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A violência no Ceará atinge índices alarmantes. Em uma década, o número de mortes por armas de fogo cresceu 203,6%. Passou de 696 em 2000, para 2.113 em 2010, ou seja, mais que triplicou. Chama atenção que 97,3% dos casos registrados foram ocasionados por homicídio, seguido de suicídio (1,1%), acidentes (0,7%) e causas indefinidas (0,9%). Do total de óbitos registrados neste período no Estado, 54,85% ocorreram na Capital (1.159). Significa dizer que, em média, três pessoas morreram por dia vítimas de armas de fogo em Fortaleza em 2010.
Entre 2000 e 2010, o Ceará saltou do 19º para o 10º lugar no ranking das capitais brasileiras com maior taxa de mortes por armas de fogo FOTO: FABIANE DE PAULA

É o que aponta o Mapa da Violência 2013 – Mortes matadas por armas de fogo, divulgado ontem, pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela). A pesquisa mostra que, em dez anos, o Ceará saltou do 19º para o 10º lugar no ranking das capitais brasileiras com maior taxa (25,0) de mortes por armas de fogo para cada 100 mil habitantes. Na frente de São Paulo, que ficou em 24º lugar, com taxa de 9,3.
Ranking
O Estado de Alagoas lidera o ranking com taxa de 55,3, seguido do Espírito Santo (39,4), Pará (34,6), Bahia (34,4), Paraíba (32,8), Pernambuco (30,3), Paraná (26,4), Rio de Janeiro (26,4) e Distrito Federal (25,3). Na última posição, está o Estado de Roraima, com taxa de 7,1.
De acordo com a pesquisa, o Brasil tem dificuldade de abordar o fenômeno da violência urbana devido à inexistência de fontes com uma dose mínima de fidedignidade que possibilitem quantificar, abordar ou aprofundar o tema. Situação diferente da mortalidade por armas de fogo que consegue, através do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, delinear comparações nacionais por seu elevado grau de sistematização, além de permitir trabalhar com séries históricas.
Geovani Jacó de Freitas, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pesquisador do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência (Covio) comenta que esses homicídios revelam ocorrências com crimes em sua maioria entre conhecidos, ou seja, são vítimas e vitimizadores que já mantiveram algum tipo de proximidade.
Em geral, acrescenta, são homicídios decorrentes de conflitos interpessoais entre sujeitos que disputam a ocupação de territórios ou são vítimas de dívidas. Há ainda os conflitos entre vizinhos, decorrentes de embriaguez, discussão, ciúmes. “As pessoas estão se matando para resolver conflitos, porque o Estado não assume, seja a Polícia ou a Justiça, o papel de mediadores dos conflitos”, salienta Freitas.
Uma das hipóteses que pode ser pensada para a intensificação das mortes por armas de fogo, complementa o especialista, é a própria natureza da ação policial no Ceará. Freitas avalia que existe um retrocesso na concepção da política de segurança pública no Estado quando o discurso de ação da Polícia tem uma concepção cada vez mais militarizada. Exemplo disso é o esvaziamento crescente da filosofia do Ronda do Quarteirão, que tem deixado de ser um policiamento de base de inspiração comunitária para se tornar um policiamento tradicional, que intervém no combate ao crime.
“Pensando polícia, nós remetemos à uma política de proteção cidadã, que tem uma ação de prevenção ao crime. Isso se faz, sobretudo, na mediação dos conflitos. É essa mediação que evita que o conflito interpessoal de baixa potencialidade se transforme em um de alta potencialidade letal”, explica. Para o especialista, a ineficiência do Estado e a população armada refletem os altos índices de violência.
Mudança
Na última década, houve uma mudança na causa das mortes no Estado, com inversão das armas brancas por armas de fogo. Freitas observa que houve um processo de desterritorialização da violência urbana, que migrou dos grandes centros para as metrópoles regionais e, agora, o fenômeno se alastra para as cidades de médio e grande porte do Interior. A desarticulação do crime organizado em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo pode ter feito com que essas organizações migrassem para cidades onde eles não tinham atuação direta, como Fortaleza.
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa, através da assessoria de comunicação, que ainda não se debruçou sobre os dados da pesquisa e, portanto, não se pronunciaria sobre o assunto.