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Em entrevista a colunista do jornal O Globo, Miriam Abramovay, coordenadora da Área de Estudos sobre a Juventude da Flacso Brasil, fala sobre os resultados da pesquisa “Violência e Convivência nas Escolas”, realizada pela Flacso em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Antonio Gois, de O Globo
Numa visita feita recentemente a duas escolas públicas no interior de Alagoas, ouvi das diretoras relatos semelhantes de aumento no número de problemas emocionais que os alunos estavam trazendo para elas. Um dos casos mais graves envolvia uma estudante que começou a aparecer nas aulas com sinais de automutilação nos braços. Depois de muita conversa, a jovem explicou que sentia muito a ausência do pai, que há meses sequer telefonava para ela. A direção então tomou a iniciativa de ligar para o responsável, que, felizmente, foi receptivo e voltou a se aproximar da filha.
O crescimento de problemas como esses, de ordem emocional, não parece ser restrito ao Brasil. No mês passado, a Associação Nacional de Diretores de Escolas Primárias nos Estados Unidos divulgou uma pesquisa com as principais preocupações de diretores naquele país. Trata-se de um levantamento decenal, feito desde 1928. Pela primeira vez, problemas emocionais dos estudantes apareceram listados entre as dez maiores preocupações de gestores escolares americanos.
Ainda que não tenhamos uma série histórica tão grande para comparar, estudos no Brasil têm também identificado esse problema. Miriam Abramovay, que há duas décadas estuda o tema da violência no ambiente escolar, conta que se surpreendeu ao fazer uma pesquisa em que foram ouvidos 2.647 jovens de 13 a 19 anos nos estados do Ceará e Rio Grande do Sul. Na parte qualitativa do levantamento, 613 pessoas foram entrevistadas em profundidade. “Os temas da depressão e do suicídio apareceram com muita força. Ficamos totalmente desarmadas. Quando começamos a perguntar, muitos jovens começavam a chorar ao contar as histórias. No Ceará, pelo menos 5% disseram que já pensaram em morrer. Em Porto Alegre, foram 8%. Não é um caso em cem mil. É preocupante. Os jovens sentem falta de serem ouvidos, de dialogarem mais com os adultos sobre esses problemas”.
A pesquisa que Miriam coordenou foi feita para um programa do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, em parceria com as secretarias de Educação dos dois estados. O objetivo era identificar fatores de risco e sugerir ações que pudessem reduzir a violência e melhorar o clima escolar.
Ao enviar para as escolas os resultados do levantamento, com sugestões de ações para atacar o problema, a pesquisadora afirma que as reações foram diversas. Em alguns casos, diretores reconheciam o problema, adotavam as ações propostas, e conseguiram mudanças significativas. Em outros, houve má vontade e negação. Diziam que aquilo não acontecia ali, ou que eram só casos minoritários.
“A escola não pode jogar esse problema para baixo do tapete ou argumentar que não cabe a ela lidar com esse problema, até porque isso afeta o aprendizado e pode levar muitos jovens a deixarem de estudar. A origem pode até ser externa, mas não existe essa separação rígida entre a vida e a escola. O jovem está ali por inteiro. É preciso que professores e diretores tenham formação para entender o que é a juventude e os problemas pelos quais os alunos passam.”