Mulheres se organizam em redes de apoio para ajudar umas às outras, combater a violência e o preconceito e conseguir mais respeito e oportunidades, em um vigoroso movimento que envolve famosas e anônimas e tem gerado mudanças cruciais na sociedade.
Entre os marcos do feminismo atual estão as redes de solidariedade desenvolvidas por mulheres. A maioria de apoio para vítimas de violência. “São alternativas criadas já que as instituições tradicionais não são responsáveis o suficiente”, afirma Tiburi. As conexões se dão, em grande parte, pelas redes sociais. O Fórum Nacional de Políticas Públicas para Mulheres é um dos grupos de referência, começou como uma página no Facebook e depois migrou para o Whatsapp e hoje inclui pessoas de todo o País.
“A ideia inicial era trocar informações sobre cursos e artigos e reunir contatos”, afirma Ana Victoriano, dona da iniciativa. “Mas hoje se tornou uma comunidade de ajuda a vítimas de agressões. Não imaginei que tomaria essa proporção.” Os pedidos de ajuda chegam diariamente e, por meio da rede, os contatos são feitos para que as mulheres possam receber orientação adequada. Depois de passar meses apanhando do marido, a advogada Maíra Moura Soares Neves, 41 anos, procurou Ana em outubro de 2017 e conseguiu deixar o casamento em que era agredida constantemente e do qual se via refém.
“Em qualquer conversa, ouvia gritos de vagabunda ou recebia tapas”, diz. Moradora da cidade de Barra do Bugres, a 180km de Cuiabá (MT), era casada com um delegado e não tinha como denunciá-lo em uma delegacia. “Com certeza iam engavetar meu caso.” Maíra então usou o Facebook para pedir ajuda a Ana, que acionou conhecidas em São Paulo. Elas falaram com juristas no Mato Grosso que indicaram uma promotora em uma cidade próxima a dela. “Criaram uma corrente de ajuda”, diz. Em pouco tempo, uma denúncia foi feita contra o ex-marido de Maíra e ela se separou. A mesma promotora foi quem a ajudou a retirar seus pertences da antiga casa. Ao contar sua história, Maíra chora, respira fundo e conclui: “Eu estava de mãos atadas, mas essa rede de mulheres me salvou.”
Duas campanhas recentes que surgiram nos Estados Unidos dão o tom da amplificação das transformações: “Me Too” (“eu também”, em português), em que mulheres expuseram abusadores contando suas histórias; e Time’s Up (algo como “esse tempo acabou”, em tradução livre), que inclui a criação de um fundo para ajudar vítimas de assédio sexual na indústria do entretenimento em Hollywood. Além dessas iniciativas, o fim das “grid girls”, garotas que frequentavam os locais de provas da Fórmula 1 com roupas minúsculas, também é um indício da mudança de postura em relação às mulheres.
“A ideia inicial era trocar informações sobre cursos e artigos e reunir contatos”, afirma Ana Victoriano, dona da iniciativa. “Mas hoje se tornou uma comunidade de ajuda a vítimas de agressões. Não imaginei que tomaria essa proporção.” Os pedidos de ajuda chegam diariamente e, por meio da rede, os contatos são feitos para que as mulheres possam receber orientação adequada. Depois de passar meses apanhando do marido, a advogada Maíra Moura Soares Neves, 41 anos, procurou Ana em outubro de 2017 e conseguiu deixar o casamento em que era agredida constantemente e do qual se via refém.
“Em qualquer conversa, ouvia gritos de vagabunda ou recebia tapas”, diz. Moradora da cidade de Barra do Bugres, a 180km de Cuiabá (MT), era casada com um delegado e não tinha como denunciá-lo em uma delegacia. “Com certeza iam engavetar meu caso.” Maíra então usou o Facebook para pedir ajuda a Ana, que acionou conhecidas em São Paulo. Elas falaram com juristas no Mato Grosso que indicaram uma promotora em uma cidade próxima a dela. “Criaram uma corrente de ajuda”, diz. Em pouco tempo, uma denúncia foi feita contra o ex-marido de Maíra e ela se separou. A mesma promotora foi quem a ajudou a retirar seus pertences da antiga casa. Ao contar sua história, Maíra chora, respira fundo e conclui: “Eu estava de mãos atadas, mas essa rede de mulheres me salvou.”
Duas campanhas recentes que surgiram nos Estados Unidos dão o tom da amplificação das transformações: “Me Too” (“eu também”, em português), em que mulheres expuseram abusadores contando suas histórias; e Time’s Up (algo como “esse tempo acabou”, em tradução livre), que inclui a criação de um fundo para ajudar vítimas de assédio sexual na indústria do entretenimento em Hollywood. Além dessas iniciativas, o fim das “grid girls”, garotas que frequentavam os locais de provas da Fórmula 1 com roupas minúsculas, também é um indício da mudança de postura em relação às mulheres.
Outro exemplo é o latino-americano Ni Una Menos, que organiza passeatas anuais contra o feminicídio. O movimento chegou também ao Oriente Médio. No Irã, em janeiro e fevereiro deste ano, mulheres protestaram contra a obrigatoriedade do uso do véu, em vigor desde 1979. Cerca de 30 foram presas em uma manifestação recente. Na Arábia Saudita, o governo mudou uma lei que exigia o consentimento de um homem para que uma mulher abrisse uma empresa. O feminismo tem se espalhando por vários lugares do mundo e há causas similares. Mas é preciso pensar nas diversas realidades enfrentadas pelas mulheres, inclusive no Brasil.Feminismos
O feminismo brasileiro tem características específicas como a necessidade de pensar as diferentes perspectivas envolvendo gênero e, principalmente, raça, classe e sexualidade. É um dos debates mais atuais dentro do movimento. “Ser branca em São Paulo é diferente de ser negra e nordestina”, diz Mafoane Odara, coordenadora de projetos do Instituto Avon. Diretora executiva da Anistia Internacional e fundadora da ONG Criola, Jurema Werneck aponta que o feminismo clássico trata da mulher branca de classe média, mas há outras questões que precisam ser mais debatidas. “O movimento ainda precisa ver como lidar com a maioria das mulheres, e isso inclui negras, trans, entre outros grupos”, afirma. Ela complementa:
“Não digo que as pautas não ressoem, nem estou negligenciando reivindicações, mas é preciso retornar aos princípios do próprio feminismo de igualdade e justiça e ter olhar mais amplo.” Integrante da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, Juliana Gonçalves afirma que hoje o correto é falar sobre feminismos, no plural, e sobre como os grupos estão se articulando. “As sufragistas e a queima dos sutiãs são sempre lembradas, mas a resistência começou bem antes”, diz. “Enquanto as mulheres brancas estavam batalhando para entrar no mercado de trabalho, minhas ancestrais já trabalhavam há muito tempo.” Gonçalves ressalta que respeitar diferenças não pode ser motriz de desigualdade ou separação. Pelo contrário, é o que dá mais força. “Mas é preciso escuta. Quem tem uma bagagem diferente não pode ser tratada como uma desigual, pois a intolerância se traduz em números que matam e ferem.”
No caso de mulheres negras, que representam um quarto da população brasileira, a sobreposição entre desigualdade de gênero e de raça resulta em números alarmantes. O Mapa da Violência 2015 mostra que a taxa de homicídios entre negras aumentou 54,2% entre 2003 e 2013. No mesmo período, a taxa entre brancas caiu em 9,8%. Além disso, é o perfil social com os maiores índices de desemprego: 17,4% contra 11,6% da média feminina com ensino médio.
Resistência do mercado de trabalho e violência constante são realidades também para transexuais e travestis, em um País com as mais altas taxas de assassinatos desse grupo no mundo. Em 2016, aconteceu uma morte a cada dois dias. Diante desses dados e com a popularização do feminismo, discute-se atualmente a necessidade de olhar para as diferentes questões e se unir para combatê-los. “Essas outras vertentes surgem como forma de forçar o feminismo mais hegemônico a repensar suas práticas e perspectivas, se não a luta só serve para garantir igualdade a um segmento muito específico de mulheres”, afirma a escritora e militante feminista trans Amara Moira.
“Não digo que as pautas não ressoem, nem estou negligenciando reivindicações, mas é preciso retornar aos princípios do próprio feminismo de igualdade e justiça e ter olhar mais amplo.” Integrante da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, Juliana Gonçalves afirma que hoje o correto é falar sobre feminismos, no plural, e sobre como os grupos estão se articulando. “As sufragistas e a queima dos sutiãs são sempre lembradas, mas a resistência começou bem antes”, diz. “Enquanto as mulheres brancas estavam batalhando para entrar no mercado de trabalho, minhas ancestrais já trabalhavam há muito tempo.” Gonçalves ressalta que respeitar diferenças não pode ser motriz de desigualdade ou separação. Pelo contrário, é o que dá mais força. “Mas é preciso escuta. Quem tem uma bagagem diferente não pode ser tratada como uma desigual, pois a intolerância se traduz em números que matam e ferem.”
No caso de mulheres negras, que representam um quarto da população brasileira, a sobreposição entre desigualdade de gênero e de raça resulta em números alarmantes. O Mapa da Violência 2015 mostra que a taxa de homicídios entre negras aumentou 54,2% entre 2003 e 2013. No mesmo período, a taxa entre brancas caiu em 9,8%. Além disso, é o perfil social com os maiores índices de desemprego: 17,4% contra 11,6% da média feminina com ensino médio.
Resistência do mercado de trabalho e violência constante são realidades também para transexuais e travestis, em um País com as mais altas taxas de assassinatos desse grupo no mundo. Em 2016, aconteceu uma morte a cada dois dias. Diante desses dados e com a popularização do feminismo, discute-se atualmente a necessidade de olhar para as diferentes questões e se unir para combatê-los. “Essas outras vertentes surgem como forma de forçar o feminismo mais hegemônico a repensar suas práticas e perspectivas, se não a luta só serve para garantir igualdade a um segmento muito específico de mulheres”, afirma a escritora e militante feminista trans Amara Moira.
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