Por Caio Zinet – Centro de Referências em Educação Integral
Questões familiares, trabalho e gravidez: esses são os três principais elementos que afastam as jovens brasileiras dos estudos, segundo pesquisa feita em parceria com Ministério da Educação, a Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências (Flacso).
O estudo perguntou aos jovens de 15 a 29 anos por que pararam de estudar e o que havia motivado tal decisão. Entre as meninas, 18,1% indicaram a gravidez como o principal motivo. Já entre os meninos da mesma faixa etária, somente 1,3% declararam que interromperam os estudos pela mesma razão.
Outras 23,1% das jovens brasileiras afirmaram que saíram da escola “por questões familiares”, enquanto o índice entre os garotos foi de 16,4%. Embora o estudo não explore quais são essas questões, limitando-se apenas a afirmar que se relacionam com o ambiente da casa do estudante, entende-se que as tarefas de cuidado (do domicílio ou de crianças e idosos), geralmente delegadas às mulheres, também possuem um peso importante na evasão escolar das meninas.
A necessidade de trabalhar também tem peso. O estudo mostra que do total de adolescentes que abandonou o ensino formal, 36,1% dos meninos declararam que o motivo foi a necessidade de trabalho. O índice é de 20,9% entre as jovens brasileiras.
Gravidez
Segundo a coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, muitas das meninas que ficam grávidas não contam com o apoio dos pais e também não têm estrutura para deixar os filhos na escola.
Dessa forma, elas se veem obrigadas a interromper o processo de estudo. Miriam conta ainda que nas entrevistas realizadas para a pesquisa, algumas adolescentes relataram também que eram desencorajadas pelo cônjuge a continuarem estudando.
“Na parte qualitativa da pesquisa percebemos que um percentual razoável das meninas saíram da escola por pedido ou sugestão do namorado ou marido”, afirmou a coordenadora da pesquisa.
Discussão de gênero
Uma das principais discussões ligadas à educação nos últimos anos diz respeito à introdução ou não de temáticas ligadas a gênero e sexualidade nas escolas. No Plano Nacional de Educação (PNE), e depois em diversos planos estaduais e municipais, metas vinculadas ao tema foram suprimidas dos textos finais, atendendo a uma demanda de setores conservadores da sociedade.
Muitas escolas e professores seguem discutindo a temática a despeito da sua ausência no plano. A grande maioria das instituições de ensino, no entanto, já não discutia o tema e agora tem o respaldo nos planos para que a discussão sobre gênero e sexualidade não conste no currículo.
A ausência desse debate tem um peso ainda maior sobre as meninas que sofrem com o machismo e cuja sexualidade em diversos casos é um tabu ainda maior do que para os meninos.
Para a educadora e oficineira independente, Érica Guerra, outro elemento que empurra as meninas que engravidam para fora da escola é a falta de perspectivas de vida e o modo como essas jovens enxergam seu papel na sociedade: ser mãe e trabalhar, muitas vezes de forma precarizada.
Outro fator importante diz respeito à falta de creches, seja na própria escola ou em um local próximo. Assim, mesmo que a mãe queira continuar os estudos, se ela não tiver com quem deixar o filho durante esse período, a jovem se vê obrigada a ir cuidar da criança.
Sobre os dados da pesquisa, Érica acredita que ela evidencia a forma como a sociedade joga sobre as mulheres a responsabilidade sobre os filhos. “É ela quem para de estudar para cuidar da criança e não e pai. Isso é cruel porque cria um ciclo que afasta as mulheres da escola e de outras perspectivas de vida”, finaliza.
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