Formada em junho, Ana Karla espera carteira da OAB para advogar.
Aos 33 anos, ela passou na OAB antes mesmo de terminar o curso.
A ex-babá Ana Karla Santa Ana, de 33 anos, mudou seu destino ao formar em Direito e passar na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes mesmo de concluir o curso.
Mulher, negra e pobre, Ana não tinha as condições favoráveis, mas com muita determinação provou ser possível crescer. “Quero fazer escola de magistratura e ser juíza. O aprendizado é contínuo”, disse Ana Karla.
Após concluir o ensino médio em 2009, na modalidade de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), Ana Karla prestou Enem em 2010, e obteve 800 pontos na prova de redação e média de 649 na prova objetiva.
O resultado foi a conquista de bolsas integrais em três instituições. O caminho foi difícil, mas ela contou com a ajuda de alguns “anjos da guarda”.
O primeiro deles é o marido, Sidnei Lima da Silva, de 32 anos, que a inscreveu no Enem e, durante todo o curso, a ajudava a custear as despesas, vendendo balas no Terminal de Laranjeiras, na Serra.
Ele conta que a apoiou desde o momento que ela falou do sonho de ser advogada. “As pessoas falavam que ela não conseguiria, mas eu sempre acreditei”, disse.
A renda que Sidnei obtinha, entre R$ 800,00 e R$ 1 mil mensais, era usada para pagar as despesas da casa e garantir passagens e alimentação para a esposa.
“Certa vez um professor me deu R$ 50,00 para eu pagar passagem, mas quando eu não tinha dinheiro, também pedia carona nos ônibus”, conta a bacharel em Direito.
Uma amiga, em especial, marcou a trajetória de Ana Karla: a universitária Ruth Gonçalves. Antes dela entrar na faculdade, Ruth deu a ela um emprego de vendedora na loja onde trabalhava como gerente.
“E por eu morar próximo a faculdade, nos reencontramos. Eu a ajudava como podia. Sua humildade a fez ir longe”, afirma Ruth.
Prova
No último ano do curso, Ana Karla, que é moradora de Nova Carapina, na Serra, intensificou os estudos para passar na concorrida prova da OAB. Ela lembra que, às vezes, entrava na faculdade às 8h e saía após às 22h.
“Estudava até de madrugada, pois os conteúdos que aprendia na faculdade revia em casa. Os livros eram emprestados da biblioteca.”
O professor de Direito Civil e coordenador do curso de Direito da Faculdade Estácio de Sá, Carlos Alberto Hackbardt, é só elogios à postura de Ana Karla. “Ela serve de exemplo para as pessoas buscarem aquilo que almejam, ao invés de esperar de mão beijada”.
E por essa postura, Ana Karla recebeu nesta terça-feira (9), na Câmara de Vereadores da Serra, a comenda Nelson Mandela, uma homenagem de honra ao mérito.
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