola. Ela é voltada para si mesma. Verificamos que os alunos são bastante críticos à escola e, ao mesmo tempo, protegem muito os professores. Os estudantes não têm a cultura de participação, seja nos grêmios, nos conselhos. Então como aprender a participar? Isso não faz parte do currículo. Algum nível de poder nas escolas os jovens têm que ter.
Qual é a principal demanda dos estudantes do ensino médio?
Aprender. A principal questão deles é que querem ter mobilidade social, chegar a uma universidade, ou mesmo fazer curso técnico, e querem fazer isso com capital social, ou seja, de modo que a aprendizagem os prepare também para a vida. Eles têm muita expectativa sobre a escola, porque, se não tivessem, não ficariam nela. Eles querem um professor que ensine e tenha uma relação aberta com eles. Permanecem na escola quando têm um bom professor.
A Base apresentada dialoga com o desejo dos jovens?
O sucesso da Base vai depender de cada professor e também do gestor da escola. E isso é muito difícil de ser feito com a formação que os professores têm. Eles vêm de uma formação tradicional, com muitos problemas. Podem saber o conteúdo, mas como tornar as aulas palatáveis? Como incorporar conteúdos interessantes? É um grande desafio. Não podemos deixar de pensar também no salário. Os países onde a educação deu certo são aqueles em que os professores são considerados socialmente.
Qual é o melhor caminho para aproximar o ensino médio dos anseios dos estudantes?
É um processo de escuta. Na pesquisa que fizemos havia uma escola onde os meninos reclamavam muito da camisa do uniforme. Quando apresentamos os resultados, o diretor resolveu mudar a peça para algo mais leve e moderno. São coisas que parecem secundárias, mas podem se tornar primordiais.
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