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Escalada da violência expõe dificuldades no acolhimento aos estudantes e escancara ausência de política nacional para combater o problema

Por Guilherme Padin, do R7

Professores atacados por alunos com estilete em São Paulo (SP) e golpe de mata-leão em Itararé, no interior paulista. Um jovem de 16 anos esfaqueado pelo colega em uma escola de Poá, na região metropolitana. Três estudantes feridos por um colega com uma faca no Rio de Janeiro (RJ). Um adolescente levado à delegacia após chegar à sala de aula, em Cascavel (PR), com uma arma calibre .38.

As cenas ocorridas nas últimas semanas, enquanto os Estados Unidos se chocavam com a morte de 19 crianças e dois adultos durante o massacre causado por um jovem de 18 anos na escola primária onde estudou em Uvalde, no Texas, jogam luz sobre a escalada da violência nas escolas em 2022.

Além disso, os episódios trazem à tona problemas sociais que se agravaram com a pandemia de Covid-19, como a desigualdade, a ausência de políticas públicas de educação e de apoio à saúde mental.

Segundo estatísticas da Seduc-SP (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo), houve aumentos expressivos em estatísticas sobre agressões físicas, humilhação sistêmica e ameaças, considerados os períodos de janeiro a março de 2019 e de 2022. O tema será alvo de debate na Comissão de Educação do Senado, após solicitação, em abril, de Confúcio Moura (MDB-RO).

Simultaneamente, instituições públicas e particulares de vários estados vêm recebendo ameaças de massacre com alguma frequência desde o fim de março. Há relatos semelhantes em municípios de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Rio Grande do Sul, Bahia, Tocantins, Goiás, Espírito Santo e do Distrito Federal.

Somente em cidades paulistas, no período de um mês – entre o início de abril e de maio –, a reportagem contabilizou 18 ameaças. […]

Apoio especializado

Psicólogas e demais entrevistados ouvidos pela reportagem ressaltam que, além do melhor preparo dos docentes, a presença diária de profissionais especializados nas instituições pode ajudar a identificar alunos com potencial de agressividade, acolhê-los e prevenir ao menos parte desses casos. […]

Para que a prevenção se concretize, defende Miriam Abramovay, socióloga, doutora em Educação e coordenadora da área de juventude e políticas públicas da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), gestores e docentes devem estar mais bem preparados para enfrentar a violência e trabalhar a convivência escolar.

“Eles têm que conhecer essa população com quem vão lidar, saber detectar coisas que dizem que não é obrigação deles, mas não tem outro jeito. É interessante ver como a escola acaba sendo um lugar de proteção, e estudos nos Estados Unidos mostram que a violência intrafamiliar aumenta nas férias. Para nós, acontece igual. A escola adquire cada vez mais importância na sociedade, então é necessária uma formação ampla para lidar com todos esses problemas”, afirma Miriam. […]

Ausência de políticas públicas

A socióloga Miriam Abramovay também observou o forte impacto provocado pela pandemia de Covid-19 e o consequente isolamento social na escalada da violência.

“Era necessário oferecer um ambiente mais acolhedor a esses estudantes, e na verdade a escola continuou exatamente a mesma. Algo aconteceu com toda essa população durante a pandemia, e não é levado em conta”, comenta.

Para ela, o tema carece de mais atenção das administrações públicas, uma vez que se relaciona a outros problemas sociais. “Não se fala nisso com a mesma importância como sobre a evasão, a repetência, a não aprendizagem, que são fundamentais. E todos têm a ver com a violência no cotidiano da escola”, ressalta.

“A violência não é só física, mas tem uma que é do cotidiano, que é o racismo, a homofobia, uma violência de classes com os mais pobres, e só chama a atenção quando se torna violência dura, que está no Código Penal”, afirma Miriam.

Leia a matéria completa no R7.