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Na Uerj, as pessoas precisam chamar os elevadores no grito porque os botões não funcionam Foto: Bruno Alfano

Na Uerj, as pessoas precisam chamar os elevadores no grito porque os botões não funcionam Foto: Bruno Alfano

“Ooooonze!” O grito vem em coro, logo após batidas na porta de ferro. Na Uerj, é preciso realmente “chamar o elevador”, aos berros. O problema é que não há botão para fazer com que os elevadores sigam até o andar onde o passageiro espera — um detalhe, entre as tantas precariedades que atualmente impedem, na avaliação dos professores da instituição, o retorno às aulas em 2017, auge da mais grave crise da história da universidade.

A ascensorista da Uerj Elidia de Souza da Silva: trabalho sem salário Foto: BARBARA LOPES

A ascensorista da Uerj Elidia de Souza da Silva: trabalho sem salário Foto: BARBARA LOPES

— Aqui, a gente ganha elevador no grito — diz a aluna de pós-graduação em Psicologia Layse Costa, de 31 anos.

Maioria dos elevadores da Uerj está parada por problemas técnicos e sem manutenção Foto: BARBARA LOPES

A situação entristece quem tem uma relação direta com a instituição. A mais popular dos ascensoristas é Elidia Silva, a Tinininha. Ela tem 76 anos e está há quase uma década auxiliando o sobe e desce dos elevadores da Uerj. Foi trabalhar, na semana passada, mesmo com três meses de salários atrasados.

— Essa crise é muito grave. Mas se eu parar de trabalhar aqui, eu morro — declara-se Tinininha.

Lá, já viu um ladrão se dar mal depois de roubar a mala de dinheiro (vazia!) de um professor que, depois de sair do banco, havia guardado toda a grana na cueca por precaução. Também sofreu com um rebuliço no ano passado, quando um homem entrou na universidade jurando que mataria a ex-mulher por não aceitar o fim do relacionamento. Enquanto ele subia pelo elevador, a mãe tentava convencê-lo que era uma barbárie o que ele pretendia fazer — e que foi evitada pelos seguranças.

— Perguntaram por que eu o levei no elevador. Eu vou negar passageiro? — brinca. — Pelo menos deu tudo certo.

Incerto mesmo é o futuro da Uerj.

Acidente deixou um ferido

Os novos alunos, especialmente de cursos que funcionam nos andares mais altos, como Direito, no 9º, ou Educação, no 12º, aprendem rapidamente que é preciso chegar com antecedência à universidade para pegar a aula no começo. A fila para entrar nos elevadores enche o hall principal da universidade.

No entanto, por causa da greve de funcionários — que pedem o pagamento em dia dos salários —, a Uerj tem estado vazia nos últimos dias, o que pode, por ironia, ter evitado uma tragédia maior quando, na última terça-feira, um elevador despencou do 3º andar com duas pessoas, ferindo uma delas, sem gravidade. Agora, quatro dos oito elevadores estão parados para manutenção.

“Nós professores não estamos em greve. É a universidade que não tem condição de funcionar. Infelizmente”, afirmou Lia Rocha, presidente da Associação de Docentes da Uerj (Asduerj).

A instituição confirma que “a manutenção dos elevadores vem sendo afetada pela falta de repasses”.