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Nove em cada dez assassinatos de crianças e adolescentes ocorridos no Brasil nos últimos 30 anos tiveram vítimas do sexo masculino. Estudiosos ouvidos nesta quarta-feira pelo GLOBO avaliaram que esse foi um dos dados mais preocupantes do Mapa da Violência 2012. Entre analistas, o fenômeno ganhou até nome: “homencídio”.
O Mapa da Violência, divulgado nesta semana, revelou uma espécie de epidemia de homicídios no país. De 1981 a 2010, o crescimento de mortes na faixa etária de 0 a 19 anos foi de 346,4%, totalizando 1.091.125 de vítimas.
Em percentuais, os assassinatos de adolescentes do sexo masculino destoam. Em 2000 e 2010, os homens representavam 89,3% e 90,2% do total de mortes, respectivamente.
Estudioso das questões demográficas do Brasil, o professor José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), do IBGE, fez nesta quarta-feira um alerta para o que considera um problema pouco discutido e enfrentado pelas autoridades.
— Vivemos um homencídio. É um aspecto que se fala pouco, mas que tem uma importância muito grande. Ele tem efeitos devastadores na estrutura familiar, na sociedade, na economia e na pirâmide demográfica. Se parar para pensar, é como se tivéssemos uma guerra do Vietnã a cada ano em número de mortos — disse.
Além do trauma familiar e, em casos mais graves, uma desestruturação desses núcleos, a perda dos jovens tem impacto e custo para a sociedade, segundo Alves.
— Essa violência tem feito o Brasil perder parte significativa da sua população economicamente ativa. É muito grave — afirmou, completando: — No Brasil, ao contrário do que a maioria pensa, nascem mais homens do que mulheres. Até a faixa dos 20 anos, mais ou menos, os homens ainda são maioria. A situação se inverte a partir dos 25 anos, quando as mulheres passam a predominar.
A pesquisadora Mary Castro Garcia, especializada em estudos sobre jovens brasileiros, chama atenção para os efeitos no âmbito familiar:
— Boa parte desses jovens já eram pais. Eu me pergunto como isso repercutirá na vida de seus filhos.
Para Mary, outro ponto considerado preocupante é a migração do crime para novos polos no país, como as capitais do Nordeste.
— Houve, ao longo desses anos, uma distribuição desigual das medidas de segurança pública. Investiu-se nos grandes centros, onde a situação era crítica, e esqueceu-se dos demais — diz.
Rio e São Paulo tiveram melhora em seus índices. O Rio tinha a pior taxa de homicídio em 2000 — 25,9 por 100 mil — e em 2010 era o décimo pior. São Paulo registrou a maior queda na taxa de homicídios: 76,1%, entre 2000 e 2010.
O secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Ferreira Pinto, rechaçou a opinião de especialistas que indicaram a hegemonia de uma facção criminosa como um dos fatores que contribuíram para reduzir a violência:
— É uma leviandade tirar o mérito de políticas públicas. Seria desmoralizar um trabalho de dez anos de enfrentamento do problema. A facção existiu lá atrás. Hoje, está contida.
oglobo