Houve confrontos com a polícia no começo e no fim da marcha. Confederação de estudantes estima que 90 mil pessoas participaram.
Milhares de estudantes chilenos foram às ruas nesta terça-feira (11) em protesto para denunciar o que classificam como uma crise na educação no país, no momento em que o Congresso se prepara para iniciar a discussão de uma reforma no ensino superior.
A Confederação de Estudantes do Chile (Confech) se queixa que as mudanças promovidas pelo governo da presidente socialista Michelle Bachelet são insuficientes e mantém as falhas do sistema atual, apesar da promessa do governo promover um modelo que garanta gratuidade e qualidade.
Com cartazes com dizeres como “A educação segue em crise, não a deixemos cair”, apitos e bandeiras, os manifestantes avançaram pela avenida principal do centro de Santiago, assim como em outras cidades pelo país.
Entre as demandas do movimento estão o perdão de dívidas educacionais, o fim do lucro na educação e cobranças a respeito das garantias de gratuidade e qualidade prometidas por Bachelet em sua campanha.
De acordo com a France Presse, logo no início do protesto, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e os manifestantes responderam com pedras e pedaços de madeira, ameaçando o clima festivo e pacífico que permaneceu durante grande parte do tempo. Também houve outros confrontos com a polícia no fim da marcha.
A Confederação de Estudantes do Chile (Confech) estimou que 90 mil pessoas tenham comparecido ao protesto.
‘Falta qualidade’
“Não sei se o governo está se fazendo de bobo. Não se pode legislar sem escutar os movimentos sociais”, disse a jornalistas Daniel Andrade, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile.
“A reforma não é suficiente, falta gratuidade e falta qualidade na educação pública. Falta muito e por isso temos que protestar”, comentou à AFP Rocío, uma estudante de Ciências Sociais que se juntou à manifestação quando passava em frente à sede do governo chileno.
“É uma desilusão” esta reforma, comentou Juan Pablo de la Torre, outro dos milhares de estudantes que compareceram à marcha.
Votação
Os protestos ocorreram antes de a comissão de Educação da Câmara de Deputados do Chile votar nesta terça a reforma da educação superior proposta pelo governo, ainda que se espere um possível repúdio por parte dos parlamentares.
O deputado e ex-dirigente estudantil Giorgio Jackson pediu ao governo que “abandone a soberba, abandone essa ideia de legislar de costas para a cidadania e que acabe imediatamente com a discussão do projeto”.
Os discentes acusam o governo de Bachelet de ignorar suas opiniões e legislar, com maioria em ambas as Câmaras, sem levar em conta os movimentos sociais, fundamentais para impulsionar a reforma de um sistema educacional herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Este sistema facilitou a criação de universidades privadas e desmontou a educação pública em todos os seus níveis, ao reduzir drasticamente os recursos destinados a ela.
Para adiantar os benefícios desta nova lei, o governo de Bachelet optou em 2016 por estabelecer mediante a Lei de Orçamento Geral da Nação a gratuidade universitária para dezenas de milhares de estudantes chilenos, os primeiros a estudar sem custos em décadas.
Este ano, repetiu a fórmula, beneficiando 200 mil alunos, mas agora deve assegurar uma lei que garanta o benefício a longo prazo.
Eleições
Mas, com a proximidade das eleições presidenciais, o movimento estudantil começou a pressionar pela concretização de uma educação pública, gratuita e de qualidade no Chile.
Neste contexto, o ex-presidente de direita Sebastián Piñera, cujo primeiro mandato viveu o renascimento do movimento estudantil, lidera as pesquisas com 25% das intenções de voto.
Confirmando seu caminho para a reeleição, Piñera – que teve sua afirmação de que a “educação é um bem de mercado” reprovada pelo movimento estudantil – assegurou que não apoia a gratuidade universal, e que, caso voltasse ao poder, optaria por um sistema de bolsas e créditos.
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