G1 encontrou animais, lixo, entulho e pessoas acampadas nos corredores.
Alunos contam sobre quarto improvisado e alunos em depressão.
Presença de animais, restos de obras pelos corredores e superlotação. O G1 visitou o alojamento estudantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio, e encontrou instalações precárias no local que recebe mais de 300 pessoas e é a única residência estudantil oferecida pela instituição.
A residência estudantil é composta por dois prédios, sendo que um deles está fechado para obras. O outro, de acordo com a estudante de serviço social Ilca Dias, representante do alojamento, tem capacidade para receber 252. Por causa do excesso de gente, uma cozinha desativada se transformou em dormitório, e alunos acampam em uma parte comum do prédio.
Ilca Dias contou ao G1 que existem quartos individuais – com dimensões de 1,85 metro por 5 metros – que chegam a abrigar até quatro pessoas, além servir de casa para gatos e cachorros sem dono que circulam pelo campus.
“As pessoas sabem que a UFRJ tem um alojamento estudantil. Quando chegam para estudar e encontram uma cidade com moradia muito cara, elas procuram esse espaço. A gente tem recebido essas pessoas e nos colocamos no lugar de quem está com dificuldade. Eu conheço gente que mora com quatro pessoas em um quarto só, em um cômodo de 1,85 metro por 5 metros. Elas moram nesses locais por falta de moradia e estão se submetendo a muita dificuldade”, afirmou.
Critérios para o auxílio
Os critérios para ter direito a concorrer a uma vaga na residência estudantil, de acordo com o site da UFRJ, levam em conta as condições socioeconômicas da família do aluno e a distância entre seu local de moradia e os campi universitários. Se aprovado, o aluno tem direito à vaga no alojamento e a uma bolsa para manutenção, atualmente fixada em R$ 400 por mês.
Um estudante de filosofia, que não quis ser identificado, é morador do alojamento estudantil e reclamou das condições em que os moradores se encontram. De acordo com ele, o estudante não é assistido de forma digna para se desenvolver academicamente. O que era para ser uma substituição de suas casas é visto por muitos como um presídio.
“O alojamento deveria ser uma segunda casa, um espaço em que o aluno conseguisse ter sossego, paz, ter autoestima, ter atividades. A universidade não presta atenção nos alunos. Deu um teto, um buraco para você entrar e não dormir na rua. Te dá alimentação e acredita que é só isso, mas não é. Para que você estude e consiga competir, ter um bom resultado, um bom C.R. [coeficiente de rendimento], uma boa formação, tem outros elementos que influenciam e o Estado só dá para gente um buraco para você encostar a cabeça”, afirmou.
Além dos problemas estruturais e de instalações, uma placa na frente da construção avisa da reforma em um dos prédios. A placa informa que mais de R$ 8 milhões foram recebidos para “reforma dos halls, escadas e pavimentos”. A previsão de entrega da obra, que começou em março de 2013, era de 600 dias após o início.
A UFRJ informou ao G1 que a reitoria tem dedicado atenção prioritária às questões sobre assistência estudantil, em especial as relacionadas à residência estudantil.
Quanto às condições do prédio, a universidade afirmou que o edifício está passando por reformas, que compreendem obras em duas alas distintas. Uma delas tem previsão de entrega para novembro. Assim que as reformas forem concluídas, será providenciada a transferência dos moradores.
Desenvolvimento de doença mental
Outro problema citado pelos moradores do alojamento seria o desenvolvimento de doença mental e depressão entre alguns alunos. De acordo com eles, alguns casos chegam a situações extremas. A falta de assistência por parte da faculdade e a situação dos alojamentos seriam fatores que contribuem para o crescimento dos casos, segundo os alunos.
“Nas condições em que a gente se encontra agora, esse local reproduz estado de pânico, estresse, esgotamento mental, um abatimento do espírito. Para você desenvolver qualquer faculdade, você precisa estar com a autoestima trabalhada e, da forma como nós vivemos aqui, o espaço deprecia a nossa autoestima”, afirmou um aluno ao G1.
A UFRJ informou que a Superintendência Geral de Políticas Estudantis possui uma divisão de saúde, que dá apoio integral a todos os moradores que precisam e está ampliando suas.
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