Dados obtidos pelo G1 via Lei de Acesso aponta custo de R$ 15 por texto. A maioria dos avaliadores é mulher e tem entre 30 e 50 anos.
Mais de 10 mil avaliadores, a maioria mulheres formadas Letras com foco em linguística, corrigem, em média, 70 redações por dia ao custo de pouco mais de R$ 15 para o governo federal. Essa poderia ser a síntese de como as redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) movimentam uma legião de profissionais terceirizados que avaliam o desempenho dos alunos que sonham com a nota mil no texto.
Com dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, o G1 traça abaixo um panorama do trabalho de correção e, acima em vídeo, reúne dicas de especialistas para orientar os candidatos sobre como oferecer o melhor texto para avaliadores que lidam com dezenas de texto por dia. “É muito massacrante, a gente fica com dor nos olhos, quer matar todo mundo no período. Por isso que passam tantos erros”, afirmou ao G1 um dos corretores, que não pode se identificar por questões contratuais.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), as redações não são avaliadas diretamente por profissionais da pasta ou do órgão que aplica o exame, o Inep. Segundo o Inep, são contratadas “instituições especializadas com a finalidade de operacionalizar a aplicação e correção de suas avaliações e exames”.
De acordo com dados obtidos pelo G1, desde 2009, quando 3,15 milhões de redações foram avaliadas, o custo per capta da correção das redações subiu de R$ 3,14 em 2009 para R$ 15,88 no ano passado. Em 2015, 6,54 milhões de textos foram corrigidos.
“Esses custos englobam todos os valores referentes à estrutura necessária à correção das redações, tanto o aparato físico, profissionais envolvidos na logística e em atividades administrativas, quanto de capacitação dos corretores que atuarão nessa atividade, e a correção em si”, informa o Inep. O órgão informou que não tem estimativa de quanto as empresas terceirizadas repassam aos profissionais envolvidos na leitura dos textos.
Para o corretor, o valor recebido é menor, segundo um professor ouvido pelo G1 e que relatou sua experiência. “Nos anos em que corrigi, ganhei de R$ 3 a R$ 3,50 por texto. Corrigi 1000 redações e ganhei em torno de R$ 3.000. Porque tem descontos e isso ninguém fala para o corretor antes”, explica.
Ao longo da série histórica, desde 2009, as mulheres são maioria e mantém patamares de participação por volta dos 80%. No ano passado, o percentual foi de 80,97%. Em relação à idade, 23,87% tinha entre 20 e 30 anos, outros 41,96% tinham entre 30 e 40 anos, e outros 21,09% tinham entre 40 e 50 anos.
Divisão por estados
Considerando os dados do ano passado, São Paulo é o estado com o maior contingente de avaliadores, com 1340, seguido pelo Ceará, com 1274, e Minas Gerais, com 801.
Exigências
Para participar das correções, é preciso ter formação em Letras e ter mestrado, doutorado ou especialização em Língua Portuguesa, em Literaturas de Língua Portuguesa ou em Linguística e ter experiência comprovada de, no mínimo, 5 (cinco) anos em avaliação de redações em larga escala. Para ser contratado, o nome do professor precisa ser indicado pelas reitorias das Universidades brasileiras ou das Secretarias de Educação dos Estados à empresa aplicadora contratada para aplicação do Exame.
“O número de redações que corrigimos diariamente varia. Tem gente que consegue 100, outros 200, outros 300. Não é um número combinado previamente. São malotes de 50 redações e só é possível abrir um novo malote no sistema quando tiver terminado o anterior. Eu já corrigi 800 em um Enem, em outro, fiz 1500. Vai da rotina de cada um. Tem gente que corrige muito rápido. A sugestão que nos dão é que levemos de 2 a 3 minutos por redação”, afirmou um dos corretores.
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