Em uma década, as regiões Norte e Nordeste viram o índice de homicídio mais que duplicar e, juntos, os 16 Estados passaram a responder por mais da metade dos assassinatos de jovens de até 19 anos registrados no Brasil.
Os dados constam no levantamento “Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes do Brasil”, divulgado nesta quarta-feira (18) pelo Instituto Sangari, e são considerados dados oficiais pelo Ministério da Justiça. O levantamento mostra que aumentou 376% o índice de adolescentes e crianças assassinados entre 2010 e 1980.
Somados, os crimes das duas regiões, em 2010, representaram 51,2% dos 8.686 homicídios brasileiros de jovens. Foi a primeira vez que Norte e Nordeste –que concentram apenas 35% da população— registraram, juntos, mais da metade dos homicídios brasileiros. A pesquisa traz números desde 1980.
Nos últimos anos, as estatísticas apontam que a violência migrou dos grandes centros urbanos do Sudeste para as regiões mais pobres do Brasil. Em 2008, o Nordeste passou a liderar o ranking absoluto de homicídios contra jovens no país, superando o Sudeste.
Segundo o levantamento, em 2010 o Nordeste registrou recorde de assassinatos de jovens, com 3.428 casos –114% a mais que o número de 2000. No mesmo período, o Sudeste viu o número de mortes violentas cair de 4.880 para 2.487 –queda de 49%.
No Norte, o aumento da violência foi ainda mais expressivo, saltando de 437 homicídios, em 2000, para 1.020 dez anos depois –133% a mais. Nas duas regiões, apenas os Estados de Pernambuco (-20,4%) e Roraima (-46,9%) apresentaram redução de homicídios. Todos os demais Estados apresentaram alta, especialmente a Bahia, onde o número absoluto aumentou em 576% –o maior crescimento do país.
Taxas
Levando em conta a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes, o Nordeste registrou média de 17,8 assassinatos, a maior entre as cinco regiões, chegando a 34,8 em Alagoas –Estado com maior índice. A região registrou, em 10 anos, um aumento de 137% na taxa, referência internacional na contabilidade de mortes violentas. Já no Norte, a taxa chegou a 15,5 –aumento de 123%, enquanto o país apresenta índice menor: 13,8.
O índice torna-se ainda mais assustador quando comparado apenas os dados das capitais, onde a violência está ainda mais concentrada nas duas regiões. Somente as nove capitais do Nordeste tiveram 1.548 assassinatos –46% do total das capitais–, com aumento de 124% em 10 anos. Nas cidades-polo do Norte, foram 455 homicídios. Ao todo, o país registrou 3.306 mortes violentas de jovens nas capitais, o que representa uma queda de 11,1% em 10 anos.
Interiorização
No estudo, o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz explica que o Brasil passou a viver, nos últimos anos, um fenômeno chamado “interiorização da violência.” Segundo ele, a tendência apontada nos dados revela uma mudança não só para cidades do interior, mas para Estados menores e de menor estrutura de combate ao crime.
“A partir de 2004 já indicávamos uma mudança nos padrões de evolução da violência homicida no país. Se até 1996 o crescimento dos homicídios centrava-se nas capitais e nos grandes conglomerados metropolitanos, entre 1996 e 2003 esse crescimento praticamente estagna e o dinamismo se transfere aos municípios do interior dos estados. Esses mesmos fatores parecem impulsionar um segundo tipo de desconcentração, agora entre os Estados, que denominamos disseminação”, explica.
Segundo Waiselfisz, houve uma migração dos “polos dinâmicos da violência”, que antes se concentrava em um limitado número de capitais e/ou grandes regiões metropolitanas. “[A violência migrou] para regiões menos protegidas, seja no interior dos Estados, seja para outras unidades federativas. Regionalmente, o panorama vai de fortes quedas, como a evidenciada pela região Sudeste, onde homicídios de crianças e adolescentes despencam 64,7%, até o Nordeste, onde, longe de cair, as taxas crescem de forma assustadora.”
O pesquisador alerta ainda que a situação é mais preocupante entre as capitais, onde as diferenças são mais significativas. “As taxas de São Paulo despencam de 36 homicídios de crianças e adolescentes em 100 mil para 5,3: queda de 85,2%. No outro extremo, descontando Palmas, que, por sua recente constituição, apresenta índices pouco confiáveis no início da década, teríamos Natal, que mais que decuplica seus índices, ou Salvador, com 819% de aumento na década”, diz.
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