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A entrevista com a deputada estadual Telma de Souza (PT) marca o início da série de sabatinas que A Tribuna publicará com os nove candidatos à Prefeitura de Santos, em ordem escolhida por sorteio. Foram convidados para o encontro, na última quinta-feira, na sede do jornal, representantes de diferentes setores da sociedade, que tiveram a oportunidade de fazer perguntas para a candidata. O mesmo acontecerá com os demais prefeituráveis. Desta vez, compareceram o empresário Gustavo Pierotti; a assessora do Fórum da Cidadania de Santos, Maria Aparecida dos Santos, e a educadora Sylvia Bittencourt. Os questionamentos sobre propostas de governo também foram feitos pelo coordenador do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT), Alcindo Gonçalves, e por jornalistas.

A candidata Telma de Souza (PT) acredita que a disputa pela Prefeitura de Santos terá um segundo turno, do qual ela participará. Caso isso ocorra, a deputada acha possível uma grande aliança em torno de sua candidatura. “Hoje, eu diria que existe uma ação integrada de partidos, que estão juntos em nível federal. Ao termos este projeto nacional, a tendência deverá se repetir aqui”.

Em suas propostas de governo, Telma tem como prioridades as áreas da Saúde, Educação, Mobilidade Urbana e Segurança Pública. “Quero mostrar que sou uma pessoa sólida, comprometida com a Cidade”.

Educação

Para a candidata, as escolas municipais precisam melhorar a grade curricular, para aumentar a qualidade de aprendizado dos estudantes. Ela propõe investimentos em novas tecnologias que auxiliem nas disciplinas.

“As nossas escolas são pré-gutenberguianas (referência a Johannes Gutenberg, 1398-1468, alemão que inventou o método de impressão por tipos móveis), nem livros têm na sua maioria; quem dirá um notebook moderno, sofisticado. Fora domínio do inglês e do espanhol”.

Telma ressalta a necessidade de melhores qualificação e remuneração dos professores da rede e questiona o conteúdo ministrado atualmente nas escolas em tempo integral da Prefeitura. “Esse tempo de aprendizado dentro das escolas tem que chegar às humanidades de uma maneira geral. Uma criança que aprende música é diferenciada. O movimento, a dança, o som, esses conceitos são desvalorizados porque não são ensinados na tenra idade”.

A deputada afirma que as unidades de ensino em horário integral são fictícias (de mentira) e devem ser reformuladas. “Sou professora, sei o que significa a sala de aula para um aluno. Sei o que significa ter a perspectiva de ter um filho, principalmente quando se é das camadas mais carentes, que possa ter, através do ensino, uma ascensão social para sobrevivência”.

Outra proposta da petista na educação é ampliar os horários das creches, para que os pais que trabalham fora tenham onde deixar os filhos pequenos. “Temos de ter creches que tenham essa preocupação do desenvolvimento da criança junto com família, não depósitos de crianças”.

Ensino técnico

Com a possibilidade de aumento nos postos de trabalho, que devem surgir por causa da instalação da Petrobras na Cidade, Telma projeta a necessidade de ampliar a capacitação dos trabalhadores. Segundo ela, essa ação ficou muito abaixo da esperada.

“Eu mesma dei a informação de que nós tínhamos petróleo. Nestes 12 anos, não houve uma preocupação dos dirigentes, nem estaduais, nem locais, de nós fazermos a qualificação de nossos jovens como deveria ser feita”.

A candidata fala em ensino técnico voltado, principalmente, para os setores que fazem parte da vocação da Cidade, como pré-sal, o Porto e o turismo de transatlânticos. Além dessa mão de obra direcionada, a deputada ressalta ser necessário o preparo de jovens que queiram ter o próprio negócio. Ela revela, ainda, interesse de trazer para Santos o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado pelo Governo Federal em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica.

Saúde

A petista se mostra contrária à concessão do serviço público de saúde para a iniciativa privada, por meio de organizações sociais, por exemplo. “Do mesmo jeito que não se podem fazer contratos para a Educação onde se coloquem pessoas alheias ao processo educativo dentro da escola, a Saúde é um lugar soberano: tem de ter a eficiência do poder de Estado. Parcerias podem acontecer, mas o poder municipal tem que ser eficiente”.

A candidata pretende recuperar totalmente o antigo Hospital dos Estivadores e transformá-lo em referência no Município. “Tem que ser de excelência para diagnósticos, procedimentos e ofertas de leitos”.

Telma de Souza criticou duramente a forma como o Governo do Estado administra seu hospital na Cidade. “Não é possível que o Hospital Guilherme Álvaro tenha um pronto-socorro que não abre, não pode. O Pronto-Socorro Central fica abarrotado, as pessoas ficam dez, 12 horas esperando atendimento. E mais: o Guilherme Álvaro fechou a UTI pediátrica durante um ano, quando o compromisso era por dois meses; duas crianças morreram”.

Crack

A deputada estadual compara a situação atual dos viciados em crack aos problemas relacionados à aids, que ela precisou enfrentar quando foi prefeita. “O contexto político e econômico mudou, mas a natureza das pessoas não. A dor que se sentia com a questão da aids é comparável à que se sente hoje em relação ao crack. A última coisa que pode acontecer é um gestor fingir que o problema não existe e nós enfrentamos isso na nossa Cidade”.

Telma é contra a internação compulsória (forçada). “Tem que se fazer um trabalho de delicadeza. Não é que as pessoas têm medo de internar: é porque as leis são em outra direção. Nós lutamos para que as pessoas não fossem arbitrariamente presas”.

A deputada afirma que, apesar de essa tentativa de convencimento do usuário não ter resultado 100% eficaz, é o único caminho. “Há um momento em que o efeito do crack para, e você tem de ir lá falar (com o usuário). Por isso, o Consultório de Rua é trabalhosíssimo. Não pode ser internação compulsória, tem que acolher a pessoa”.

Mais uma vez, Telma critica o Governo Estadual. “Não se faz aquilo, aquela medida tomada pelo Governo do Estado (na Cracolândia, em São Paulo). Gás lacrimogêneo, balas de borracha para afastar zumbis das ruas, pessoas que estão à beira de uma situação de falência moral. É para dar aparência. Foi uma ação de marketing, mas não serve”.

Segurança

Em seu programa de governo, a candidata do PT propõe a criação de um Observatório Municipal de Segurança. “Deve-se ter a tecnologia a serviço da população, um observatório onde se cruzem as informações. Uma sala de situação que tenha que lidar com iluminação, números de evasão escolar, mortalidade infantil e, cruzando esses dados, gere um mapa da violência, que é física, mas, também, estrutural do sistema”.

A deputada quer uma integração efetiva entre as polícias civil e militar e a Guarda Municipal. Nessa área, também pretende conseguir verbas federais através do Programa Nacional de Segurança Pública com Ci
dadania (Pronasci).

“A segurança tem que começar com prevenção. O poder de Estado tem que adentrar com educação, esporte, cultura, para que movimentos paralelos da sociedade organizada não busquem os nossos jovens”.

Trânsito

O rodízio de veículos não é descartado, caso Telma seja eleita. Mas ela considera a medida desagradável e entende que outras formas de ação podem minimizar o problema dos congestionamentos em horários de pico. “Temos que perceber, antes de mais nada, onde estão os gargalos do Município. Temos o da entrada da Cidade, a ligação Zona Leste com Zona Noroeste, e precisamos ter, para melhor fluidez, um transporte público de qualidade”.

Para a petista, a passagem do transporte coletivo municipal é muito cara, e a concessionária tem que responder com qualidade, colocando um número de ônibus satisfatório. Ela acredita que a integração entre vários modelos de transporte pode resolver, e volta a cobrar o Governo Estadual por ainda não ter construído o túnel ligando Santos e Guarujá e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que são antigas promessas.

“Faz 14 anos que se discute o VLT. Entra governador, sai governador, e está lá. É claro que existem interesses particulares, mas o Governo do Estado tem que ter forças. E a ligação com Guarujá virou piada. Quando o governador vem aqui entregar balsas eu estou tentando ler o comportamento dele: não vai ter túnel?”.

Empreendedorismo

Questionada sobre de que forma ela poderia, enquanto prefeita, fomentar o empreendedorismo em Santos – já que a incubadora de empresas da Cidade está desativada –, Telma fala na necessidade de maior liderança no chefe do Executivo, mas não cita projetos específicos para o setor.

“Se a incubadora, que é o início do início, não funciona, quem dirá o restante da situação do empreendedorismo. Podemos pressionar o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), mas é um programa nacional. Podemos pressionar o Pronager (Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda), mas é um programa nacional. No aqui e agora, as escolas, a qualificação”. A ex-prefeita ainda faz uma indagação: “Por que não termos também um tipo de Sebrae Municipal?”. 

Alegra Centro

Telma afirma que o programa Alegra Centro é incipiente e pouco desenvolvido. “Não se pode desenvolver um programa que tentou ser uma resposta ao Centro antigo sem dar as condições, para o comércio, de segurança, de iluminação. E sem incentivos de impostos para quem for se estabelecer”.

A candidata ressalta a intenção de isentar do IPTU os donos de imóveis construídos antes de 1950, desde que preservem os locais. “Revitalizar é dar vida. Não adianta pintar, rebocar e não dar uma utilidade. A Casa da Frontaria Azulejada – que eu não cheguei a inaugurar, foi o David Capistrano – mostra como poderiam ser as casas do Centro Histórico se elas todas fossem preservadas”.

Valongo

Perguntada sobre o projeto Porto Valongo, que prevê a revitalização dos armazéns 1 ao 8, do Porto, com instalação de um centro de turismo e lazer, além da construção de um terminal de passageiros, a deputada não soube responder. 

“Como eu não domino o projeto, eu sei de uma maneira global, eu faço perguntas, posso até estar equivocada. Dá para colocar cargas ali? Passa o trem com uma marina? Vamos ter a separação de quem chega com algum tipo de construção?”.

O projeto contempla uma passagem subterrânea chamada de mergulhão. O objetivo é segregar os fluxos rodoviário e ferroviário existentes, garantindo a operação do Porto.

Cultura

“Nós moramos em uma Cidade que pouca importância dá para a cultura caiçara. A Ilha Diana, que é um centro de resistência, vai ter, na nossa ideia, fazendas de mexilhões. Isso é um aspecto cultural de respeito pelas pessoas que moram lá”, disse Telma, quando questionada sobre a área cultural.

Para a candidata, cultura se ensina na escola, porque a sociedade atual é altamente contaminada pela propaganda e pelo marketing. “O Poder Público tem que ir na contrapartida para mostrar outros vieses (no sentido de caminhos). Tem que mostrar a música. A Concha Acústica (Canal 3) não tem finalidade? A educação é importantíssima, mas só a cultura é revolucionária”.

Iniciativa privada

A prefeiturável do PT comenta que a iniciativa privada é importante na gestão pública e terá espaço em um possível governo. “Eu tenho aprendido com o Governo Lula e o Governo Dilma que o poder de Estado não pode tudo, mas tem que ser o principal indutor dos insumos para tal”.

Para a deputada, as universidades têm um papel extraordinário para ajudar nas tomadas de decisões. “Eu não acho que o Poder Público dará conta de tudo, até porque o dinheiro tem término. Eu tenho impressão de que vem aí uma série de decisões e informações sobre a questão portuária que vão nessa direção. Eu falo isso porque eu tenho uma relação umbilical com a presidenta Dilma (Rousseff). A concepção estatal é muito antiga e ultrapassada. Você tem parcerias financeiras e a possibilidade da delegação do poder, que é absolutamente viável, concreta e desejável”.

Os sabatinadores

Alcindo Gonçalves, coordenador do IPAT, tem 59 anos e trabalha há oito anos com pesquisas eleitorais. É engenheiro e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), além de professor e coordenador do programa de mestrado e doutorado em Direito da Universidade Católica de Santos (UniSantos).

Gustavo Pierotti, empresário, tem 36 anos e atua há mais de dez no ramo de fornecimento a navios em Santos. Foi coordenador do Núcleo Jovem da Associação Comercial de Santos (ACS Jovem), gestão 2011-2012 e faz parte da instituição. É 1º tenente da reserva do Exército Brasileiro e conselheiro do Santos Futebol Clube.

Maria Aparecida dos Santos, a Cidinha, é jornalista e assessora de imprensa do Fórum da Cidadania, em Santos. Tem 55 anos. Formou-se em Comunicação em 2010. Bancária aposentada, foi diretora do Sindicato dos Bancários de Santos e Região, participando de movimentos por direitos das mulheres e saúde do trabalhador.

Sylvia Bittencourt, educadora.Professora- doutora aposentada, de 65 anos, trabalha com ensino a distância em uma universidade de Santos. Foi secretária municipal de Educação (1997-2000). Nos dois anos seguintes, dirigiu a Delegacia Regional de Ensino. Fez carreira na rede estadual, onde começou em 1969.