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Curso de farmácia tem mais de 600 alunos e uma única sala de pesquisa.
Equipamentos de R$ 1 milhão estão encaixotados por falta de espaço.

Professores e estudantes do curso de farmácia da UnB montam laboratório imporvisado no corredor da prédio de Ciências da Saúde (Foto: Beatriz Pataro/G1)

Professores e estudantes do curso de farmácia da UnB montam laboratório imporvisado no corredor da prédio de Ciências da Saúde (Foto: Beatriz Pataro/G1)


Professores e alunos do curso de farmácia da Universidade de Brasília (UnB) improvisaram um laboratório nesta segunda-feira (23) em um dos corredores da faculdade, após terem de desocupar uma sala que usavam para pesquisa há cerca de 15 dias. O grupo protesta e pede a ampliação do espaço para estudos e pesquisas.
O ato começou pela manhã e os estudantes continuavam no local até as 15h desta segunda. O assessor da vice-reitoria da UnB Cristiano Melo afirmou ao G1 por telefone, na noite desta segunda, que uma comissão foi criada para “otimizar” a gestão das salas da Faculdade de Saúde, onde funciona o curso.
O laboratório improvisado foi feito com aparelhos como tamisador e centrífuga, utilizados para experimentos científicos. Os equipamentos foram colocados em mesas de plástico e madeira, e protegidos do sol por tendas alugadas. Faixas com frases como “barata não faz pesquisa” e “A FS [Faculdade de Saúde] precisa de estrutura” foram penduradas no local.
No início de maio, estudantes de farmácia limparam uma sala que estava inoperante “há anos” e ocuparam o local por conta própria. Imagens feitas pelos alunos mostram que o local tinha baratas, refrigeradores quebrados e agendas do ano de 1985, além de restos de material orgânico.
A organização do novo laboratório durou menos de duas semanas. De acordo com os estudantes, um professor do curso de medicina questionou a medida, dizendo que a sala pertencia ao departamento dele e não poderia ser usada pelos futuros farmacêuticos.
O argumento foi aceito pela reitoria da UnB, que teria dado prazo até esta terça (24) para a desocupação da sala segundo os alunos. Um professor que atuava no laboratório improvisado e não quis se identificar diz que a disputa também é uma “questão de ego”.
“Existem professores, alunos e cursos necessitando de espaço, com muitos equipamentos caros estragando. Muitas vezes o espaço é de uma faculdade que, mesmo não usando, não quer emprestar para a outra. É uma questão política”, afirmou.
O assessor da vice-reitoria afirmou ao G1 que a desocupação surgiu de um “entendimento” entre os cursos de medicina e farmácia. Segundo Melo, o espaço não estava abandonado e era usado por um “professor de medicina muito antigo e importante, que já foi até diretor do curso”.
A graduação de farmárcia tem turmas diurnas e noturnas. São 600 alunos de graduação, além das turmas de pós e dos grupos de pesquisa. Todos utilizam um único laboratório de pesquisa, em esquema de revezamento. Por causa do espaço restrito, as turmas não realizam todas as aulas práticas previstas no currículo da UnB.
Equipamentos que custam mais de R$ 1 milhão não têm espaço para serem instalados e ficam em caixas (Foto: Beatriz Pataro/G1)

Equipamentos que custam mais de R$ 1 milhão não têm espaço para serem instalados e ficam em caixas (Foto: Beatriz Pataro/G1)


O professor diz que a decisão da reitoria também prevê a montagem de uma comissão para discutir e remanejar os espaços. Mas, enquanto o debate não acontece, os alunos foram impedidos de continuar na sala ocupada.
“O que a gente pede é que a gente se mantenha no laboratório, até que a comissão delibere sobre o que deve ser feito, mas a reitoria ignorou esse apelo, não deu alternativa. Prefere colocar na rua”, disse.
O G1 teve acesso a uma das salas do curso de farmácia que foi transformada em depósito de equipamentos novos. As máquinas poderiam ser usadas para ensaios analíticos de medicamentos e custaram mais de R$ 1 milhão, mas nunca foram instaladas por falta de estrutura.
Segundo o assessor da vice-reitoria, a construção dos prédios foi interrompida por entraves contratuais e burocráticos. Ele disse que a UnB está trabalhando para resolver o problema, mas não informou prazo para que as obras sejam retomadas.
“Temos que esperar a área técnica soltar os editais na praça. Estamos trabalhando para que aconteça, mas não vou te dizer um prazo porque uma empresa pode contestar, outra pode intervir. Você contrata uma empresa, ela vai à falência, você faz o quê? São procedimentos públicos”, declarou Melo.
Estudante de doutorado em farmácia na UnB, Breno Matos diz que já precisou viajar para outras capitais para dar prosseguimento a pesquisas em razão dos equipamentos parados. “Tive que me deslocar até Goiânia, mais de uma vez, para fazer o experimento. A gente até comprou o equipamento que eu preciso, mas não tem lugar para instalar”, afirmou.
Ao lado da Faculdade de Saúde, há uma obra inacabada de um prédio que, segundo os professores do curso de farmácia, abrigaria laboratórios adicionais. A obra era destinada a todos os cursos da área, incluindo farmácia, medicina e veterinária, mas estaria paralisada “há anos” por falta de dinheiro.
Sala que estava fechada há anos na UnB tinha materiais antigos e restos orgânicos (Foto: Beatriz Pataro/G1)

Sala que estava fechada há anos na UnB tinha materiais antigos e restos orgânicos (Foto: Beatriz Pataro/G1)