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Discussão sobre a falta de segurança ganhou força nas redes sociais.
Jovens homossexuais apanharam em festa no campus de São Carlos (SP).

Jovem relata caso de agressão durante festa dentro da UFSCar em São Carlos (Foto: Reprodução/EPTV)

Jovem relata caso de agressão durante festa dentro da UFSCar em São Carlos (Foto: Reprodução/EPTV)

Após o episódio de agressões a homossexuais durante um evento dentro da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na madrugada de sábado (14), as discussões sobre a falta de segurança e a presença da Polícia Militar no campus ganharam força nas redes sociais. O assunto é polêmico e divide opiniões. O G1 ouviu alguns estudantes, um especialista em segurança e a PM. A reportagem também enviou alguns questionamentos à universidade, que não respondeu a perguntas pontuais.

Em nota, a Administração Superior da UFSCar informou que, após averiguação preliminar de ocorrências registradas durante festa realizada de forma irregular no campus, instalou na segunda-feira (16) uma comissão apuradora que deverá atuar em regime de urgência para que sejam identificadas as responsabilidades pela realização do evento e aplicadas as penalidades previstas no Regimento Geral da UFSCar. As penalidades vão de advertência oral ou escrita à suspensão dos  benefícios e auxílios concedidos pela UFSCar (o regimento está disponível para consulta pública).

A universidade informou ainda que, considerando o descumprimento de acordo firmado entre representantes das entidades estudantis e o Conselho Universitário em dezembro de 2015, que previa a suspensão das festas, a Reitoria ressalta que está “terminantemente suspensa a realização desses eventos festivos nas dependências da universidade e informa que não se furtará a tomar todas as medidas cabíveis no exercício de suas responsabilidades de proteção a todas as pessoas que circulam no campus, bem como ao patrimônio público nele alocado”.

O caso
Na madrugada de sábado, durante uma festa no palquinho, alguns alunos foram agredidos e outros tiveram o celular roubado por jovens que não fazem parte da universidade. Os suspeitos também estariam no local para vender drogas, segundo os relatos postados pelos estudantes no Facebook.

Um rapaz de 25 anos, que preferiu não se identificar, contou ao G1 que estava com o namorado, estudante da universidade, e outros dois amigos, quando todos foram espancados por um grupo de aproximadamente 15 jovens. “O sentimento é de impotência. Estamos amedrontados e indignados pelos momentos de horror que vivemos”, relatou.

Jovem sofreu ferimentos no braço e na boca após agressão no último fim de semana (Foto: VC no G1

Jovem sofreu ferimentos no braço e na boca após
agressão no último fim de semana (Foto: VC no G1

Falta de segurança no campus
As agressões repercutiram nos últimos dias e alunos usaram as redes socais para debater a falta de segurança no campus. Recentemente, o G1 publicou uma reportagem sobre tentativas de estuprotanto na região da UFSCar quanto nas proximidades da Universidade de São Paulo (USP). A presença da PM dentro do campus é um tema que gera discussões.

O estudante de engenharia da computação Thomas Kepple Borba disse que é contra a atuação da polícia no campus. “A PM de São Paulo é uma das polícias mais violentas do mundo. Infelizmente, tenho a impressão de que muitos do policiais aqui não recebem treinamento adequado e, assim, temos tantos casos de força excessiva e abuso de autoridade. Gostaria que a universidade pudesse formar uma polícia comunitária própria, com treinamento adequado para atuar no campus”, disse.

Para Borba, a reitoria tem que montar um canal de diálogo com os alunos e estudar possibilidades de melhoria na segurança. “Não posso negar que os casos de furto e violência no campus estão aumentando de forma assustadora”, ressaltou.

Oswaldo Siqueira de Souza contou que namorado foi uma das vítimas (Foto: Reprodução/Facebook)

Oswaldo Siqueira de Souza contou que namorado
foi uma das vítimas (Foto: Reprodução/Facebook)

Já o estudante de pós-graduação em química William Leonel diz ser a favor da atuação da PM no campus. “Não conheço medidas mais efetivas para sanar os casos de violência e insegurança no campus, principalmente para os que vivem dentro dele. No entanto, tudo pode ser feito de uma maneira mais inteligente. Eu me recordo de propostas de uma polícia diferenciada nos campi das universidades, policiais mais jovens, com treinamento especial e sem o porte de arma de fogo, lembrando o modelo japonês de polícia. Deste modo, a alocação inicial da polícia com os estudantes seria mais fácil e com certeza com maior aceitação”, disse.

Para Eduardo Gazziro, aluno do curso de matemática, é preciso fazer uma junção de ideias para melhorar a segurança no local. “Mudar a cabeça de algumas pessoas que não se preocupam com os demais alunos, uma mudança naqueles guardas que estão dentro da UFSCar, como uma melhor preparação”.

O estudante de gestão e análise ambiental Jorge Pedro Azevedo concorda e diz que não acha necessária a presença da PM se o campus disponibilizar uma segurança eficaz. “Creio que uma das soluções seria aumentar o número de guardas na universidade durante o dia, talvez a instalação de câmeras por todo o campus também. Já durante a noite uma vigilância eficiente e um controle realmente efetivo da entrada, permitindo só estudantes”, disse.

Especialista diz que falta segurança no campus da UFSCar em São Carlos (Foto: Reprodução/EPTV)

Especialista diz que falta segurança no campus da
UFSCar em São Carlos (Foto: Reprodução/EPTV)

Segurança patrimonial
Fernando Moreira, especialista em segurança e pesquisador da UFSCar, ressalta que a vigilância na universidade é carente. “É totalmente aquém do minimamente necessário. O pessoal que tem lá dentro visa somente à segurança patrimonial, não à segurança das pessoas, que é o mais importante”, ressaltou.

O especialista defende a atuação da PM, mesmo que do lado de fora da instituição. A universidade tem que se adaptar aos novos tempos. Hoje, não dá para ficar em cima do muro: ou é bandido, ou é pessoa de bem. Não pode ser contra a polícia porque a polícia é a última defesa da pessoa de bem contra o bandido. Eu acho que uma ronda, mesmo que do lado de fora, já inibiria ações”, ressaltou.

Por fim, o especialista diz que o investimento em mecanismos mais efetivos de controle de ingresso no campus, instalação de câmeras e treinamento adequado de uma equipe devidamente equipada já seria o suficiente para assegurar o local. Ainda assim, ele diz ser contra a realização de festas no campus. “A universidade não é um parque de diversão, é um ambiente acadêmico. Para mim, não é um lugar para fazer festa. Porque as pessoas sabem que não tem vigilância e acaba se tornando um lugar de tráfico de entorpecentes brutal”.

Advogada ressalta a importância de registrar o boletim de ocorrência (Foto: Reprodução/EPTV)

Advogada ressalta a importância de registrar o
boletim de ocorrência (Foto: Reprodução/EPTV)

Registo de B.O. e rondas
A PM informou que cabe à polícia do Estado de São Paulo a preservação da vida, da integridade física e da dignidade da pessoa humana. “Tendo em vista a UFSCar ter uma guarda interna, cabe a essa guarda a segurança das dependências, cabendo à PM e ao 38º BPM o patrulhamento na área externa do campus, englobando assim as portarias, o que é feito através das viaturas”.

A PM ressaltou ainda que conversa com a Reitoria da UFSCar para “traçar ações voltadas às suas dependências, no que diz respeito à segurança dos alunos e funcionários”. Ainda segundo a PM, se ocorre um crime e alguém se omite, é prevaricação. É dever, portanto, diante de qualquer situação criminosa, comunicar o fato via 190 para que a PM vá ao local.

A advogada Fernanda Martins Vargues explica que é fundamental que as vítimas de crimes registrem o boletim de ocorrência, o que auxilia o trabalho da polícia. “É importante também para avançarmos nas ações de combate e para termos os números corretos de quanto essa violência acontece”, disse.