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Pela primeira vez em 54 anos da instituição, a UnB (Universidade de Brasília) poderá ter uma mulher à frente da reitoria. A diretora do Instituto de Geociências da instituição, Márcia Abrahão, foi eleita para chefiar a instituição pelos próximos quatro anos, mas ainda depende de ter o nome aceito pela Presidência da República em uma lista tríplice –que, antes, será apreciada na próxima sexta (16) pelo Conselho Universitário.

Apesar do feito –ela se elegeu com mais de 53% dos votos e com três chapas na disputa–, Márcia deve entrar para uma estatística que ainda pouco representa uma população formada majoritariamente por mulheres no Brasil. É o que mostra um levantamento feito pelo UOL com as 63 universidades federais distribuídas pelas cinco regiões do país, nas quais, a cada quatro reitores, apenas uma é mulher.

Em outras palavras, apenas 16 instituições (pouco mais de 25%) são chefiadas por reitoras.

De acordo com o levantamento, produzido a partir das informações dos portais das universidades, a disparidade entre homens e mulheres chefes na administração superior é mais ampla justamente na região que concentra a maior parte das 63 federais: o Sudeste, com 19 instituições, nas quais apenas 15,8% têm reitoras. São três universidades, ao todo: a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a UFV (Universidade Federal de Viçosa) e a UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).

Em segundo lugar no ranking de baixa representatividade feminina está o Sul, com 18,18% de reitoras em um universo de 11 instituições. As mulheres chefiam a administração apenas na UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) e na FURG (Universidade Federal do Rio Grande).

Na região Norte do país, com dez federais e 30% de reitoras, as mulheres chefiam a Unifap (Universidade Federal do Amapá), a UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e a UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará).

No Nordeste, 33,33% das 18 universidades federais têm mulheres na chefia da administração – caso da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), UFAL (Universidade Federal de Alagoas), UFMA (Universidade Federal do Maranhão), UFOB (Universidade Federal do Oeste da Bahia), UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco).

A região Norte é que a detém o maior percentual de participação feminina em reitorias, 40%, mas em um total de cinco universidades. Há reitoras na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso).

Homens invisibilizam mulheres

Para a professora de sociologia da educação da Faculdade de Educação da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) – onde há reitor e vice-reitora – e integrante do Conselho Estadual da Mulher de Minas Gerais, Daniela Auad, 43, a disparidade entre homens e mulheres na chefia da administração superior mostra o quanto o ambiente acadêmico, “apesar de ele ser o espaço próprio para a reflexão”, ainda reproduz padrões de desigualdade entre os gêneros do restante do mercado de trabalho.

“Ocorre que a universidade não está acima de outras esferas da sociedade, ela é parte do mercado de trabalho para homens e mulheres como qualquer outro espaço. É bem verdade que não basta ser mulher para se ter boas pautas e propostas na disputa da administração superior, mas muitas têm, são muito boas e ainda são minoria nas eleições para reitoria e em cargos de poder”, afirmou a professora.

“As mulheres professoras têm tanta formação e competência na universidade quanto os professores homens; podem ser tão lideranças quanto os homens. Mas, na hora de fechar chapa para disputar a reitoria, eles mesmos não as querem –não é uma mera questão de esquerda e direita. Não somos a caricatura da feminista louca: somos mulheres no mercado de trabalho aptas a e ter excelência na administração superior”, disse Auad.

Na avaliação da professora, que é pesquisadora de gênero e de feminismo, a organização das chapas para reitoria até que é mista, mas de tal forma que “os homens mesmos invisibilizam as mulheres e assumem os cargos de mando”.

“As mulheres no ensino superior são pura resistência – porque tradicionalmente são pensadas para executar tarefas que sejam adaptadas pelo fato de potencialmente serem ‘cuidadoras’, ‘mães’ – elas podem e querem ser chefes. Hoje, até homens que se dizem de esquerda continuam a vem a mulher dessa maneira. Estamos na universidade para fazer pesquisa, docência, extensão e administração superior, não para ser mulheres que assessoram os homens e votam neles –mas também para ser assessoradas e votadas por eles. Equidade também é isso”, afirmou Auad.