A principal escola privada de administração do país, a FGV-SP (Fundação Getulio Vargas), vai eliminar aos poucos seu exame vestibular próprio a partir do ano que vem. A seleção será feita prioritariamente pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
A ideia é que os alunos de administração pública e metade dos de administração (de empresas) sejam selecionados a partir de nota no Enem. O processo vai incluir também uma entrevista com os melhores colocados no exame, na qual serão avaliadas algumas competências para além dos conhecimentos curriculares. Inspiração para fazer o curso, por exemplo.
A FGV-SP é a primeira escola privada “de elite” que começa oficialmente a substituir seu vestibular pelo Enem. O exame já tem sido usado como processo seletivo de universidades públicas via SISU (Sistema de Seleção Unificada) desde 2012. A USP –melhor universidade do país–, por exemplo,adotou o sistema desde seu último vestibular, com 13,5% das vagas para o Enem.
Desde 2014, a fundação reserva vagas para o exame: eram 15 das 200 vagas no curso de administração, por exemplo. Os alunos podiam escolher fazer o vestibular tradicional ou o Enem com vagas reservadas. A iniciativa foi seguida pela também escola privada de elite Insper, que reservou vagas para o Enem em administração, economia e engenharia.
De acordo com o diretor da FGV-SP, Luiz Artur Ledur Brito, a proposta da seleção, agora, usando principalmente o Enem visa aumentar a quantidade de estudantes vindos de fora de São Paulo. “O Enem é um exame nacional. Isso significa que podemos captar bons alunos em todo o país”, diz Brito.
“Queremos deixar de ser uma escola de paulistanos”, afirma. Hoje, cerca de 20% dos alunos da escola vêm de fora da cidade. Para o físico da Unicamp Leandro Tessler, que coordenou o vestibular na época em que as ações afirmativas foram introduzidas na universidade para aumentar a sua diversidade racial e social, em 2005, “o movimento da FGV é muito positivo”. “Vai na direção do que fazem boas instituições de ensino superior fora do Brasil”, diz.
A iniciativa, no entanto, pode não ser suficiente para conseguir alunos de escolas públicas. “Algumas questões do Enem, especialmente em humanidades, mas também em ciências duras, são muito mal formuladas, e acabam favorecendo muito o pessoal das escolas privadas.”
MAIS NEGROS
O movimento de atrair mais alunos pelo país está casado com outra tentativa recente da FGV, de diversificar o perfil racial e social dos alunos. Isso é inspirado em escolas de ponta, que privilegiam a formação de turmas com alunos mais heterogêneos.
A mudança da FGV-SP vem acontecendo com a ajuda de um cursinho gratuito conduzido pelos alunos –que agora deve se transformar em um preparatório para o Enem– e com bolsas que cobrem ou financiam a mensalidade de R$ 3.700,00.
Sem cotas ou bônus, a escola teve recorde de três alunos negros em uma turma de administração pública no ano passado –o que equivale a 6% do grupo. Em comparação, a carreira “economia, administração e contábeis” da USP teve, no mesmo ano, 3,2% alunos declarados “pretos”.
A mesma turma da FGV-SP teve também o recorde de 14 alunos bolsistas de baixa renda. Alguns, egressos de escolas públicas, moram na periferia de São Paulo. “Estamos mudando bastante o perfil do estudante da escola”, explica Marco Antonio Carvalho Teixeira, vice-coordenador do curso de administração pública.
A FGV-SP também reserva cinco vagas em administração para estudantes estrangeiros desde o ano passado. Nesse caso, quem vem de fora passa por um processo seletivo diferenciado. Esses alunos podem assistir aulas em português ou em inglês. Desde o ano passado, a escola ostenta a primeira turma de administração de empresas ministrada totalmente em inglês –para brasileiros e estrangeiros.
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