Por Ernesto Braga – Hoje em Dia
Por duas vezes, Mellanie, de 13 anos, e Waleska, de 14, ambas do 9º ano do ensino fundamental de uma das escolas estaduais mais tradicionais de BH, testemunharam uma colega de sala ser agredida.
Outro estudante, de 15 anos, que não quis revelar o nome, afirma que são comuns os atritos entre adolescentes matriculados na mesma instituição de ensino, localizada no bairro Santa Efigênia (região Leste). “Sempre vejo ameaças e brigas”, diz.
Cenas como essas são frequentes dentro e fora de escolas públicas de BH. Em pesquisa da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em parceria com o MEC e a Organização dos Estados Interamericanos (OEI), oito entre dez alunos da capital mineira afirmaram ter presenciado algum tipo de violência no ambiente escolar, de janeiro a novembro de 2015.
Foram ouvidos estudantes de outras seis capitais. De dez quesitos, os percentuais registrados em BH foram superiores à média nacional em seis (veja arte).
Quando questionados se já cometeram algum tipo de violência na escola, 20% dos alunos de BH acenaram positivamente. Eles aparecem no topo da lista, ao lado dos de São Luís. A média nacional foi de 15%.
Segundo o “Diagnóstico participativo das violências nas escolas: falam os jovens”, das ocorrências mais presenciadas pelos alunos, brigas e agressões físicas são maioria dentro dos muros dos colégios (13,8%), a maior parte nos pátios (31,1%) e salas de aula (23,5%).
Em Belém, apenas 10% dos alunos apontaram algum tipo de violência no ambiente escolar; segundo a socióloga Miriam Abramovay, “ou eles não entenderam a pesquisa ou quiseram proteger suas escolas”
Problema disseminado
Segundo a socióloga Miriam Abramovay, doutora em educação e pesquisadora da área de Estudos sobre Juventude e Políticas Públicas da Flacso, 13 escolas estaduais e seis municipais de BH foram sorteadas para que os alunos respondessem o questionário.
São instituições de oito regionais (exceto a Nordeste), mostrando que a violência está disseminada.
“Todas as escolas têm problemas dentro e em seu entorno, e a proposta foi obter uma visão geral de BH. O clima desfavorável influencia no desempenho do estudante, progredindo para o desinteresse e para um quadro mais amplo de violência”, avalia Miriam.
Cristiano Leal, gerente de Processamento do Benefício e Apoio Administrativo da Secretaria de Educação de Belo Horizonte, afirmou que houve redução da violência na rede municipal em 2014, em comparação com 2013.
Todavia, ele admite que os números de 2015, da pesquisa nacional, são preocupantes. “Nos mostra que precisamos dar continuidade aos programas preventivos”.
Leal cita como carro-chefe a Escola Integral. “Esse programa mantém o aluno mais tempo na escola, com oficinas de teatro, capoeira, jogos e dança, além de atividades em outros espaços da cidade”.
“Mais do que apontar dados, a proposta foi permitir que os jovens fossem pesquisadores da sua própria realidade”
Miriam Abramovay, socióloga e pesquisadora da Flacso
Meta é obter diagnóstico em outros municípios mineiros
Parceira do MEC no “Diagnóstico participativo das violências nas escolas: falam os jovens”, a Flacso quer expandir a pesquisa com os estudantes mineiros. A proposta é dar voz a alunos do interior.
“Estamos conversando com a Secretaria de Estado de Educação para levarmos a pesquisa a outros municípios de Minas. Também queremos dar curso de formação (no tema violência nas escolas) para mil professores em Belo Horizonte”, afirma a socióloga Miriam Abramovay, pesquisadora da Flacso.
As escolas e respectivos municípios ainda serão definidos. A proposta, segundo a especialista, é que a pesquisa seja feita no interior neste ano.
Segundo Miriam Abramovay, BH entrou na lista da pesquisa nacional por interesse dos gestores públicos da educação. “Foram avaliadas capitais com alto índice de homicídios entre jovens e que se mostraram interessadas”, explica.
Cenário geral
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) destacou que “a violência em nossa sociedade é um fenômeno de múltiplas causas e que os espaços escolares estão sujeitos a reproduzir esse cenário geral”.
Para combater o problema, a SEE executa o Programa de Convivência Democrática no Ambiente Escolar, “com concepções de educação em direitos humanos e da formação integral dos estudantes”.
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