fbpx

Dos 4.762 homicídios de mulheres, 1.583 foram cometidos pelo parceiro ou ex-parceiro

Violência contra a mulher e feminicídio, na maioria das vezes, acontece dentro da própria casa da vítima Severino Silva/Agência O Dia

Violência contra a mulher e feminicídio, na maioria das vezes, acontece dentro da própria casa da vítima
Severino Silva/Agência O Dia


Por Giorgia Cavicchioli, do R7

Estudo mais recente realizado pelo Mapa da Violência no Brasil mostra que, dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013, 1.583 foram cometidos pelo parceiro ou ex-parceiro da vítima. Isso significa 33,2% dos casos. A estatística deu base, por exemplo, à promulgação da lei do feminicídio no ano passado pela presidente Dilma Rousseff. Mulheres ainda são mortas pelo fato de serem mulheres.

O estudo elaborado pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) mostra, ainda, que 50,3% das mulheres foram mortas por um familiar. Por isso, especialistas alertam que as mulheres fiquem atentas a qualquer atitude violenta dos homens. É preciso ainda mais atenção quando a atitude parte do companheiro.

De acordo com a assistente social e professora Izabel Solyszko, não existe um padrão de comportamento nem um perfil do homem agressor. Porém, ela diz que “é possível observar elementos das suas práticas cotidianas que enunciam a falta de respeito e a falta de consideração do outro como sujeito”.

— Controle, ciúmes, agressividade, indiferença, são formas de maltrato que podem evidenciar que uma agressão física pode ocorrer. Um namorado que quer a senha do Facebook e do e-mail, quer controlar as mensagens do whatsapp, quer definir a roupa da namorada, as companhias, os lugares por onde ela vai e seus horários, que proíbe que ela trabalhe em um lugar onde seu chefe seja homem, que a proíbe de ter amigos homens, tudo isso é violência e não é necessário esperar um soco ou um tapa porque passar a vida sob esse controle já é viver uma vida sob violência.

Ela afirma que as violências psicológicas já são crime e que podem desencadear para violências físicas. A especialista afirma que “é bem difícil que um homem respeitoso e nada agressivo em sua cotidianidade do nada dê um tapa ou um soco na mulher”.

— É importante estar atenta a todos os sinais de maltrato que podem ser numerosos e diversos. Forçar a ter práticas sexuais que a mulher não quer, por exemplo, força-la a ter sexo quando ela não quer, obriga-la a ver filmes pornográficos. São tantos os exemplos…

Segundo ela, é muito difícil que a mulher perceba, no início, que está sendo vítima de uma relação abusiva, pois a sociedade cria a ideia de que “quem ama, sofre”. E, além de sofrer com a violência, a mulher também sofre sendo culpabilizada pela sociedade que diz que ela deveria ter escolhido melhor o parceiro, ou não demorado para tomar uma atitude, ou que ela “fez por merecer” alguma agressão.

A especialista diz que “todos esses argumentos são produto e processo de uma sociedade patriarcal que não nos considera sujeitos, que não reconhece a nossa humanidade, que nos considera algo de segunda categoria e, portanto, tudo isso é uma mentira”.

— A culpa da violência nunca, em hipótese alguma, é da mulher. Isso não significa que nós somos perfeitas ou legais ou boas pessoas, só significa que nenhuma pessoa deve sofrer nem ser exposta a qualquer tipo de violência.

De acordo com Izabel, a primeira coisa que uma mulher deve fazer ao ser agredida de alguma forma é “não reduzir a violência sofrida” e, em seguida, procurar ajuda. Nesse sentido, existem várias possibilidades institucionais e informais para que a mulher denuncie seu agressor.

— Ela pode ligar para a central de atendimento 180, que vai indicar o centro de referência de atendimento à mulher mais próximo da sua casa. Os centros de referência constituem-se no serviço mais adequado considerando que são especializados no tema e oferecem atendimento social, psicológico e jurídico.

Porém, a especialista diz que “são poucas cidades que contam com essa oferta”. Desta forma, “outros lugares seriam o centro de saúde mais próximo ou o centro de referência de assistência social”.

— De outro lado, se houve violência física ou sexual é importante buscar um serviço de saúde e comentar o ocorrido, realizar o exame de corpo delito e receber a orientação e o encaminhamento necessário.

Já os caminhos não institucionais seriam buscar sua rede de apoio mais próxima. Isso significa buscar pessoas em quem ela confie e se sinta segura como familiares, amigas e advogadas da família. Izabel ainda pondera que esse tipo de agressão não diz respeito a uma classe social específica e que todas nós estamos sujeitas a passar por uma relação abusiva e prejudicial.

— Muitas mulheres de classe média e alta sofrem violência doméstica, por exemplo, e não buscarão um serviço público para serem atendidas e é importante que elas saibam que também têm o direito de serem atendidas e acompanhadas. Além disso, toda mulher tem o direito de registrar um boletim de ocorrência em qualquer delegacia do País. Não é necessário que seja uma delegacia especializada no atendimento às mulheres.

Além disso, a mulher tem o direito a receber em menos de 48 horas uma resposta sobre as medidas protetivas solicitadas. Outra alternativa para a mulher vítima de abuso é buscar uma ONG feminista mais próxima.

— O que eu diria para uma mulher que tem medo de denunciar é que é seu direito fazê-lo, que não é um excesso, um exagero ou uma vingança como muitos podem dizer a ela, porque toda e qualquer violência contra a mulher é uma violação aos direitos humanos, e é um crime. Não existe violência menor ou maior pensando que sempre há danos para a saúde e para a integridade física e emocional.