Cinco integrantes de uma quadrilha que fraudava vestibulares de Medicina em 12 estados mais o Distrito Federal foram presos pela Polícia Civil do Estado de Goiás na última semana, na chamada “Operação Monge”.
A quadrilha era responsável pela venda de gabaritos de vestibulares de Medicina por R$ 80 mil e o ingresso direto nas universidades por R$ 120 mil, sem a necessidade de participar das provas. O pagamento dos gabaritos era feito após a aprovação no vestibular, tendo a fraude movimentado cerca de R$ 5 milhões.
De acordo com o delegado Breynner Vasconcelos, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) da Polícia Civil, 110 pessoas utilizaram da fraude para o ingresso nos cursos de Medicina, das quais 52 se matricularam nas instituições, enquanto outras matrículas foram impedidas pela Polícia Civil ao identificar a participação de tais candidatos na fraude.
Segundo o delegado da Draco, outros quatro integrantes da quadrilha estão foragidos, sendo dois do Pará, um da Bahia e um do Rio de Janeiro. Os vestibulares fraudados foram das universidades de Rio Verde (UniRV), Católica de Brasília (UCB), José do Rosário Velloso (Unifenas) e das Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central (Faciplac).
Entenda o caso
Após denúncias vindas da Universidade de Rio Verde (UniRV), de anônimos e de outras fontes, a Polícia Civil passou a investigar os suspeitos de venderem os gabaritos de vestibulares de Medicina por R$ 80 mil.
Fernando Batista Pereira, um dos suspeitos da fraude, foi flagrado pela Polícia Civil comprando celulares em um camelódromo de Goiânia/GO, os quais seriam utilizados para que os integrantes passassem o gabarito aos estudantes que compraram os gabaritos.
O integrante da quadrilha foi abordado por uma agente da Polícia Civil que se passou por estudante. Ele passou as instruções básicas, entre as quais estavam o uso de três calcinhas para esconder o celular. Além disso, Fernando alegou ter advogados para caso algum problema acontecesse.
As investigações contaram com o auxílio das instituições de ensino que suspeitaram da fraude. No vestibular de Medicina da UniRV de Goianésia, a Polícia Civil contou com agentes disfarçados de fiscais para monitorar outro suspeito, Mateus Ovídio Siqueira, o qual era responsável por responder a prova e passar o gabarito para uma pessoa que ficava em uma base da quadrilha.
Durante o vestibular, a fraude era executada da seguinte forma: Mateus respondia a prova em 30 minutos e pedia para ir ao banheiro. Chegando lá, ele passava pelo celular o gabarito para um integrante da quadrilha, o qual repassava a informação para os vestibulandos. Os concorrentes, por sua vez, se dirigiam até o banheiro e conferiam as respostas no telefone. Os contratantes tinham direito ao gabarito das questões objetivas e ficavam responsáveis apenas por fazer a redação.
A investigação levou a Polícia até o empresário Rogério Cardoso de Matos, considerado o chefe da quadrilha. Em sua casa foram apreendidos documentos e um carro de luxo. Já na residência de Mateus, foram encontrados R$ 50 mil, valor que ele teria recebido para passar o gabarito aos candidatos.
Próximos Passos
Segundo a Polícia Civil, os suspeitos responderão por fraude. O delegado Breynner Vasconcelos ressalta que recomendações para procedimentos de segurança nos vestibulares serão encaminhados às instituições de ensino.
A UniRV informou que verificará a listagem da Polícia Civil para tomar as medidas necessárias. Estudantes que tenham se beneficiado da fraude e já estejam estudando na instituição serão expulsos, enquanto os aprovados no vestibular que compraram o gabarito terão suas matrículas anuladas.
Por meio de nota, a UCB divulgou que acompanhará os desdobramentos do caso e que assim que forem apuradas as informações, “se compromete em tomar as providências cabíveis”.
Até o fechamento desta notícia, o Vestibular Brasil Escola não conseguiu contato com a Unifenas e com a Faciplac.
Outras fraudes
Por sua alta concorrência e dificuldade de ingresso, o curso de Medicina costuma ser alvo de fraudes envolvendo seus vestibulares. A Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás) suspendeu seu processo seletivo para a graduação em 2016, após suspeita de envolvimento de uma organização criminosa na seleção realizada anteriormente, no fim de 2015.
Na época, a PUC-Goiás instaurou um processo administrativo interno e denunciou a fraude ao Ministério Público Federal (MPF-GO), além da abertura do inquérito na Polícia Federal. A seleção para Medicina foi retomada para o ingresso em 2017, sendo usada a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O Enem é outro exame que registrou fraudes ao longo dos anos. Em 2009, houve o vazamento das provas e a edição foi adiada. Em outros anos, tentantivas de fraudar a aplição foram encontradas por envio do tema de redação por celular e até o uso de escuta eletrônica. Em 2016, a Polícia Federal deflagrou operações para investigar fraudes e evitar novas ocorrências.
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