As ações afirmativas implementadas recentemente como regra para ingresso de discentes no Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar – Mestrado Profissional (PPGEE/MEPE) da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR) garantiram o ingresso de indígenas, pretos, pardos e de pessoas com deficiência em sua terceira turma, cujas aulas iniciaram na última segunda-feira, 12, no campus de Porto Velho.
Primeiro na Instituição a adotar ações afirmativas para seleção de alunos de pós-graduação, o PPGEE/MEPE inovou ao disponibilizar quatro vagas, de um total de 14, para ações afirmativas: duas vagas para candidatos autodeclarados negros, pretos ou pardos; uma vaga para indígena e uma vaga para pessoa com deficiência.
O programa já teve outras duas edições, a primeira foi realizada em 2014, em parceria com o IFRO, e a segunda, em 2015, em parceria com IFRO e IFAM, ambas com 30 vagas, mas o resultado final do processo seletivo de 2016 surpreendeu o Colegiado do PPGEE/MEPE, pois o desempenho dos candidatos indígenas possibilitou que ocupassem as primeiras vagas no âmbito da ampla concorrência, ou seja, teriam se classificado independentemente da reserva de vagas. Joaton Surui, Zacarias Gavião e Luiz Weymilawa Surui alcançaram, respectivamente, o 1º, 2º e 4º lugares.
Para a professora Juracy Machado Pacífico, coordenadora adjunta do programa, “as ações afirmativas constituem uma forma de tratamento peculiar que reconhecem as especificidades das trajetórias das pessoas ou grupos e que busca superar a subalternização de extratos sociais rumo à emancipação social”.
Vagas para Indígenas
Os novos alunos do Programa, que foram candidatos às vagas das ações afirmativas, consideram que a UNIR, por meio do PPGEE/MEPE, inicia um momento que será lembrado na história da pós-graduação.
“Estou muito feliz por estar aqui. Meu ingresso como mestrando é muito importante porque essa é mais uma conquista na minha vida pessoal e profissional. É uma conquista que ficará marcada na minha história, na minha vida. Entrei no MEPE em busca de novidade, de qualificação na minha profissão”, disse Joaton Surui.
O mestrando Zacarias Gavião, da etnia Ikolen Gavião, de Ji-Paraná, afirmou que pretendia fazer mestrado, mas não imaginou que ingressaria tão rápido. “Minha entrada no MEPE é uma novidade que traz muitas felicidades. É um sonho que está sendo realizado. Terminei o curso de licenciatura Intercultural recentemente e já sou aluno do MEPE! É uma conquista importante. Somos umas das primeiras turmas a abrirem espaço para a participação dos povos indígenas no processo de pós-graduação em Educação no Brasil. Em síntese, é um fato muito importante para nossas comunidades [indígenas]”.
O terceiro indígena aprovado, Luiz Weymilawa Surui, contou que, a princípio, sonhava em fazer mestrado em outra universidade, fora de Rondônia, mas que agora está muito feliz por ter ingressado no MEPE, dentro do Estado ao qual pertence. “Minha alegria é imensa, para nós indígenas foi uma conquista significativa. Muito feliz!”.
Vaga para pessoa com deficiência
A vaga destinada à pessoa com deficiência foi preenchida por um aluno cego, o Robson André Santos de Souza. Para ele, concorrer a uma vaga do mestrado em Educação Escolar, na condição de aluno com necessidade, é muito importante. “Foi um passo importante. É a realização de mais um projeto de vida. A pessoa com deficiência também pode ter acesso à boa formação de mestrado, principalmente por se tratar da Universidade Federal de Rondônia. Estou muito feliz!’’, declarou.
Vagas para candidatos negros
As duas vagas destinadas a candidatos negros, pretos e pardos foram preenchidas por um aluno, Arquimar Barbosa de Oliveira, e uma aluna, Nadia Cristina de Toledo, que também consideram a abertura de vagas para as ações afirmativas um avanço na política de acesso à pós-graduação da UNIR.
Nadia Cristina de Toledo também se diz satisfeita por ter ingressado no Mestrado e acredita que é um passo muito importante para seu sucesso profissional. “A partir de agora, novos horizontes se abrirão a meu favor. Estou grata pela oportunidade. Garanto fazer um bom trabalho de pesquisa e ajudar o coletivo, os professores do Programa de Pós-Graduação e a comunidade”.
De acordo com as observações do segundo candidato aprovado nas vagas para negros, Arquimar Barbosa de Oliveira, que trabalha no Instituto Federal, “há poucas pessoas com mestrado, na condição de índio, negro e pardo. Dentre 32 professores, há somente um negro com mestrado. É uma forma de incluir mais pessoas na pós-graduação e vai colaborar bastante na ampliação e qualificação das pessoas para o mercado do trabalho.
Inovação e democratização do acesso ao Ensino Superior
Para a coordenação do Programa, o edital de seleção da turma de 2016 constituiu um instrumento importante para viabilização e democratização do acesso ao ensino superior e, especialmente, à pós-graduação na universidade pública federal.
“É um momento significativo de aprendizagens, no que se refere à efetiva inserção de grupos até então excluídos da pós-graduação, principalmente na área de Educação, já que pela primeira vez estarão convivendo, estudando e pesquisando em uma mesma turma de mestrado três indígenas, uma pessoa com deficiência (cega) e dois cidadãos autodeclarados negros juntamente com alunos ingressos pela demanda universal”, observou o professor José Lucas Pedreira Bueno, docente e Coordenador do PPGEE/MEPE.
Para a presidente da comissão responsável pela elaboração da proposta de ações afirmativas do Programa e docente do PPGEE/MEPE, Josélia Gomes Neves, o desafio agora é pensar institucionalmente e indissociavelmente o binômio permanência e sucesso.
A coordenadora ajunta do PPGEE/MEPE, professora Juracy Machado Pacífico, defende que “é preciso assegurar a representação de todos os grupos sociais, tendo em vista que os percentuais apresentados em espaços como o da Universidade não representam de forma justa e proporcional a representação quantitativa dos extratos sociais”. A professora diz ainda que “a execução de ações afirmativas é um elemento que, na concepção do Colegiado do PPGEE/MEPE, deveria ser considerado nos processos avaliativos de pós-graduação realizados pela CAPES”.
O Mestrado em Educação Escolar
O Mestrado Profissional em Educação Escolar é um Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu que tem o propósito de formar docentes-pesquisadores das práticas escolares para os diversos espaços educativos, escolares e não escolares. A formação ofertada pelo PPGEE/MEPE contempla conhecimentos didáticos, pedagógicos, políticos, científicos e tecnológicos com vistas a assegurar a análise crítica dos fenômenos histórico-sociais e interculturais, metodologicamente orientados, buscando a reflexão com a finalidade de transformar a escola e a sociedade.
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