fbpx

Coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca-BA), Waldemar Oliveira, atribui o avanço da violência ao crescimento do envolvimento de adolescentes com as drogas, seja como usuário ou traficante

19.07.2012 | Atualizado em 19.07.2012 – 07:48

 

Victor Longo e Luciana Rebouças
mais@correio24horas.com.br

Há dez anos, Gledisson Baptista, 17 anos, foi assassinado com quatro tiros na porta de casa, na Barroquinha, depois de ser espancado por três homens. Seu tio, Sílvio Baptista, que assistiu a tudo, conta que o jovem não era criminoso. “Era um rapaz bom, iria começar seu primeiro emprego”, disse. O atirador foi preso em 2004 e o tio tornou-se ativista social.

Apesar de casos assim se repetirem na Bahia todo ano, poucos têm solução. “Matar criança na Bahia não dá em nada”, diz o coordenador do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca-BA), Waldemar Oliveira. O especialista atribui o avanço da violência ao crescimento do envolvimento de adolescentes com as drogas, seja como usuário ou traficante. Segundo ele, esse envolvimento cresceu aproximadamente 900% nos últimos cinco anos.

A Bahia vive uma verdadeira epidemia de assassinatos de crianças e adolescentes, sem hora para acabar e com tendência a piorar. É o que mostra um estudo divulgado ontem, que mapeou as mortes de jovens de 0 a 19 anos em todo o país, entre 2000 a 2010.

A Bahia é o estado que registrou mais homicídios no último ano da pesquisa: 1.172, um crescimento de 477,3% no período estudado, o maior em todo o país (em 2000 foram 203). O aumento da violência nessa faixa etária foi generalizado nos principais municípios do estado.

Em um ranking das 100 cidades onde mais se mata crianças e adolescentes, há oito municípios baianos entre os 13 primeiros.

Os dados são da pesquisa Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes no Brasil, publicada ontem pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil).

A pesquisa mostra que a Bahia, que era um dos estados onde crianças e adolescentes menos morriam assassinados, passou a ser um dos primeiros colocados no quesito. O estado passou do 23º lugar entre as 27 unidades da federação, em 2000, para o 3º lugar, em 2010, atrás apenas de Alagoas, que figura no topo da lista,  e Espírito Santo (2ª posição).

Levando em consideração a taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes – índice usado para medir o crescimento proporcional descontado o aumento da população – o quadro se mostra ainda mais assustador: a taxa passou de 3,5 para 23,8, um salto de 576,7%, também o maior aumento do país.

Em contraste com as outras capitais do Nordeste que conseguiram reduzir a violência entre jovens – Recife e Teresina – Salvador aumentou vertiginosamente o número de assassinatos nessa faixa etária, saltando de 58 no ano 2000, para 446 em 2010, um aumento de  669%. A capital perdeu apenas para Natal, onde o índice cresceu 837,5%.

Porém, Salvador não é o município mais violento para crianças e adolescentes na Bahia. No ranking nacional, a capital ocupa o 12º lugar, atrás de outras seis cidades baianas. Simões Filho e Lauro de Freitas são as campeãs em violênciado estado.

As assessorias de comunicação da Secretaria da Segurança Pública (SSP) e do governo do estado foram procuradas para comentar o estudo, mas o secretário Maurício Barbosa recusou-se a falar enquanto seus assessores não tivessem analisado o estudo detalhadamente.

Brasil 
Em linhas gerais, o estudo mostra que o Brasil tornou-se um dos países mais violentos do mundo, ocupando o 4º lugar, atrás apenas de El Salvador, Venezuela e Trinidad e Tobago. A situação só não é pior graças à redução significativa da violência  principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, estados com grande peso populacional.

No Nordeste, Pernambuco foi o destaque no combate à violência contra crianças e adolescentes – na década em análise, o número de homicídios caiu 20%. 
Distrito Federal, Roraima e Mato Grosso do Sul também melhoraram seus índices. No entanto, a maioria dos estados do país – 21 ao todo – registrou crescimento em suas taxas, embora em ritmo menor que na Bahia, que multiplicou por sete seus índices de violência na década.

“Apesar de termos boas leis em defesa das crianças e dos adolescentes, o estudo mostra que nossas políticas públicas para reduzir a violência nessa faixa etária não são suficientes”, diz  o autor do estudo, Julio Jacobo Waiselfisz. 
“Isso se deve sobretudo a um sistema de educação também insuficiente. Não há melhor caminho de inclusão social do que a educação. Investimento pesado em educação e programas de promoção da violência”, acrescentou ele.

Outros índices 
A pesquisa, que teve como fonte básica para a análise números do Ministério da Saúde, também levantou outros tipos de mortes violentas entre crianças e adolescentes, como acidentes de trânsito, afogamentos, incêndios, quedas e suicídios.

No que se refere aos acidentes de trânsito, Salvador teve a maior taxa de crescimento por cada 100 mil habitantes de toda a região Nordeste: 119%. O segundo colocado no mesmo item foi São Luís, que registrou aumento de 108% desse tipo de morte.

Os estados mais violentos

1º Alagoas
Posição que ocupava em 2000: 10º colocado

2º Espírito Santo
Em 2000: 5º colocado

3º Bahia
Em 2000: 23º colocado

4º Distrito Federal
Em 2000: 2º  colocado

5º Amapá

Em 2000: 6º  colocado

6º Paraíba
Em 2000: 17º  colocado

7º Pernambuco
Em 2000: 3º  colocado

8º Pará
Em 2000: 21º  colocado

9º Paraná
Em 2000: 15º  colocado

10º Rio de Janeiro
Em 2000: 1º colocado

11º Ceará
Em 2000: 19º colocado

12º Goiás
Em 2000: 13º  colocado

13º Rio Grande de Norte
Em 2000: 26º colocado

14º Rondônia

Em 2000: 12º colocado

15º Mato Grosso
Em 2000: 8º  colocado

16º Amazonas
Em 2000: 16º  colocado

17º Sergipe
Em 2000: 14º  colocado

18º Mato Grosso do Sul
Em 2000: 9º  colocado

19º Acre
Em 2000: 11º  colocado

20º Minas Gerais
Em 2000: 20º  colocado

21º Rio Grande do Sul
Em 2000: 18º  colocado

22º Roraima
Em 2000: 7º  colocado

26º São Paulo
Em 2000: 4º  colocado