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Um novo recorte do Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes do Brasil, divulgado nesta quarta-feira (18), coloca o Espírito Santo novamente no topo de homicídios de jovens com idade entre 0 e 19 anos. Coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, o estudo aponta que o Estado tem taxa de 33,8 homicídios de jovens por grupo de 100 mil e só perde para Alagoas, por apenas um ponto, que registra 34,8 homicídios por 100 mil. Os dados consolidados do Mapa da Violência são referentes a 2010, último ano do governo Paulo Hartung (PMDB). 

A liderança do Estado no ranking também se reflete em outras categorias, como nos homicídios de mulheres, e não apresenta tendência de queda, já que o Estado figura no topo desde o início dos anos 2000 e, em vez de reduzirem as taxas de homicídios, elas estagnaram e chegam a ameaçar o primeiro lugar de Alagoas. A taxa de homicídios se refere somente ao segmento de 0 a 19 anos, que já representa um número de guerra civil. O resultado geral de homicídios registrados naquele ano chega a 54 por 100 mil habitantes, o que demonstra níveis epidêmicos de violência no Estado. 

Em entrevista à Rádio CBN Vitória, o sociólogo Julio Jacobo desconstruiu a tese implantada pelo governo do Estado, acolhida inicialmente durante a gestão de Rodney Miranda (DEM) à frente da pasta da Segurança Pública durante a maior parte do governo Hartung, entre 2003 e 2010, de que a violência no Estado esteja relacionada diretamente ao tráfico de drogas. Com base nos estudos detalhados,  o sociólogo repudiou esta ideia e disse ainda ser perigoso tratar a consequência – que é a morte de jovens – como causa exclusiva da violência. 

Recentemente o governo Renato Casagrande (PSB), dando prosseguimento à política de segurança do governo anterior, acolheu a tese de associação de violência com o tráfico de drogas, lançando uma campanha que atesta que 70% das mortes violentas no Estado estão relacionadas ao tráfico. O professor também fez cair por terra essa relação, ao afirmar que existe um mito no Estado que relaciona todas as formas de violência às drogas, quando a realidade mostra que a violência contra crianças e adolescentes não é acidental, e sim totalmente cultural. “Esta é uma técnica perigosa de enfrentar o problema, pela qual a vítima da violência passa a ser culpado”.

O sociólogo alertou ainda que essa forma de mostrar para a sociedade que o tráfico de drogas é responsável pelo maior número de homicídios é ainda mais perigosa, já que fomenta a ideia de que a morte dessa parcela da população supostamente envolvida com o tráfico está justificada. “A população fica com a ideia de que é melhor que se mate mesmo, já que não se gasta dinheiro público com aqueles que já estão mortos”. 

Para demover essa ideia de maneira definitiva, o estudioso traz o dado que aponta que 60% da violência contra crianças e adolescentes acontece no seio familiar. “Não se pode supor que 60% das famílias estejam inteiramente relacionadas com o tráfico de drogas”. 

Mais perigoso do que restar justificada a morte de jovens por ligação com o tráfico de drogas, é utilizar esse subterfúgio para negligenciar a adoção de políticas públicas de promoção da dignidade da população das periferias dos municípios da Grande Vitória. O pesquisador foi enfático ao afirmar que os estados que levaram a sério o problema – São Paulo, Santa Catarina e Piauí – conseguiram reduzir drasticamente os índices de homicídios. 

“Não é obra de milagre, são programas em que o aparelho do Estado, o poder público e a sociedade civil se educam que há um processo civilizatório em que brutalidade não entra”. Ele completa dizendo que não são pitacos, mas estudos objetivos que comprovam que a maioria dos atos violentos contra crianças e adolescentes ocorre no seio familiar.