Segundo o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Flacso, os dois últimos anos marcam uma pequena estabilização na taxa de suicídio no Brasil, mas ainda é cedo para falar em queda.
Por Deborah Giannini e Gabriela Lisbôa, do R7
O suicídio aumentou gradativamente no Brasil entre 2000 e 2016: foi de 6.780 para 11.736, uma alta de 73% nesse período. As maiores taxas de crescimento foram registradas entre jovens e idosos, do acordo com o Ministério da Saúde.
No mundo, o suicídio acomete mais de 800 mil pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É a segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 a 29 anos — a primeira é a violência.
Já no Brasil, em 2015, o suicídio foi a quarta causa de morte nessa mesma faixa etária, ficando atrás de violência e acidente de trânsito, de acordo com os dados do Ministério da Saúde.
No entanto, esse número tem apresentado uma pequena estabilização nos útlimos dois anos, inclusive nesses grupos, conforme explica o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pela pesquisa Mapa da Violência no Brasil desde 1998.
“Houve uma leve oscilação para baixo que ainda não pode ser considerada uma tendência de queda, pois é bem pouco significativa. Houve certa estabilização depois de um tempo de crescimento constante em todas as faixas etárias. Uma melhora na taxa que antes era de crescimento contínuo”, afirma.
“Os dois últimos anos marcam essa pequena estabilização. Só podemos falar em tendência após três anos consecutivos de queda. Estamos no segundo ano, então isso pode ser apenas uma oscilação e não uma queda”, completa.
Ele explica que a incidência de suicídio entre a população brasileira passou de 4,1 em 100 mil habitantes no ano 2000 para 5,5 em 100 mil habitantes em 2016.
Exceção à regra
Nesse período, o suicídio aumentou drasticamente em três estados. Em Roraima foi de 8,1 para 11,3 em cada 100 mil habitantes. “Aumentou 11%, mais que o dobro da média nacional”, afirma.
Os outros dois Estados com grande aumento no índice de suicídio foram Piauí, que passou de 2,8 para 10,1 em 100 mil habitantes, e o Rio Grande de Sul, que sempre foi líder nessa questão no Brasil, segundo o sociólogo. O índice foi de 10,1 para 10,4 a cada 100 mil pessoas.
“Esses são os três Estados cujas taxas são muitos significativas, taxas praticamente europeias. A região Sul foi povoada por europeus e incorporou a cultura do suicídio dentro da migração que sofreu. Veja os outros Estados do Sul: Santa Catarina tem 9,7 e Paraná, 6,8 [a cada 100 mil pessoas]. Essa região está acima da média nacional”, afirma.
Já o Rio de Janeiro apresenta 3,5; Bahia, 3,4, e São Paulo, 4,9 em 100 mil habitantes.
Segundo ele, entre a faixa etária de 15 a 24 anos e acima de 60 são consideradas as que mais crescem, de forma em geral. “A mortalidade entre jovens é muito baixa. Não são propensos a doenças. Morrem muito de acidente de trânsito, homicídio e suicídio. Não é porque suicídio seja muito elevado, mas porque as outras causas de morte são muito baixas. O jovem está em plena exuberância da vida”, afirma.
“No Brasil, não há uma forte cultura de suicídio como existe em outros países como França e Japão, que apresentam alta taxa de suicídio”, completa.
De acordo com o Ministério da Saúde, o maior índice de suicídio está entre os homens (79%), mas a maior incidência de tentativa de suicídio está entre as mulheres.
O Brasil está entre os países que assinaram o Plano de Ação em Saúde Mental 2015-2020 lançado pela OMS/OPAS. Esse plano de ação foi desenvolvido para acompanhar o número anual de mortes em cada país e o desenvolvimento de programas de prevenção.
Problema de saúde pública
Cada vez mais, o suicídio está sendo tratado com um problema de saúde mental e saúde pública.
O psicólogo Danilo Faleiros, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que se trata de um problema de saúde pública porque a incidência é alta e constante. Apesar de quedas ou aumentos sutis nos índices, os números se mantêm estáveis, da mesma forma que ocorre em relação com vítimas de doenças crônicas, como o câncer.
“O suicídio existe em todas as sociedades e causa grande impacto na vida de muitas pessoas, dos familiares, dos amigos, dos colegas de trabalho. É custoso para todos”.
O psicólogo também explica que são mortes passíveis de intervenção e podem ser evitadas na maioria das vezes. “Alguns casos escorrem pelas mãos da gente. São aquelas pessoas que não se manifestam sobre a ideia de suicídio ou não têm a oportunidade se manifestar, mas na maioria das vezes a morte pode ser evitada”, explica.
Para o psicólogo, o suicídio é um processo final de um sofrimento existencial, é o desespero extremo de uma pessoa que não conseguiu dar vazão a esse sofrimento.
“Dizer que é preciso ouvir uma pessoa que manifesta a intenção de tirar a própria vida parece simplista, mas ser capaz de ouvir e ajudar a buscar ajuda profissional é muito importante”, destaca o especialista.
Neste sentido, de acordo com o psicólogo, grupos de ajuda e assistência como o Centro de Valorização da Vida, que atende pessoas com depressão e tendência suicida podem ajudar.
O CVV foi fundado em São Paulo em 1962 e desde setembro de 2017 oferece serviço de apoio por telefone para todas as pessoas que queiram ou precisem conversar sobre suicídio, de graça, para todo o Brasil.
O serviço telefônico acontece por um termo de cooperação entre o CVV e o Ministério da Saúde.
Jovens se sentem mais sozinhos
Uma companhia de seguros norte-americana, a Cigna, encomendou um estudo ao Instituto Ipsos sobre o sentimento de solidão nos Estados Unidos. A pesquisa foi feita com base em um questionário desenvolvido pelo Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia.
Esse questionário foi aplicado em 20 mil pessoas com mais de 18 anos.
Os resultados mostram que a solidão é tão mortal quanto fumar 15 cigarros por dia e pode ser mais perogoso do que a obesidade.
Além disso, os jovens sentem mais solidão em relação às pessoas mais velhas.
O estudo mostrou que jovens com idade entre 18 e 22 anos são mais solitários e se consideram em uma situação pior de saúde do que pessoas mais velhas.
O sentimento de solidão cai gradualmente conforme a idade aumenta. O grupo menos solitário foi o de entrevistados com mais de 72 anos.
A pesquisa também observou que a solidão é uma questão de saúde mental.
Aproximadamente 1 em cada 6 adultos nos EUA sofre com algum problema de saúde mental e esta é uma das principais causas de licenças médicas prolongadas. Ao examinar as diferentes questões que afetam as pessoas com problemas de saúde mental, há uma característica em comum: elas também sofrem de solidão.
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