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Nota do Laboratório de Políticas Públicas à sociedade fluminense

A UERJ está sob ameaça

As sociedades carioca e fluminense têm acompanhado a profunda crise em que vive a maior universidade de pesquisa mantida pelo Governo do Estado do Rio, uma crise que ele próprio produz. A Uerj é uma das universidades melhor avaliadas no Brasil, mas nem por isso tem recebido do Governo do Estado o reconhecimento de seu papel de formadora de pessoas, pesquisadora de ponta e parceira na troca de saberes com a sociedade. Pela avaliação do Best Global Universities Rankings de 2017 a UERJ, entre 1000 universidades avaliadas, está entre as 500 mais bem avaliadas de 65 países. Na América Latina ocupa a 11ª posição e, no Brasil, segundo o mesmo ranking, é a 5ª. colocada. Seu dimensionamento em números é impressionante. Em 2015 contava com 29.011 estudantes, dos quais 9.049 eram bolsistas, 2.425 docentes, 86 professores visitantes, 101 estudantes estrangeiros, todos com atividades em 12 campi espalhados pelo Estado do Rio de Janeiro.

O seu sucateamento, entretanto, vem ocorrendo com mais ou menos intensidade, inclusive com a anuência do Superior Tribunal Federal (STF), que manteve em 2014 a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) impedindo a UERJ receber 6% da renda líquida do Estado do Rio, relatada pela Ministra Carmen Lúcia, atual presidente da Corte. Tem sido pouco efetivo os esforços de governantes fluminenses e deputados estaduais em apoiar a UERJ. De certo modo, até a imprensa é conivente com o desmonte da UERJ prestando informações equivocadas e deixando de dar o devido destaque, por exemplo, à participação dos seus cientistas no sequenciamento do DNA da bactéria gluconacetobacter diazotrophicus – encontrada em culturas agrícolas, como a cana-de-açúcar, o café e a batata-doce. A mesma imprensa também deixou de dar a devida visibilidade à confirmação do Prêmio de Nobel de Física de 2013, ao belga François Englert e ao britânico Peter Higgs, graças aos estudos do grupo CERN (European Organization for Nuclear Research), do qual participa o cientista da UERJ, Dr. Alberto Santoro, como líder de 80 cientistas brasileiros ligados a este programa.

A atividade de pesquisa na UERJ é intensa e extensa. É realizada por cientistas de 450 grupos de pesquisa, em 511 Laboratórios, 194 Oficinas, Ateliês e 278 Centros de Estudos e Núcleos e já cadastrou 20.494 novos produtos. O Catálogo de Patentes 2015 da UERJ dá destaque a 35 novos produtos, dos quais 7 são da área de desenho industrial e 28 de programação de computadores. O Departamento de Inovação (InovUerj), responsável pela edição do catálogo de patentes, contabiliza ainda 33 outras invenções, 7 inovações tecnológicas e 34 novas marcas.

A atividade de extensão, por sua vez, é igualmente considerável. Atualmente estão ativos 148 eventos de extensão, 623 Projetos de Extensão, 34 Programas de Extensão e 286 Cursos de Extensão. Eles contemplam as Ciências Agrárias, Biológicas, Exatas e da Terra, Humanas, Saúde, Engenharias, Linguística, Letras e Artes.
A atividade ensino, talvez a mais conhecida da população, é empreendida por 1.920 docentes e se realiza com o oferecimento presencial ou à distância de 40 cursos de graduação, 141 de especialização (pós-graduação latu senso), 54 mestrados e 38 doutorados acadêmicos, e 2 mestrados e doutorado profissionais. A maioria dos cursos de pós-graduação stricto sensu tem avaliação-CAPES entre 4 e 5. Sete programas com Mestrado e Doutorado conseguiram grau de excelência internacional, com notas máximas atribuídas pela CAPES: 6 e 7.

A força social constituída pelo conjunto de cientistas, docentes, funcionários técnico-administrativos, bolsistas, visitantes e outros colaboradores é o que vem contendo o sucateamento que provem da insanidade política, administrativa e antirrepublicana dos poderes do Estado do Rio de Janeiro. Ao dilapidar um patrimônio público de grande potencial estratégico para o desenvolvimento do Estado e para o bem-estar da sociedade fluminense (por exemplo, fechando 312 leitos no Hospital Universitário Pedro Ernesto – HUPE e restringindo o número de atendimentos médicos diários), é preciso qualificar tal sucateamento como inaceitável na medida em que também tem impacto negativo sobre a própria sociedade fluminense.

Os estudantes são os primeiros a sofrer com a falta de condições de oferta de ensino, pesquisa e extensão. Mas não apenas eles, também sofre a sociedade fluminense ao ter diminuída a formação qualificada de profissionais para as diversas áreas de conhecimento e ao deixar de receber os benefícios dos muitos projetos de extensão. A própria sociedade brasileira não está imune aos prejuízos que advêm da retração das pesquisas de ponta desenvolvidas nos laboratórios da UERJ, no mínimo aumentando nossa dependência aos centros estrangeiros de pesquisa em Ciências, Tecnologias & Inovação. De um ponto de observação mais elevado, considerando o cosmopolitismo da UERJ, é possível ainda estender os efeitos de tal sucateamento às redes internacionais de intelectuais e acadêmicas das quais a UERJ faz parte. É isto o que justifica as centenas de manifestações de cientistas estrangeiros neste momento de crise em defesa da Uerj e de seu patrimônio acadêmico.

O Laboratório de Políticas Públicas da Uerj, seus cientistas, técnicos e estudantes repudiam com veemência o descaso com que o Governo do Estado do Rio tem tratado a Universidade e se somam a todos aqueles que reconhecem na Uerj um patrimônio inestimável da sociedade fluminense e uma parceira ativa na produção mundial do conhecimento acadêmico.

Todos somos UERJ. A luta pelo seu reerguimento é de todos nós.

A UERJ resiste!
#uerjresiste